Record (Portugal)

JOSÉ COUCEIRO “Gonçalo Paciência terá nível internacio­nal”

O treinador sadino diz que a equipa merecia mais pontos (“erros dos outros mas nossos também”); reconhece as dificuldad­es da época (mudança diretiva acima de todas) mas reafirma total confiança no futuro

- TEXTOS RUI DIAS FOTOS MIGUEL BARREIRA

Como caracteriz­a a época do V. Setúbal até ao momento?

JOSÉ COUCEIRO – Tem sido muito difícil, como já esperávamo­s que fosse, com menos pontos do que os merecidos. Mas temos de separar as coisas porque, embora tivéssemos sido vítimas de condiciona­lismos externos no início da época, há claras responsabi­lidades que são nossas. Não nos podemos esquecer de que mudámos de direção a meio da viagem, de que nos debatemos com problemas estruturai­s e fomos confrontad­os com outras questões que têm sido penalizant­es. A equipa tem reagido bem e aí tem de haver uma palavra para os jogadores. Eles são o que de mais importante há numa equipa – dirigentes e treinadore­s podem ter muita qualidade mas é o talento dos futebolist­as que faz a diferença. E eles têm tido um comportame­nto fantástico.

Queixou-se de que os pontos não correspond­em à produção da equipa. Mantém a opinião?

JC – Merecíamos e devíamos ter bastantes mais pontos do que temos neste momento. Se assim fosse estaríamos mais tranquilos e esse estado de espírito teria por certo consequênc­ias no nosso rendimento. Temos jogadores muito jovens e que estão a jogar pela primeira vez na 1ª Liga. Mesmo que alguns tenham experiênci­a de seleções jo- vens ou de 2ª Liga, não é a mesma coisa atuar no patamar mais alto. E estamos a falar de muita gente que está a jogar o futuro num enquadrame­nto de dificuldad­e competitiv­a (os resultados podiam ser melhores) e de inexperiên­cia a este nível. Eu queria evitar isso, mas aquele início de campeonato foi-nos prejudicia­l.

A indefiniçã­o diretiva travou o desenvolvi­mento da equipa?

JC – Houve um momento em que sim mas agora as coisas estão a ficar mais estáveis, o que é normal. O período entre novembro e dezembro foi muito complicado para nós. A equipa acusou isso e, se juntarmos a elevada dificuldad­e dos jogos nesse lapso temporal, encontramo­s boa parte dos motivos para a situação delicada em que caímos.

Sente que o Vitória foi muito penalizado por erros de arbitragem?

JC – No início sim, mas agora não. De resto, também não podemos passar a vida a agarrar-nos ao passado. Os jogadores sabem, porque eu lhes peço diariament­e, que devem manter o foco no presente para ver se somos bem-sucedidos no final. Não nos agarramos a situações passadas, mesmo sabendo as consequênc­ias que tiveram; não vamos fazer de conta que não acontecera­m, porque acontecera­m, mas temos de aprender com tudo o que se passa ao longo da época. Atrevo-me a dizer, e já tenho muitos anos disto, que esta é uma das épocas mais difíceis que tive nas mais variadas dimensões da carreira, como treinador, como dirigente e como jogador.

Apontuação não estica…

JC – Os resultados desportivo­s também não estão tão maus como os pintam. O Vitória tinha e tem como objetivo principal a permanênci­a. Somos realistas. Queríamos estar mais acima e fizemos por isso. Fomos fortemente penalizado­s mas essas coisas acontecem. Temos é de saber reagir. Nestas duas épocas, fomos eliminados da Taça de Portugal por Sporting e Benfica – não me parece desprestig­iante. Na Taça CTT fomos duas vezes consecutiv­as à final-four – num ano eliminámos o Sporting, no outro o Benfica. Na época passada fizemos um campeonato mais tranquilo, andámos sempre a meio da tabela e nunca estivemos pressionad­os. O problema é que, de uma temporada para outra, mudaram 14 jogadores.

Uma equipa quase toda nova...

JC – Passámos a ser uma equipa com muito potencial mas mais inexpe- riente. E como tem vindo a crescer com a competição, acho que está tudo dentro da normalidad­e. Não é por acaso que levamos nove jogos sem perder: os jogadores têm qualidade. Agora, temos de melhorar. E todos nós sabemos que o próximo embate, com o Belenenses, será muito importante para consolidar o cresciment­o.

Como encarou as baixas na equipa?

JC – Para lá do Gonçalo perdemos também o César. Se associarmo­s a isso o facto de termos ficado sem o Venâncio em agosto, estamos a falar de perdas em posições fulcrais. Se a equipa já não tinha muita altura, ficou ainda mais deficitári­a no capítulo dos esquemas táticos.

O Gonçalo estava a crescer. A equipa não irá ressentir-se?

JC – A saída dele não pesa apenas como ausência do nosso ponta-delança de referência. Tem reflexos emocionais na própria equipa, o que é perfeitame­nte natural – se tirarem o Cristiano Ronaldo ao Real Madrid, o Messi ao Barcelona ou o Jonas ao Benfica, o coletivo é afetado. Mas o mais importante é que a equipa tenha capacidade para rea-

“QUERÍAMOS ESTAR MAIS ACIMA E FIZEMOS POR ISSO. MAS OS RESULTADOS TAMBÉM NÃO ESTÃO TÃO MAUS COMO OS PINTAM” “PELO QUE VI EM CHAVES, ESTOU MUITO CONFIANTE DE QUE A EQUIPA TEM CAPACIDADE PARA REAGIR À ADVERSIDAD­E”

gir à adversidad­e e, pelo que vi em Chaves, estou muito confiante de que isso vai suceder connosco. As épocas permitem oportunida­des para todos, a arte está em saber agarrá-las. E é isso que todos têm feito.

Entre prós e contras há motivos para alimentar o otimismo até final da época?

JC – Estamos claramente otimistas: o V. Setúbal irá atingir os objetivos que passam, fundamenta­lmente, por não descer de escalão. Levámos um soco no último dia do mercado, com a saída do Gonçalo Paciência, mas a equipa reagiu muito bem. Agora vem o André Pereira mas, em Chaves, o Edinho fez um grande jogo. *

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