“Os meus filhos foram apertados”
JORGE JESUS E A MUDANÇA PARA ALVALADE
Não sou um traidor!” Dois anos e quatro meses não são suficientemente largos para fazerem esquecer a controversa saída do Benfica para o Sporting. Jorge Jesus desdramatiza a polémica, lamentando apenas que tenham sido os seus filhos quem mais sofreu: “Tenho três filhos, dois deles já crescidos, todos com locais de convivência diferentes dos meus. Uma ou outra vez, foram apertados, mas com o tempo passou… Eu não, nunca me aconteceu.” “Nunca tive ninguém que me chamasse na rua o que às vezes me chamam nos estádios: traidor. Nunca fui um traidor; eu mudei de um clube para o outro.” Convidado de honra na celebração do episódio 400 do programa ‘Alta Definição’, da SIC, Jesus reviveu o verão de 2015. “As crianças faziam-me esta pergunta: ‘Por que mudaste?’ E começavam a chorar. Percebi aí o sentimento clubístico, sobretudo das crianças,
pois estive seis anos no Benfica e aqueles miúdos cresceram comigo lá”, explica, reconhecendo que foi forçado a alterar rotinas, ainda que sempre tenha privilegiado um certo isolamento: “Treinei os dois maiores clubes de Portugal, em Lisboa. Não posso estar em qualquer lado, não que me façam mal, pelo contrário. Mas a minha pri- vacidade esbarra no sentimento dos que gostam de mim. Não nego autógrafos nem fotografias. Incomoda-me? Zero! Mas às vezes procuro estar um pouco isolado.”
“Se não aguentam a pressão...”
Feitio irascível, paixão pelo jogo e a relação com os jogadores. Um modo de estar ‘sui generis’, amado por uns, odiado por outros. “Tenho uma forma muito interventiva de entrar no treino ou no jogo. Pressiono os meus jogadores para lhes fazer sentir que não fizeram o que eu queria. Há muitos a quem dizemos uma vez, duas, três e psicologicamente ficam afectados. Acham que o treinador os persegue... Chamo-lhes a atenção: se não conseguem aguentar a minha pressão, não vão aguentar jogando para 50 mil adeptos. Isto é treinar também a parte emocional”, vinca, definindo como pretende ser recordado. “Vou deixar muito ao futebol, pois comecei a fazer coisas que ninguém fazia, como a marcação à zona.” Eis Jorge Jesus, “um treinador criador”. *
“HÁ JOGADORES QUE FICAM PSICOLOGICAMENTE AFETADOS COM A MINHA PRESSÃO. ACHAM QUE O TREINADOR OS PERSEGUE...”