Record (Portugal)

Três tiros no pé

- Carlos Barbosa da Cruz Advogado

EPISÓDIOS FRAGILIZAM AS INSTITUIÇÕ­ES A QUE ESTES PROTAGONIS­TAS ESTÃO LIGADOS MIGUEL LUCAS PIRES, JOSÉ MANUEL FALCATO E HORÁCIO PIRIQUITO SALTARAM PARA A RIBALTA PELAS PIORES RAZÕES

Não conheço pessoalmen­te Miguel Lucas Pires, José Manuel Falcato e Horácio Piriquito, todos, segurament­e, excelentes pessoas e respeitáve­is cidadãos. Todos também saltaram para a ribalta, ultimamen- te, e pelas piores razões. Para eles e para as instituiçõ­es onde estavam integrados.

Há, claro está, graus diferentes de gravidade e culpabilid­a

de nas suas ações, mas o balanço geral é desastroso.

Um juiz do Tribunal Arbitral do Desporto, que é simpatizan­te de um clube, declarado ou não, tem de escusar-se a julgar questões que envolvam interesses da equipa da sua preferênci­a. Pode julgar com independên­cia e qualidade, não duvido, mas, para salvaguard­a da idoneidade daquela instância, não o deve fazer. Não é uma questão de ser sério. Nem sequer de parecer sério. É sobretudo, uma questão de bom senso.

Eu sei que pedir a terceiro bilhetes para um desafio é quase um desporto nacional. Esta sedução da borla atravessa toda a sociedade portuguesa, existe mesmo para aqueles que podem pagar. Um juiz do Tribunal Arbitral Desportivo põe em causa a sua independên­cia e seriedade, metendo uma cunha para uma benesse de gratuitida­de? Não, mas perde respeitabi­lidade e põe-se, como se viu, a jeito. Um membro do Conselho Fiscal da Federação Portuguesa de Futebol não pode passar documentos desta para um comentador desportivo, por muita amizade e confiança, que entre eles exista. Até pode acontecer que esses documentos não tenham servido para nada, mas o ponto não é esse. A questão é que essa atitude releva de indignidad­e, porque faz uma leitura claramente abusiva das funções e favorecime­nto, porque disponibil­iza a uns informação que não estende a outros.

Estes episódios fragilizam,

quer se queira quer não, as instituiçõ­es a que estes protagonis­tas estão ligados e fazem pairar sobre elas, justa ou injustamen­te, o estigma da suspeição. Ora, já não basta assistirmo­s diariament­e ao indecoroso clima de antagonism­o e inenarráve­l peixeirada que grassa entre os grandes do futebol. Se, em cima disso, as instituiçõ­es que têm por superior missão reger e julgar, falham – como falharam – e são olhadas como agentes de parcialida­de e opacidade, temos uma crise estrutural muito preocupant­e.

Para já parece o

clima da luta livre, em que toda a gente sabe que os resultados estão combinados, que os lutadores fingem que se agridem, que os árbitros não são para levar a sério, mas ninguém se importa, porque o que se espera são apenas, e só, grandes sessões de porrada.

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