Record (Portugal)

ANTÓNIO SALVADOR IMPLACÁVEL

“Estamos fartos da vassalagem que todos prestam a três clubes” “É triste o Sporting des cer t ão baixo”

- JORGE BARBOSA E VÍTOR PINTO

“Postura do CA é de quero, posso e mando” “Mudou alguma coisa depois da morte de um adepto do Sporting perto da Luz?” “Diretores de comunicaçã­o são parasitas dos media”

Passado algum tempo, já consegue encontrar uma justificaç­ão para o que se passou no relvado de Alvalade?

ANTÓNIO SALVADOR – Alguém consegue? Alguém fez esse esforço? O Sp. Braga lançou questões muito diretas, mas os responsáve­is ou se calaram ou desconvers­aram. Desculpem, mas não é assim que o nosso futebol vai evoluir. Vocês acham aceitável, por exemplo, que todo o país veja um golo que é limpo, que quem está no VAR a ajudar o árbitro a decidir bem também veja que o golo é limpo, mas o jogo segue com 0-0? Isto admite-se em 2017? Algo falhou e falhou de forma evidente. Não acha que alguém devia dizer porque é que falhou e garantir que não vai voltar a falhar? Admite-se este silêncio?

Decidiu assumir a revolta de viva voz para proteger o grupo? AS – Estarei sempre na linha da frente a defender o grupo, mas o grupo não precisa de ser defendido, porque toda a gente viu que merecemos vencer em Alvalade. Quem joga com a qualidade e com a garra comque nós jogamos não precisa de ser defendido.

Sente que errou ao não tomar posição sobre a nomeação de Carlos Xistra antes do jogo?

AS – Não. É uma questão de princípio. O Sp. Braga não comenta nomeações antes dos jogos. Os árbitros precisam de serenidade e tranquilid­ade para fazerem o seu trabalho. A nossa luta não é contra o Carlos Xistra nem contra os árbitros, disse e repito que temos bons árbitros em Portugal. Aliás, infelizmen­te nós temos tido arbitragen­s fraquíssim­as na Liga Europa e o que sentimos é que a UEFA respeita e valoriza o árbitro português e é isso que lhes permite ter um rendimento superior na Europa do que têm cá dentro.

Pediu o áudio do diálogo entre Xistra e Rui Costa nos lances críticos mas acreditaqu­e, porcasos anteriores, obterá algum resultado? AS – Já se percebeu que não. A postura do Conselho de Arbitragem é de quero, posso e mando, por isso os áudios que vão ser divulgados são aqueles em que o VAR aparece bonito e bem apresentad­o. É o VAR no País das Maravilhas.

Aseu ver, houve intenção clara em beneficiar o Sporting?

AS – Não me ouvirá dizer isso. E lamento que o nível da discussão seja esse. Vamos lá a ver: houve erros. Muitos. Claros. Queremos perceber porque se errou para que não se volte a errar. E achamos que as nomeações não protegeram nem o árbitro nem o VAR. E quando as pessoas estão mais expostas, o erro surge mais facilmente.

Está descontent­e com o funcioname­nto do VAR?

AS – O Sp. Braga foi dos primeiros clubes a mostrar o seu apoio. Passa- dos todos estes meses, mantemos cada palavra. O Sp. Braga quer o VAR. A ferramenta é útil, mas é operada por homens. O que queremos é que os homens estejam cada vez mais preparados para a usar. Acho que o VAR não devia ser desempenha­do por árbitros no ativo, mas por uma elite de ex-árbitros, e temos muitos com qualidade. Estou convencido de que era a melhor solução e acho que se deve discutir isto. Esta confusão de papéis, ora sou eu o árbitro e tu o VAR, ora és tu o VAR e eu o árbitro, não é boa para a eficácia do vídeo-árbitro.

Também acreditou, no início

“ACHO QUE O VAR NÃO DEVIA SER DESEMPENHA­DO POR ÁRBITROS NO ATIVO, MAS POR UMA ELITE DE EX-ÁRBITROS. E TEMOS MUITOS”

da época, que graças ao VAR, polémicas como esta no Sporting-Sp. Braga não se iriam repetir?

AS – Lances como o do Fransérgio são inadmissív­eis. Há algum problema em dizer isto com estas palavras? Porque é que o Sr. Fontelas Gomes não o diz? Porque é que o Sr. Luciano Gonçalves não o diz? Porque é que o árbitro não foi ver as imagens da falta do Doumbia sobre o Ricardo Ferreira? O VAR não lhe disse que havia ali uma falta? Estas perguntas não podem ficar no ar.

Entende que a Liga e a FPF se precipitar­am ao garantirem a continuida­de do VARem 2018/19? AS – Não. Estou com a Liga e a FPF nessa decisão. A 100 por cento.

Acha que os clubes deveriam ter sido especifica­mente ouvidos na Liga a este propósito?

AS – Estou convencido de que há consenso absoluto quanto a isso.

Como reage quando ouve Pedro Proença dizer que o VAR já é “um projeto de sucesso”?

AS – Sinto que temos de ter a coragem de dizer que é preciso fazer mais e melhor. A ferramenta é boa, tem de ser mais bem aplicada e operaciona­lizada. Entendo que a Liga pode, e deve, ter um papel importante aqui. Olhem, desde logo ao exigir, e era funda- mental que isto avançasse já, que todos os estádios tivessem exatamente o mesmo número de câmaras. Tem de haver igualdade, não pode haver transmissõ­es preparadas para cobrir linhas de baliza e fora-de-jogo e outras não. Quem avalia não pode ter mais meios de análises nuns jogos do que noutros. Isto é inclinar a competição. É papel da Liga combater isto. A Liga tem de ser exigente neste ponto.

O quadro de árbitros está desajustad­o face ao maior número de nomeações imposto pela utilização das imagens?

AS – Percebo a pergunta e mais uma vez lhes digo que a solução podia estar em criar uma elite de ex-árbitros para assumir a função de VAR.

A elite dos árbitros em atividade não garante o nível de excelência necessário para tantos jogos e tantas funções.

Aceita que o seu clube está aser vítima de uma guerra com a qual nada tem a ver?

AS – Isso é inaceitáve­l. Mas todos sabemos que há emPortugal uma vassalagem­atrês clubes. Não é de agora, temdécadas. O sistema é esse e o sistema é um poder instituído que é obediente perante três clubes e é tirano perante os outros.

O Sp. Braga vai passar a ser mais interventi­vo em tudo o que diga respeito à arbitragem?

AS – Não atacamos um sector em particular. Entendemos até que o problema não está na arbitragem, mas no que rodeia a arbitragem e a impede de ter um melhor rendimento. O nosso ataque é às estruturas do futebol português que querem que isto continue como sempre foi, entregue a três clubes, ora mandas tu, ora mando eu. É isso que tem de acabar.

Como acumularde polémicas, a credibilid­ade do campeonato pode sercolocad­anovamente­emcausa? AS – Se as pessoas continuare­m a assobiar para o lado e a chutar responsabi­lidades, é isso que vai acontecer. Mas ainda vamos a tempo…

Oquepode fazero Sp. Braga? AS – Aquilo que estamos a fazer e vamos continuar a fazer. Expor problemas e lançar perguntas. Pedir coragem. Este é um tempo em que é necessária coragem. Eu diria até que é preciso uma revolução e as revoluções só se fazem com coragem. Os adeptos do Sp. Braga têm essa coragem e por isso contamos com eles, mas acredito que vamos contar também com muitos adeptos de muitos clubes, porque o verdadeiro adepto do futebol em Portugal não se revê naquilo que temos atualmente. Se o Sp. Braga tiver de fazer este caminho sozinho, vai fazê-lo, contra quem for. Mas não tenho dúvidas de que os outros 14 clubes e os seus adeptos também sentem que este modelo está esgotado e que querem uma regeneraçã­o de todo o futebol. Chega de injustiça e de discri

minação. *

“É NECESSÁRIA UMA REVOLUÇÃO. OS OUTROS 14 CLUBES E OS SEUS ADEPTOS TAMBÉM SENTEM QUE ESTE MODELO ESTÁ ESGOTADO”

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“Perguntem ao Jesus o que achou das insinuaçõe­s feitas aos nossos jogadores”
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