“Era bom todos terem a visão de Fernando Gomes”
Responsabiliza diretamente os principais clubes pelo ambiente de conflito permanente no futebol português?
AS – Toda a gente sabe que é assim. Vocês, comunicação social, também o sabem. Mas se calhar até convémque sejaassim. O Sp. Braga está farto da vassalagem que todas as instituições do futebol português prestam a três clubes. E por isso é hora de decidirmos se queremos competições a três com mais uns quantos figurantes ou se queremos competições a sério, que respeitem por igual todos os clubes e que não estejam inclinadas por natureza. É isto que está em causa. Quando houver coragem no futebol português, o nosso campeonato será muito melhor. Bastaé de hipocrisia.
Concorda com a forma como Fernando Gomes colocou o dedo na ferida no Parlamento?
AS – Concordo. O presidente Fernando Gomes é um dirigente à frente do seu tempo. Percebe a responsabilidade do cargo que desempenha. Seria muito fácil, para ele, ficar à sombra da bananeira dos resultados das Seleções e andar a vender, entre aspas, o seu modelo de gestão a nível internacional. Mas o presidente Fernando Gomes está verdadeiramente preocupado como futebol que teremos no futuro, porque sente que, tal como estamos, não haverá futuro. Era bom que todos os dirigentes tivessem a sua coragem e a sua visão.
Pode dizer-se que a sua intervenção caiu em saco roto?
AS – Eu acredito que, daqui a uns anos, estaremos todos a dizer que o presidente Fernando Gomes teve razão antes do tempo. Se bem o conheço, não o vejo deixar cair este tema em saco roto.
Quem deve definir uma regulamentação que penalize quem entre no que qualificou como “onda de crispação”?
AS – Ninguém se pode demitir de responsabilidades. No limite, eu acho que até o Governo deve meter mão nisto. Estamos a falar de um sector de atividade que movimenta muito dinheiro e que tem uma grande força mediática. O que se
“A REFLEXÃO E A ATUAÇÃO DEVEM ENVOLVER TODAS AS ENTIDADES. O GOVERNO NÃO SE PODE COLOCAR À MARGEM”
tem passado causa danos ao país. Ummurro namesacomo o que deu contribui para o clima tenso ouos dirigentes estão obrigados a um voto de silêncio?
AS - Quem não estiver preparado para ser avaliado está a mais. Concordo que há demasiado ruído no futebol português, mas quem for sério sabe identificar perfeitamente a origem desse ruído e percebe que ele vem sempre dos mesmos e sempre com a intenção de favorecer os mesmos. O Sp. Braga manifestou-se porque, como eu disse, tinha de dar conta da sua apreensão e tinha de apresentar as suas questões. Infelizmente, os vários responsáveis sacudiram, como é costume, a água do capote e não tiveram a coragem de contribuir para um futebol mais transparente. Desperdiçaram uma excelente oportunidade, porque as nossas perguntas foram honestas e se as respostas também o fossem, de certeza que teriam sido dadas.
O Governo deve continuar a assistir a este estado de coisas sem ter intervenção?
AS – Como lhes disse, entendo que a reflexão e a atuação deve envolver todas as entidades. O Governo não se pode colocar à margem. Se for preciso, e eu acho que é preciso, o Governo tem de atuar.
Amorte de um adepto italiano do Sporting, perto da Luz, foi devidamente entendida como um sinal de alerta?
AS - Acha que foi? Mudou alguma coisa?Quemnosgarantequehojeou amanhã não se repita e se calhar até dentro de umestádio de futebol? *