Três tiros no pé
EPISÓDIOS FRAGILIZAM AS INSTITUIÇÕES A QUE ESTES PROTAGONISTAS ESTÃO LIGADOS MIGUEL LUCAS PIRES, JOSÉ MANUEL FALCATO E HORÁCIO PIRIQUITO SALTARAM PARA A RIBALTA PELAS PIORES RAZÕES
Não conheço pessoalmente Miguel Lucas Pires, José Manuel Falcato e Horácio Piriquito, todos, seguramente, excelentes pessoas e respeitáveis cidadãos. Todos também saltaram para a ribalta, ultimamen- te, e pelas piores razões. Para eles e para as instituições onde estavam integrados.
Há, claro está, graus diferentes de gravidade e culpabilida
de nas suas ações, mas o balanço geral é desastroso.
Um juiz do Tribunal Arbitral do Desporto, que é simpatizante de um clube, declarado ou não, tem de escusar-se a julgar questões que envolvam interesses da equipa da sua preferência. Pode julgar com independência e qualidade, não duvido, mas, para salvaguarda da idoneidade daquela instância, não o deve fazer. Não é uma questão de ser sério. Nem sequer de parecer sério. É sobretudo, uma questão de bom senso.
Eu sei que pedir a terceiro bilhetes para um desafio é quase um desporto nacional. Esta sedução da borla atravessa toda a sociedade portuguesa, existe mesmo para aqueles que podem pagar. Um juiz do Tribunal Arbitral Desportivo põe em causa a sua independência e seriedade, metendo uma cunha para uma benesse de gratuitidade? Não, mas perde respeitabilidade e põe-se, como se viu, a jeito. Um membro do Conselho Fiscal da Federação Portuguesa de Futebol não pode passar documentos desta para um comentador desportivo, por muita amizade e confiança, que entre eles exista. Até pode acontecer que esses documentos não tenham servido para nada, mas o ponto não é esse. A questão é que essa atitude releva de indignidade, porque faz uma leitura claramente abusiva das funções e favorecimento, porque disponibiliza a uns informação que não estende a outros.
Estes episódios fragilizam,
quer se queira quer não, as instituições a que estes protagonistas estão ligados e fazem pairar sobre elas, justa ou injustamente, o estigma da suspeição. Ora, já não basta assistirmos diariamente ao indecoroso clima de antagonismo e inenarrável peixeirada que grassa entre os grandes do futebol. Se, em cima disso, as instituições que têm por superior missão reger e julgar, falham – como falharam – e são olhadas como agentes de parcialidade e opacidade, temos uma crise estrutural muito preocupante.
Para já parece o
clima da luta livre, em que toda a gente sabe que os resultados estão combinados, que os lutadores fingem que se agridem, que os árbitros não são para levar a sério, mas ninguém se importa, porque o que se espera são apenas, e só, grandes sessões de porrada.