Quanto tempo Vieira vai segurar Rui Vitória?
O QUE ACONTECEU EM BASILEIA NÃO PODE NEM DEVE SER IGNORADO. FICARAM À VISTA DEMASIADAS INCONGRUÊNCIAS. A EQUIPA A AFUNDAR-SE E O TREINADOR A IR AO FUNDO, TAMBÉM
Apergunta que constitui o título deste artigo já anda na cabeça e na boca de muitos adeptos do Benfica.
Um dos aspectos que o recente trabalho da revista‘ F rance Football’ aponta para justificar o diagnóstico de “um futebol (português) em declínio” tem a ver, também, com o facto de a nossa Liga estar muito concentrada no número de vitórias dos chamados ‘três grandes’. Temos, cronicamente, um campeonato macrocéfalo e isso resulta –outro dos aspectos citados nesse artigo –com os ‘desequilíbrios gritantes’ na distribuição dos direitos televisivos. Estamos fartos de saber.
Benfica, FC Portoe Sporting perdem muito poucas vezes no campeonato português e quando isso acontece é rápida a instalação do cenário de crise.
Esta época, como já havia acontecido em 2015/16, o Benfica–cuja responsabilidade aumentou a partir do momento em que recuperou a hegemonia ao FC Porto, com a conquista de quatro campeonatos consecutivos –começou mal. Melhor dizendo, nem começou mal (quatro vitórias consecutivas, a primeira das quais na Supertaça), mas seguiu-se-lhes um ciclo de apenas dois triunfos nos últimos sete jogos. Seria uma coisa ‘normal’, se tivéssemos uma Liga que gerasse mecanismos para haver mais equilíbrio (e aqui as palavras de Manuel Machado fazem todo o sentido…), mas não temos e, quando um dos crónicos candidatos ao título escorrega mais do que é suposto, parece que uma parte do país entra em ‘estado de choque’.
O exemplo de 2015/16, como Benfica a recuperar deumco meço titubeante,éain da a esperançados benfiquistas, mas os sinais de menor força colectiva exibidos em Vila do Conde (ou mesmo antes, em Chaves), aliados à forma como a ‘estrutura’ não respondeu às saídas de jogadores nucleares como Ederson, Nélson Semedo, Lindelöf e Mitroglou, estão a causar incómodo entre os tetracampeões nacionais. Ser ‘penta’ é uma oportunidade histórica que, entre as hostes encarnadas, custa muito ver desperdiçada.
Recordamos que, há duas temporadas, a ‘nave benfiquista’ também parecia na iminência de se desmantelar, num cenário tornado temporariamente mais gravoso com o registo de três derro tas em três competições diferentes perante o Sporting, e foi o triunfo em Braga, à passagem do 18.º encontro oficial dessa época, que colocou de novo a águia na trajectória dos seus voos mais gloriosos.
O Benfica vai realizar, amanhã, o seu 12.º encontro oficial da temporada e este jogo na Madeira, com o Marítimo, tem características muito similares àquele jogo em Braga, agravado com o facto de os encarnados terem acabado de encaixar uma das maiores goleadas europeias da sua história, o que torna menos optimista o cenário de recuperação. Perder por 5-0 frente ao Basileia não é algo que se possa atribuir a má fortuna ou a uma noite menos inspirada…
É também por tudo isto que muitos colocam a pergunta: quanto mais tempo Luís Filipe Vieira vai segurar Rui Vitória? Tem o treinador do Benfica efectivas responsabilidades naquilo que aconteceu na Suíça e neste frouxo começo de época?
É claroquetem, masRuiVitóriaé omenosculpado. Tentando explicar:
1. Jorge Jesus foi ‘despachado’ num processo que foi o ‘grito de Ipiranga’ da ‘estrutura’.
2. A‘estrutura’ já não concebia a existência de um treinador de exigências várias.
3. A‘estrutura’ pretendia cobrar os créditos dos títulos que viram sendo atribuídos, em primeiro lugar, aos méritos de Jorge Jesus.
4. Luís Filipe Vieira e a ‘estrutura’ definiram o perfil do treinador ‘pós-Jesus’: totalmente alinhado com o ideário programático e, portanto, passivo perante as lacunas, eventualmente, detectadas.
OBenficatem, pois, otreinador queescolheu. O treinador mais conveniente à consolidação do poder da ‘estrutura’ e do seu presidente. Um treinador a quem não se ouve um ensaio de crítica em relação a uma certa passividade da SAD na preparação desta época. O treinador-espectador. O treinador que evita sempre responder a questões um pouco mais delicadas. Tudo em nome do grupo. Tudo em nome da discussão interna. Tudo em nome de uma paz que, nestas circunstâncias, é sempre muito relativa.
A própria‘ estrutura’ já sofreu alterações( Lourenço Coelho/ Tiago Pinto; Nuno Gomes/Pedro MilHomens, continuando a gestão do papel de Rui Costa a levantar muitas dúvidas e alguma polémica) e, em termos de análise, é importante não perder de vista que essa mesma ‘estrutura’ (da qual fazem parte Luís F. Vieira, Domingos Soares de Oliveira e Paulo Gonçalves, os seus principais pilares) está acossada pelas revelações feitas pelo FC Porto, no ‘caso dos emails’.
Quer dizer: o Benfica nunca esteve tão exposto como agora. Não ter dado resposta convincente às saídas de Ederson, Semedo, Lindelöfe Mitroglou tornou o Benfica mais vulnerável e, por isso, Rui Vitóriaéomen os culpado. A‘estrutura’ é chamada a respondera os chamamentos externos e aos apelos internos. É um grande desafio. Quanto tempo Rui Vitória vai resistir?