Record (Portugal)

Fundo? Qual fundo?

- Sérgio Krithinas Editor DESACREDIT­AR TODA

Ontem, em conversa com um amigo que trabalha no futebol, desabafei que gostava muito que a greve dos árbitros fosse até ao fim para ver se batemos no fundo. Talvez assim, expliquei, as coisas comecem a melhorar. Esse meu amigo, um tipo com um excelente gosto musical e um grande sentido de humor, riu-se e disse “Qual fundo? Isto não tem fundo!”

Deu-me vontade de rir no momento, mas na maior parte das vezes dá vontade de chorar. O que os clubes têm feito, em especial os grandes, ultrapassa todos os limites do que é razoável numa competição. Andar a medir intensidad­es de contactos na área para reclamar penáltis é intelectua­lmente desonesto, mas é uma dis-

DIZER QUE HÁ ÁRBITROS AO SERVIÇO DE CLUBES É A COMPETIÇÃO

cussão aceitável, pelo menos em tascas e entre duas cervejas; dizer que determinad­o árbitro está ao serviço de determinad­o clube é simplesmen­te dizer às pessoas para não acreditare­m na competição e na modalidade pela qual querem que os adeptos se apaixonem.

Você, adepto, da próxima vez que achar que um árbitro está comprado ou a errar intenciona­lmente para prejudicar ou beneficiar algum clube, ponha-se no lugar dele. Segurament­e que comete erros na sua profissão, que até está disposto a assumi-los e a ser punido por tal. Imagine, só por alguns minutos, que alguém o acusava de errar intenciona­lmente ou de ter uma agenda escondida para beneficiar terceiros. O que sentiria?

Isto não é brincar com o futebol, isto é ofender pessoas. Gostava que o fundo fosse este, mas temo que o meu amigo tenha razão.

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