Fundo? Qual fundo?
Ontem, em conversa com um amigo que trabalha no futebol, desabafei que gostava muito que a greve dos árbitros fosse até ao fim para ver se batemos no fundo. Talvez assim, expliquei, as coisas comecem a melhorar. Esse meu amigo, um tipo com um excelente gosto musical e um grande sentido de humor, riu-se e disse “Qual fundo? Isto não tem fundo!”
Deu-me vontade de rir no momento, mas na maior parte das vezes dá vontade de chorar. O que os clubes têm feito, em especial os grandes, ultrapassa todos os limites do que é razoável numa competição. Andar a medir intensidades de contactos na área para reclamar penáltis é intelectualmente desonesto, mas é uma dis-
DIZER QUE HÁ ÁRBITROS AO SERVIÇO DE CLUBES É A COMPETIÇÃO
cussão aceitável, pelo menos em tascas e entre duas cervejas; dizer que determinado árbitro está ao serviço de determinado clube é simplesmente dizer às pessoas para não acreditarem na competição e na modalidade pela qual querem que os adeptos se apaixonem.
Você, adepto, da próxima vez que achar que um árbitro está comprado ou a errar intencionalmente para prejudicar ou beneficiar algum clube, ponha-se no lugar dele. Seguramente que comete erros na sua profissão, que até está disposto a assumi-los e a ser punido por tal. Imagine, só por alguns minutos, que alguém o acusava de errar intencionalmente ou de ter uma agenda escondida para beneficiar terceiros. O que sentiria?
Isto não é brincar com o futebol, isto é ofender pessoas. Gostava que o fundo fosse este, mas temo que o meu amigo tenha razão.