JOSÉ COUCEIRO “Gonçalo Paciência terá nível internacional”
O treinador sadino diz que a equipa merecia mais pontos (“erros dos outros mas nossos também”); reconhece as dificuldades da época (mudança diretiva acima de todas) mas reafirma total confiança no futuro
Como caracteriza a época do V. Setúbal até ao momento?
JOSÉ COUCEIRO – Tem sido muito difícil, como já esperávamos que fosse, com menos pontos do que os merecidos. Mas temos de separar as coisas porque, embora tivéssemos sido vítimas de condicionalismos externos no início da época, há claras responsabilidades que são nossas. Não nos podemos esquecer de que mudámos de direção a meio da viagem, de que nos debatemos com problemas estruturais e fomos confrontados com outras questões que têm sido penalizantes. A equipa tem reagido bem e aí tem de haver uma palavra para os jogadores. Eles são o que de mais importante há numa equipa – dirigentes e treinadores podem ter muita qualidade mas é o talento dos futebolistas que faz a diferença. E eles têm tido um comportamento fantástico.
Queixou-se de que os pontos não correspondem à produção da equipa. Mantém a opinião?
JC – Merecíamos e devíamos ter bastantes mais pontos do que temos neste momento. Se assim fosse estaríamos mais tranquilos e esse estado de espírito teria por certo consequências no nosso rendimento. Temos jogadores muito jovens e que estão a jogar pela primeira vez na 1ª Liga. Mesmo que alguns tenham experiência de seleções jo- vens ou de 2ª Liga, não é a mesma coisa atuar no patamar mais alto. E estamos a falar de muita gente que está a jogar o futuro num enquadramento de dificuldade competitiva (os resultados podiam ser melhores) e de inexperiência a este nível. Eu queria evitar isso, mas aquele início de campeonato foi-nos prejudicial.
A indefinição diretiva travou o desenvolvimento da equipa?
JC – Houve um momento em que sim mas agora as coisas estão a ficar mais estáveis, o que é normal. O período entre novembro e dezembro foi muito complicado para nós. A equipa acusou isso e, se juntarmos a elevada dificuldade dos jogos nesse lapso temporal, encontramos boa parte dos motivos para a situação delicada em que caímos.
Sente que o Vitória foi muito penalizado por erros de arbitragem?
JC – No início sim, mas agora não. De resto, também não podemos passar a vida a agarrar-nos ao passado. Os jogadores sabem, porque eu lhes peço diariamente, que devem manter o foco no presente para ver se somos bem-sucedidos no final. Não nos agarramos a situações passadas, mesmo sabendo as consequências que tiveram; não vamos fazer de conta que não aconteceram, porque aconteceram, mas temos de aprender com tudo o que se passa ao longo da época. Atrevo-me a dizer, e já tenho muitos anos disto, que esta é uma das épocas mais difíceis que tive nas mais variadas dimensões da carreira, como treinador, como dirigente e como jogador.
Apontuação não estica…
JC – Os resultados desportivos também não estão tão maus como os pintam. O Vitória tinha e tem como objetivo principal a permanência. Somos realistas. Queríamos estar mais acima e fizemos por isso. Fomos fortemente penalizados mas essas coisas acontecem. Temos é de saber reagir. Nestas duas épocas, fomos eliminados da Taça de Portugal por Sporting e Benfica – não me parece desprestigiante. Na Taça CTT fomos duas vezes consecutivas à final-four – num ano eliminámos o Sporting, no outro o Benfica. Na época passada fizemos um campeonato mais tranquilo, andámos sempre a meio da tabela e nunca estivemos pressionados. O problema é que, de uma temporada para outra, mudaram 14 jogadores.
Uma equipa quase toda nova...
JC – Passámos a ser uma equipa com muito potencial mas mais inexpe- riente. E como tem vindo a crescer com a competição, acho que está tudo dentro da normalidade. Não é por acaso que levamos nove jogos sem perder: os jogadores têm qualidade. Agora, temos de melhorar. E todos nós sabemos que o próximo embate, com o Belenenses, será muito importante para consolidar o crescimento.
Como encarou as baixas na equipa?
JC – Para lá do Gonçalo perdemos também o César. Se associarmos a isso o facto de termos ficado sem o Venâncio em agosto, estamos a falar de perdas em posições fulcrais. Se a equipa já não tinha muita altura, ficou ainda mais deficitária no capítulo dos esquemas táticos.
O Gonçalo estava a crescer. A equipa não irá ressentir-se?
JC – A saída dele não pesa apenas como ausência do nosso ponta-delança de referência. Tem reflexos emocionais na própria equipa, o que é perfeitamente natural – se tirarem o Cristiano Ronaldo ao Real Madrid, o Messi ao Barcelona ou o Jonas ao Benfica, o coletivo é afetado. Mas o mais importante é que a equipa tenha capacidade para rea-
“QUERÍAMOS ESTAR MAIS ACIMA E FIZEMOS POR ISSO. MAS OS RESULTADOS TAMBÉM NÃO ESTÃO TÃO MAUS COMO OS PINTAM” “PELO QUE VI EM CHAVES, ESTOU MUITO CONFIANTE DE QUE A EQUIPA TEM CAPACIDADE PARA REAGIR À ADVERSIDADE”
gir à adversidade e, pelo que vi em Chaves, estou muito confiante de que isso vai suceder connosco. As épocas permitem oportunidades para todos, a arte está em saber agarrá-las. E é isso que todos têm feito.
Entre prós e contras há motivos para alimentar o otimismo até final da época?
JC – Estamos claramente otimistas: o V. Setúbal irá atingir os objetivos que passam, fundamentalmente, por não descer de escalão. Levámos um soco no último dia do mercado, com a saída do Gonçalo Paciência, mas a equipa reagiu muito bem. Agora vem o André Pereira mas, em Chaves, o Edinho fez um grande jogo. *