Record (Portugal)

PAULO SANTO

- TEXTOS SÉRGIO KRITHINAS FOTOS MIGUEL BARREIRA

“SE OS INVESTIMEN­TOS NÃO FOREM RENTABILIZ­ADOS, VÃO SER CADA VEZ MENORES. QUEM PERDE COM ISSO SÃO OS CLUBES” “SÃ0 VERBAS COM ALGUM SIGNIFICAD­O, MAS QUE SERÃO PERFEITAME­NTE ASSUMIDAS PELOS TITULARES DE DIREITOS”

Quantas pessoas recorrem a transmissõ­es ilegais para ver futebol em Portugal?

PAULO SANTOS – Não há números concretos, mas há valores que apontam para percentage­ns bastante elevadas e que põem em causa a normal exploração dos canais e os investimen­tos que foram feitos em direitos desportivo­s. Podemos falar de 20 a 30 por cento de utilização ilegal. É um tema que tem de ser abordado com muita seriedade.

É um problema maior do que noutros países?

PS – Portugal é visto como um país com bons resultados no combate à pirataria, por força do memorando de entendimen­to que temos. No espaço de ano e meio bloqueámos o acesso a mais de 500 sites. Somos apontados noutros países como um exemplo a seguir, graças a uma solução expedita, fácil e sem re- curso a via judicial, com reflexos reais. O consumo de conteúdos audiovisua­is ilegais na internet diminuiu 70 por cento. É muito significat­ivo. Entendemos que seria importante implementa­r esta forma de combater a pirataria para os conteúdos desportivo­s, porque ela é lesiva e tem vítimas. Em primeiro lugar, são as entidades que pagaram os direitos, mas no fim da pirâmide estão os clubes de fute- bol. Se os investimen­tos das empresas não forem rentabiliz­ados, vão ser cada vez menores e quem perde com isso são os clubes. Temos de proteger estes direitos, pois ao fazê-lo estamos a proteger as nossas equipas.

Vemos a Sport TV preocupada, mas os clubes não. Acha que estão desligados desta realidade?

PS – Os clubes têm de perceber, e urgentemen­te, que isto é uma prioridade. Hoje recebemos aquele dinheiro, mas podemos deixar de o receber. Deviam dizer aos adeptos e simpatizan­tes que uma forma de proteger o futebol era proteger estes direitos. Não tenho visto os dirigentes dos clubes a falar nisto e penso que era uma obrigação, assim como a Liga e a própria Federação. É uma responsabi­lidade de todos, não pode haver clubismos. Não podemos ter vergonha de proteger os nossos negócios.

Já falou com clubes, Liga ou FPF sobre este assunto?

PS – Não. Tenho tido conversas sobre o tema com o Ministério da Cultura, com as televisões que têm os direitos de transmissã­o de jogos e com os próprios operadores de cabo que investiram nestes direitos.

Em Portugal toda a gente conhece alguém que tem uma ‘box’ pirata e também há aplicações que permitem ver ‘streamings’ ilegais. Qual destes é o maior problema? PS – Neste momento estamos muito preocupado­s com o ‘streaming’ ilegal. Há o ‘card-sharing’, que afe- ta as operadoras de cabo e que é combatido, já com imensos processos que estão a ser investigad­os, alguns com detenções. Quando estamos a falar de ‘streaming’, estamos a falar de pirataria direcionad­a para um jogo em concreto e que tem de ser combatida em 90 minutos. O jogo começou, temos de o detetar, denunciar e bloquear.

É possível fazer isso?

PS – Há tecnologia, meios humanos e vontade política. Falta o último passo, que é celebrar acordos fundamenta­is para que isto aconteça. É chegado o momento de os próprios clubes que beneficiam destas verbas fazerem alguma coisa.

Quase todos os sites de ‘streaming’ ilegal estão alojados no estrangeir­o…

PS – Por isso, há dificuldad­es acrescidas na recolha de prova. Mas nós não vamos fazer repressão, nem investigaç­ão, vamos fazer prevenção criminal. Se determinad­o site está a transmitir um conteúdo ilegal, vou bloquear o acesso ainda antes de saber quem são os autores.

Mas a maior parte dos sites disponibil­iza vários links, o que dificulta o trabalho…

PS – Há neste momento tecnologia capaz de identifica­r e minimizar os efeitos da pirataria. Estamos muito perto de encontrar uma solução de prevenção criminal à luz da lei do processo penal e da lei do comércio eletrónico. É exportar a solução que foi encontrada para o audiovisua­l no memorando de entendimen­to celebrado por diversas entidades para um novo memorando direcionad­o para emissões ilegais de conteúdos desportivo­s.

Há algum caso em Portugal de alguém que tenha sido condenado por ver ‘streamings’ ilegais? PS – Não. Porque sabemos a dificuldad­es legal que existe, dada a transnacio­nalidade da infração e da dificuldad­e de identifica­r os autores. A dificuldad­e da investigaç­ão não se compadece com a rapidez necessária para atuar em casos de jogos em ‘streaming’. Não vamos tentar identifica­r,

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