Record (Portugal)

“Os meus filhos foram apertados”

JORGE JESUS E A MUDANÇA PARA ALVALADE

- ANTÓNIO ADÃO FARIAS

Não sou um traidor!” Dois anos e quatro meses não são suficiente­mente largos para fazerem esquecer a controvers­a saída do Benfica para o Sporting. Jorge Jesus desdramati­za a polémica, lamentando apenas que tenham sido os seus filhos quem mais sofreu: “Tenho três filhos, dois deles já crescidos, todos com locais de convivênci­a diferentes dos meus. Uma ou outra vez, foram apertados, mas com o tempo passou… Eu não, nunca me aconteceu.” “Nunca tive ninguém que me chamasse na rua o que às vezes me chamam nos estádios: traidor. Nunca fui um traidor; eu mudei de um clube para o outro.” Convidado de honra na celebração do episódio 400 do programa ‘Alta Definição’, da SIC, Jesus reviveu o verão de 2015. “As crianças faziam-me esta pergunta: ‘Por que mudaste?’ E começavam a chorar. Percebi aí o sentimento clubístico, sobretudo das crianças,

pois estive seis anos no Benfica e aqueles miúdos cresceram comigo lá”, explica, reconhecen­do que foi forçado a alterar rotinas, ainda que sempre tenha privilegia­do um certo isolamento: “Treinei os dois maiores clubes de Portugal, em Lisboa. Não posso estar em qualquer lado, não que me façam mal, pelo contrário. Mas a minha pri- vacidade esbarra no sentimento dos que gostam de mim. Não nego autógrafos nem fotografia­s. Incomoda-me? Zero! Mas às vezes procuro estar um pouco isolado.”

“Se não aguentam a pressão...”

Feitio irascível, paixão pelo jogo e a relação com os jogadores. Um modo de estar ‘sui generis’, amado por uns, odiado por outros. “Tenho uma forma muito interventi­va de entrar no treino ou no jogo. Pressiono os meus jogadores para lhes fazer sentir que não fizeram o que eu queria. Há muitos a quem dizemos uma vez, duas, três e psicologic­amente ficam afectados. Acham que o treinador os persegue... Chamo-lhes a atenção: se não conseguem aguentar a minha pressão, não vão aguentar jogando para 50 mil adeptos. Isto é treinar também a parte emocional”, vinca, definindo como pretende ser recordado. “Vou deixar muito ao futebol, pois comecei a fazer coisas que ninguém fazia, como a marcação à zona.” Eis Jorge Jesus, “um treinador criador”. *

“HÁ JOGADORES QUE FICAM PSICOLOGIC­AMENTE AFETADOS COM A MINHA PRESSÃO. ACHAM QUE O TREINADOR OS PERSEGUE...”

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‘ALTA DEFINIÇÃO’. Jorge Jesus com Daniel Oliveira. “Tocaste-me no coração”, confessou, emocionado, ao seu interlocut­or JORGE JESUS

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