Apostar na formação?
SE QUISER SER SUSTENTÁVEL, O BENFICA TEM DE APOSTAR EM JOVENS POR SI TRABALHADOS, MAS PARA GANHAR TAMBÉM É PRECISO INVESTIR EM JOGADORES FEITOS
Os números falam por si: a última convocatória para as Seleções jovens mobilizou 30 jogadores do Benfica (sete nos sub21; cinco nos sub-20; seis nos sub-19 e 12 nos sub-17). Neste momento, na equipa principal, são titulares dois jogadores da formação (Rúben Dias e Diogo Gonçalves) e ainda três produtos do scouting (Grimaldo assinou no primeiro ano de sénior; André Almeida tinha 20 anos quando foi contratado e, claro, Svilar). Se a isto somarmos a transição de sucesso para a equipa principal de Renato, Guedes, Lindelöf, Ederson e Nélson Semedo, temos um retrato de uma estratégia que está a dar frutos.
Do ponto de vista económico,
a aposta do Benfica é correta. Um clube português já não pode competir com clubes do norte da Europa. O fosso financeiro agravou-se e jogadores que dão garantias competitivas imediatas deixaram de estar ao alcance dos clubes nacionais. Perante este novo contexto, restam três caminhos: formar localmente, contratar jovens talentos de outras paragens, que demorarão a vingar na equipa titular, ou, alternativamente, ir buscar jogadores já no ocaso da carreira, que podem dar retorno desportivo imediato, mas que são investimentos a fundo perdido.
Além do mais, como demonstram as contas dos clubes –
num exercício que gera muita perplexidade –, os únicos casos em que os encaixes correspondem a um valor aproximado ao da venda é, precisamente, quando os jogadores vêm da formação. Nas outras situações, há que amortizar o valor da compra do passe e os anos de contrato cumpridos. Um clube português, hoje, está obrigado a formar localmente para garantir a sustentabilidade financeira do seu modelo de negócio. Mas, dá-se o caso de o futebol não ser um negócio como os outros. É esse um dos argumentos de Simon Kuper e de Stefan Szymansky no muito recomendável ‘Soccernomics’. Para os autores do livro, o futebol não só é um mau negócio (os clubes apropriam-se de uma percentagem ínfima do valor que geram em entretenimento e a maior parte não gera lucros e não distribui dividendos), como nem sequer é um negócio com dimensão (as receitas do Real Madrid são sensivelmente as mesmas da centésima vigésima empresa finlandesa) e, além do mais, os clubes são frequentemente mal geridos – com contratações baseadas na clubite não há, na verdade, nível de incompetência que não seja tolerado.
Trata-se, é claro, de umextremar de argumentos para sublinhar um paradoxo: quando se procura gerir o futebol como um negócio, não é apenas o sucesso desportivo que fica em risco, também o negócio é afetado.
O que é que isto tem a ver com a aposta na formação? Tudo. O Benfica, se quiser ser sustentável, tem de apostar na formação, da mesma forma que o Benfica, se quiser continuar a vencer, tem de continuar a gastar dinheiro em jogadores feitos, sob pena de deixar de ganhar e, até, da aposta na formação ser ela própria inglória.
AS RECEITAS DO REAL MADRID SÃO AS MESMAS DA 120. ª EMPRESA FINLANDESA...