Record (Portugal)

Talvez para refletir

- Vítor Baía

UM PAÍS CAMPEÃO DA EUROPA NÃO DEVIA TER OS PRINCIPAIS CLUBES DE COSTAS VOLTADAS CONHEÇO MUITOS CASOS EM QUE PESSOAS ENVOLVIDAS NO FUTEBOL AJUDAM O PRÓXIMO SEM ESTAR À ESPERA DE RECONHECIM­ENTO. NÃO SEJAM INJUSTOS COM O FUTEBOL

Portugal juntou-se para mais um gesto de solidaried­ade, mas desta vez tendo como pano de fundo um jogo de futebol, no caso, entre a Seleção principal e a Arábia Saudita, uma da equipas que também vai estar no Mundial da Rússia. A receita do jogo reverteu a favor das vítimas dos incêndios numa zona particular­mente afetada, Viseu, neste verão quente e macabro e que se prolongou até outubro. É o futebol no seu lado altruísta, numa ação pública, apreciável, que deve encher de orgulho quem a organizou, mas que é apenas um pequeno exemplo de como o futebol e os que nele estão de alguma forma envolvidos são capazes de ajudar, de dizer que sim quando é necessário ajudar. Tenho muitos exemplos de gente do futebol que tem uma face altruísta desconheci­da, por opção, porque esse deve ser o caminho, ajudar sem estar à espera de qualquer tipo de retribuiçã­o Felizmente, caros leitores, o futebol está cheio de exemplos e eu conheço muitos. Até por isso são muitas vezes injustos com o futebol e com os futebolist­as.

Há outras formas de serem injustos com o futebol. O que se passa atualmente, ao nível das críticas, particular­mente à arbitragem, não é uma forma de fazer bem ao futebol. Entrou em ebulição aquilo que devia ser uma ação tranquila, a intro- dução do VAR gerou naturalmen­te polémica, primeiro por ser uma novidade e, como todas as novidades, demora a impor-se e há sempre quem lhe encontre defeito; depois é dirigido por homens, que têm direito ao erro, por mais fidedignas que sejam as imagens. Não quero entrar por este tipo de discussão, não quero ser mais um, quero apenas que haja alguma coerência e menos agressivid­ade na hora de criticar um lance que foi mal analisado ou mal arbitrado.

Sei que é pedir muito, porque estamos numa época de tudo ou nada para os habituais candidatos ao título; o Benfica luta desesperad­amente por algo que nunca conseguiu, o penta; o FC Porto, máquina de vencer nos últimos anos, está há quatro sem conquistas, e o Sporting é uma promessa continuame­nte adiada há 15 anos. São tudo factos que explicam alguma desorienta­ção e incongruên­cias na hora de fazer as críticas e principalm­ente quando as jornadas não saem bem a qualquer um deles. Mas com esta confusão toda o futebol português não ganha muito prestígio; esbarra frontalmen­te com o prestígio que a Seleção Nacional tem, e cada vez mais, no estrangeir­o. Um país campeão da Europa devia dar lições de tranquilid­ade entre os seus mais importante­s clubes, porque no fundo, seja por jogadores que passaram por lá, seja por outros que os representa­m, os clubes é que fazem a Seleção. E há aqui uma incongruên­cia que não agrada, principalm­ente aos jogadores...

Tentem pensar nisto.

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