Record (Portugal)

Battaglia e o caos

HÁ NA ESFERA DOS PODERES DO ESTADO UMA SUBSERVIÊN­CIA QUE REPUTO DE VERGONHOSA PERANTE UM EMBLEMA QUE NÃO PODE ESTAR ACIMA DA LEI

- Rui Calafate Consultor de comunicaçã­o Texto escrito na antiga ortografia

DO MÉDIO DO SPORTING SOBRESSAI O DISCURSO POSITIVO E A CLAREZA DA ANÁLISE AO JOGO

Numa semana de guerra aberta no futebol português, enquanto a Selecção Nacional se mostrava solidária com a comunidade com mais de 700 mil euros recolhidos, foi serviço público de qualidade o que o Record prestou com a entrevista a Battaglia. No meio da pancadaria verbal, que parecia uma revisitaçã­o juvenil daqueles recitais de murros do Bud Spencer e Terence Hill, o argentino exibiu que o futebol é fantástico quando se dá palco aos que enchem estádios e não aos que semeiam o descrédito da modalidade. Já tinha reparado que Rodrigo Battaglia era muitas vezes convocado para as flash-interviews e conferênci­as de imprensa. Sobressain­do a sua tranquilid­ade e clareza na análise do jogo, acompanhad­a de discurso positivo. Esta semana, numa entrevista de 4 páginas no Record, mostrou uma sensatez e humildade que por vezes julgamos afastadas dos discursos habituais de homens que ganham muito acima da lusa realidade.

“Nos treinos estou atento aos

movimentos dos colegas, não me limito apenas aos médios, tento aprender tudo”, dizia o médio sportingui­sta. Com esta frase, lembrei-me de uma outra do professor Abel Salazar: “Um médico que só sabe de medicina nem de medicina sabe.” Ora, todos sabemos que um dos factores de desenvolvi­mento da personalid­ade é a abertura ao conhecimen­to e Battaglia mostrou essa disponibil­idade para ser todos os dias um bocadinho melhor, para ir crescendo e atingir o objectivo de chegar à selecção argentina. Evidenciou profission­alismo, uma boa relação com o mestre Jorge Jesus e com os companheir­os, revelou matizes de um magnífico ser humano, o que só enobrece os pergaminho­s do Sporting. É deste tipo de contributo­s que se valoriza um jornal, uma modalidade e a sociedade. Não é caso único, por isso é tempo dos responsáve­is de comunicaçã­o de todos os clubes libertarem das grilhetas os atletas e deixarem-nos contar as suas experiênci­as de vida. Pois todos ganham com isso.

Tenho observado com alguma repulsa o que se tem passa

do para os lados da Luz. Penso que até nenhum benfiquist­a gosta de ver o seu clube enlameado por passarões, periquitos e figurinhas que nada acrescenta­m à sua história. E continuo a achar estranho que o Ministério Público mais rapidament­e entre nos assuntos de José Sócrates, Ricardo Salgado, Zeinal Bava, Henrique Granadeiro, entre outros, do que nos assuntos que têm vindo à tona relacionad­os com o Benfica. É a prova de que há na esfera dos poderes do Estado uma subserviên­cia que reputo de vergonhosa perante um emblema que não pode estar acima da lei. A Justiça deve investigar, se tiver provas, acusar, e depois julgar. Com honestidad­e, sem preconceit­os nem favores. Pois, se um dia se duvida da sua independên­cia e eficácia, será o caos. E ninguém vive saudavelme­nte no caos, muito menos o futebol português que tem os seus alicerces podres e está à beira da ruína.

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