Título ‘superou’ parto
Doença terminal abalou o mundo de Daniel Raimundo, mas assegura a Record que vai à luta: “Pode ser um ‘jogo’ difícil, mas estou cá para lutar pela vitória. Nem que marque aos 90’+2”
Teresa, amiga de longa data que o foi buscar à Bélgica e desde então fundamental no dia a dia. “Ela nunca tinha ido ‘à bola’. Não tem clube e nunca tinha entrado num estádio. Disse que foi uma experiência gira. Transformá-la em adepta? Isso queria eu! Mas é o que ela diz, nestes últimos dias fez coisas que nunca imaginava fazer na vida. Quando é que ela pensava arrancar daqui e ir até à Bélgica, só para me ir buscar? Ou assistir ao vivo a um jogo? Nunca”, vinca.
Lugar reservado
Tal como na sua infância, quis o destino que Daniel voltasse a en- trar num estádio lado a lado com o seu pai, o “grande culpado” por ser leão. “Nele também se via a felicidade. Tem 63 anos mas está reformado por invalidez desde os 50, não anda como deve ser. Às vezes está três semanas sem sair de casa. Ontem [quarta-feira] quase corria! “, relata, confessando estar agora “ainda mais” confiante que a festa em maio será feita com tons de verde e branco e que terá mesmo um lugar reservado para si. “Título? Parece estar renhido, mas está dedicado a mim, como o da Taça CTT. Ainda vou arranjar maneira de ir no autocarro para o Marquês!”, atira, confiante. * Curiosamente, Daniel Raimundo nasceu praticamente ao mesmo tempo que o Sporting se sagrava... campeão. Na última jornada de 1973/74, os leões precisavam de vencer na deslocação ao terreno do Barreirense, perante uma enchente de sportinguistas no Barreiro. Um deles era... José Raimundo, que devido ao jogo do título perdeu o parto do filho. “Nasci à 1h20 da manhã. O meu pai foi primeiro ver o jogo e depois é que foi ver o filho. Apareceu lá com uma bandeira com a imagem do Yazalde [antigo avançado argentino dos leões]”, conta Daniel, que guardou essa relíquia. E o que é certo é que Yazalde marcou mesmo com o Barreirense, numa vitória por 3-0 que ofereceu o título aos leões. Só que em 2014, após anos e anos a fio com a bandeira, Daniel perdeu-a. “Estava em Coimbra e deixei-a num apartamento, mas tive de me vir embora de repente. Quando lá voltei perdi-lhe o rasto. Era a única coisa que fazia questão de manter”, confessa. *