DOR, MORFINA E LUTO
As marcas profundas da perda da menina dos seus olhos: sua mãe Maria Elisa, “uma santa”
Na festa do seu terceiro título de campeão, surpreendeu ao surgir na Luz com um ‘M’ pintado na cara. Era a homenagem à menina dos seus olhos, Maria Elisa, sua mãe, falecida em 1994, desde sempre no coração deste seu filho. As sequelas foram profundas e houve quem se aproveitasse delas. “Andei oito ou nove anos de luto. Só vestia preto. O conteúdo enquanto treinador não era valorizado, preferiam atacar a forma como me vestia”, lamenta. Falar de sua mãe “é tocar no coração”. A voz embarga-se, sente a ameaça das lágrimas, controla-se. “Queria sentir a minha mãe. Penso nela todos os dias. Faleceu em 1994 mas continua a estar dentro de mim sentimentalmente”, garante. “Era uma santa”. Mais tar- de, seria confrontado com o momento da perda. E desaba. A ferida ainda não sarou. “Foi doloroso, teve cancro nos intestinos, sofreu muito. Eu treinava o Felgueiras e já tinha algumas possibilidades. Meti uma enfermeira lá em casa. Só lhe conseguiam tirar as dores com morfina. Foi difícil [perde a voz, chora por segundos]...” Jorge recorda o vaivém entre Felgueiras e Amadora, 800 quilómetros diários a cima e a baixo. “Às vezes não havia morfina e era um médico de Felgueiras, meu amigo, que me dava as ampolas. Eu fazia as viagens de noite para que a minha mãe conseguisse suportar as dores [chora]. Fazia diretas, saía de Felgueiras às nove da noite e depois, às cinco da manhã, voltava para dar treino”, relembra, assumindo outra mágoa profunda: “O meu pai faleceu com Alzheimer. Nunca soube que sou treinador do Sporting.” Afinal, fora essa a força motriz que o levou a trocar a Luz por Alvalade.