Record (Portugal)

Mamma mia!

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BUFFON ESTEVE NO MUNDIAL DE 1998 E, DESDE ESSA ALTURA, A SELEÇÃO ITALIANA PERDEU QUALIDADE A OLHOS VISTOS. A CONSEQUÊNC­IA ESTÁ AÍ: FICOU FORA DO RÚSSIA’2018

la mítica seleção italiana jogou pela a última vez num jogo de homenagem contra a seleção do Resto do Mundo, eu joguei a titular ao lado do Marco Van Basten e atrás de nós tínhamos dois números 10 de sonho, que eram o Zico e o Platini. Para mim foi uma honra jogar com estes génios na mesma equipa, mas especialme­nte ter conhecido o Bruno Conti e os outros heróis do Espanha’82, como o Dino Zoff, Baresi, Bergomi, Cabrini, Collovati, Gentile, Scirea, Vierchowod, Antognoni, Dossena, Marini, Oriali, Tardelli, Causio, Massaro, Altobelli, Graziani e Paolo Rossi. Amanhãfaz umasemana da maior catástrofe de toda a história do futebol italiano. Fiquei tão emocionado quando vi o Buffon, um dos melhores guarda-redes de sempre e um herói para os italianos, a chorar e a pedir desculpas a toda a Itália por aquela desgraça, que liguei para vários amigos meus italianos para os animar. Antes das palavras de conforto disse o mesmo a todos eles: “Se Buffon fosse ao Mundial da Rússia seria o sexto e fazia história. No primeiro, o França’98, foi suplente do Pagliuca, mas entre os convocados estavam Bergomi, Maldini, Cannavaro, Costacurta, Nesta, Di Livio, Di Matteo, Pessotto, Albertini, Dino Baggio, Del Piero, Roberto Baggio, Inzaghi e Vieri. Era incrível o talento e a classe que tinha esta seleção italiana em todos os sectores do campo. No Japão e Coreia do Sul, em 2002, Buffon já foi titular e chegaram novos craques, como por exemplo Panucci, Materazzi, Zambrotta, Gattuso, Montella e o génio FrancescoT­otti. No Alemanha’2006, a Itália foi campeã do Mundo e os novos companheir­os de Buffon foram De Rossi, Luca Toni, Barzagli, Gilardino, Camoranesi, Oddo, Grosso e o génio Andrea Pirlo. Durante anos, quando o Buffon estava na baliza e olhava para a frente via 10 companheir­os de seleção de classe mundial, e muitos deles génios. Contra a Suécia, se tiramos os três trintões do 11 titular – Chiellini, Barzagli e Bonucci – quando Buffon olhava para a frente devia sentir uma impotência e uma frustração horríveis, porque se comparamos a qualidade e talento dos seus companheir­os de seleção da déca- da passada e os atuais a diferença é abismal. Buffon deixou de ver futebol de alto nível, as genialidad­es e autênticas obras de arte dos mitos Roberto Baggio,Totti e Del Piero, para começar a ver futebol de 2.ª Divisão. Por esta razão não é o Buffon que tem de pedir perdão a Itália, mas sim Itália a Buffon.

Paolo Cannavaro escreveu isto nas redes sociais naquela noite negra: “Malta, não perdemos hoje o Mundial, perdemos há 15 anos. Graças à lei do trabalho, chegaram a Itália flops de todas as partes do Mundo e tiraram injustamen­te o lugar aos nossos miúdos... Espero que hoje tenhamos tocado no fundo e se reformule o nosso futebol. E para a rua todas as múmias que gerem o futebol italiano.” Penso como ele: a crise de falta de qualidade dos jogadores italianos em 2010 já era gravíssima. Por exemplo, o Inter Milão do José Mourinho jogou a meia-final da Champions League contra o Barcelona e a final com o Bayern sem um único italiano no onze titular. No Mundial da África do Sul, o grupo de Itália era um dos mais fáceis, com Paraguai, Nova Zelândia e Eslováquia, e ficou em último. Os sinais de que podia acontecer uma catástrofe a um país que ama o futebol como a Itália ama já estavam aí, mas as “múmias”, como diz o Paolo, não fizeram nada, e tudo continuou igual. Na segunda-feira as duas palavras que mais repetiram os meus amigos, enquanto falava com eles do drama que estavam a viver com todos os outros italiano e eu próprio, foram “Mamma mia!”

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