M ÁRI O WI LSON
A aparência indolente contrastava com a firmeza da voz e a força das palavras; assentava num estilo veemente, exaltante, apaixonado e, mesmo quando a mensagem parecia óbvia, revelava o condão da surpresa e do desassombro. Tinha também um sentido de humor apurado, muitas vezes sarcástico. Antes de ser treinador era um homem com convicções e interventivo em termos sociais. Pugnou sempre pela justiça, rebelou-se contra a ditadura e levou uma vida inteira a transmitir esses princípios aos jogadores, assumindo sempre o objetivo de melhorá-los técnica e taticamente mas sem descurar o Mundo que os rodeava.
A expressão de homem sensível e imprevisível foi definida pouco depois de chegar a Lisboa, em 1949. Veio para representar o Sporting e substituir Peyroteo mas virou costas à grandeza do leão e à
CÂNDIDO DE OLIVEIRA INSPIROU-O. E ELE TORNOUSE UM DOS MELHORES TREINADORES DA HISTÓRIA
pressão de ocupar o posto do maior bombardeiro do futebol português. Rumou a Coimbra (1951) e lá fez a carreira como jogador, não como avançado mas como defesacentral e cedo chegou a capitão de equipa.
A vida alterou-se quando Cândido de Oliveira se tornou treinador dos estudantes, em 1955/56. O Mestre impregnou-o de conceitos humanos e futebolísticos; viu nele um auxílio precioso e, sem abdicar da sua contribuição como jogador, convidou-o para adjunto. Mário Wilson aperfeiçoou os conceitos que condu- ziram a um jogo bonito, tricotado, inteligente, feito de posse e movimento, que correspondia, afinal, ao legado de uma história que o próprio Cândido tinha lançado ainda na década de 20.
Após a morte do Mestre, em 1958, mas antes ainda de consolidar a lenda em que se tor- nou pela vida fora, o Velho Capitão acumulou funções com todos os treinadores que passaram pelo clube. Em 1964 assumiu o cargo para construir o período dourado do futebol da Académica. A equipa era excelente, com jogadores extraordinários, mas foi ele, pelo modo como orientou a sua intervenção no grupo, a força motora desse período inesquecível. A personalidade, a figura esmagadora, os conhecimentos técnicos e o dom da palavra ajudaram a transportá-lo, a ele e à equipa, para a primeira linha do mediatismo nacional. Mesmo fora dos centros de decisão do país, a Académica tornou-se referência absoluta do fute- bol. Pelos resultados mas também pela peculiar base ideológica em que alicerçava a sua essência como clube. Pelo tempo fora, foi campeão pelo Benfica e duplo vencedor da Taça de Portugal; foi selecionador nacional e estrela em quase todos os clubes que representou. Sempre como figura maior do futebol português. E assim permaneceu, mesmo quando se retirou do grande palco. *