Record (Portugal)

Rui Vitória é de novo uma besta

COMO COMPREENDE­R QUE UMA ESTRUTURA TÃO PROFISSION­AL TENHA PERMITIDO O REGRESSO À LUZ DO PESADELO DE MORETTO?

- Alexandre Pais Ex-Diretor Record

Longe de prever que viriam aí duas derrotas, referi aqui há uma semana o estranho modo como o Benfica resolveu, ou não resolveu, as lacunas criadas na baliza e no centro da defesa pela partida de Ederson e Lindelöf. Hoje, o resultado da ligeireza com que se julgou ter esses problemas resolvidos está à vista de todos, incluindo à daqueles que enfrentam sempre as crises das suas equipas em estado de negação.

Não vou voltar uns anos atrás, aos tempos em que a intolerânc­ia generaliza­da garantia que Rui Vitória – porque é o treinador o eterno culpado das falhas próprias e das asneiras dos outros – não era técnico para o Benfica. Escrevi-o e não repetirei o erro, até porque se dissiparam entretanto as dúvidas so- bre os méritos de Vitória, que depressa deixou de ser besta para passar a bestial, situação de que desfrutava ainda há 15 dias. Estou seguro de que ele será de novo capaz de ultrapassa­r a tempestade.

Como apontei na última crónica, Bruno Varela podia não estar ainda preparado para jogar a este nível –e a sua exibição no Bessa confirmou-o. Sobre as limitações físicas de Júlio César, que vai agora atuar na Taça da Liga, o passado recente fala por si e o futuro próximo depressa fará o mesmo. Isso quer dizer que se anuncia a estreia de Svilar, o talento belga de 18 anos que dificilmen­te terá condições para ‘pegar de estaca’ na equipa principal. E aí teremos Rui Vitória enredado num problema grave, gravíssimo, insolúvel até janeiro e que faz regressar à Luz o pesadelo de Moretto. Como se compreende que uma estrutura tão profission­al e com provas dadas tenha caído numa armadilha tão evidente? Mas a crise dos encarnados, se passa muito pela intranquil­idade que emana da baliza, onde um guardarede­s com potencial é imolado, não é também alheia à má forma de Pizzi –e a boa não regressará por certo com Filipe Augusto ao lado.

Fecho esta dissertaçã­o sobre o momento benfiquist­a vestindo uma camisola que não é a minha para manifestar tristeza pela saída de Nuno Gomes, referência do futebol e do emblema da águia, a quem daqui saúdo com admiração. Em simultâneo, espero que não se confirme a entrada de um mercenário intriguist­a conhecido pela porcaria que espalhou em todos os clubes que lhe deram guarida.

O parágrafo final é hoje dirigido à decisão da Liga de marcar jogos para 1 de outubro, dia das eleições autárquica­s. Discordo de quem defende que o Governo deve impedir por decreto a repetição da situação e sou contra a obrigatori­edade do voto. A ida às urnas é um ato de cidadania, pelo que ou aprofundam­os essa cidadania ou a abstenção será cada vez maior. Mas lamento que na Liga não houvesse o bom senso de evitar que uma normal marcação de jogos, para mais num calendário apertado, surgisse como um gesto deliberado de prejudicar a base do regime democrátic­o – que é o poder da escolha popular.

DAQUI SAÚDO NUNO GOMES, REFERÊNCIA DO BENFICA E DO FUTEBOL PORTUGUÊS

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal