PROVAR A TODOS QUE ESTAVAM ERRADOS
Daniel quer regressar à Bélgica para contrariar os médicos que lhe deram dois meses de vida
Taxista de profissão, Daniel rumou à Bélgica a 29 de julho de 2017, com o intuito de procurar novas oportunidades e ajudar a irmã que ali reside. Naquela que foi a primeira vez que emigrou - e num país que o impressionou pela organização -, assumiu-se como um “faz-tudo”. Registou-se no sistema de saúde belga, a 16 de novembro, mas nada lhe foi diagnosticado. Mês e meio depois, dirigiu-se de novo ao posto, após uma perda de peso abrupta (dos 80 para os 60 quilos), e foi aí que recebeu a pior das notícias: um cancro
A 29 DE JANEIRO, 3 BOMBEIROS E UMA ENFERMEIRA DO BARREIRO FIZERAM-SE À ESTRADA E FORAM BUSCAR DANIEL À BÉLGICA
na zona do pâncreas que rapidamente se alastrou. “Disseram-me que tinha dois meses de vida, mais coisa menos coisa. Propaga-se muito rapidamente, já conhecia outros casos de pessoas que só tinham tido 15 dias. Se ainda tivesse algo que se fosse desenvolvendo teria tido mais espaço de manobra... Explicaramme que se iniciasse lá a quimiote- rapia já não regressava. A minha vontade sempre foi voltar para Portugal, mas não tinha dinheiro. De avião não podia vir, por causa da pressão e da turbulência”, revela, admitindo que o apelo por ajuda que fez no Facebook, que levou a milhares de partilhas, foi feito “sem ter ideia nenhuma do que ia acontecer”.
Foi graças à divulgação emocionada da sua situação que um grupo de três bombeiros e uma enfermeira do Barreiro se chegaram à frente, disponibilizando-se para o transportarem de carro para o país que ama. “Estive lá precisamente seis meses. Cheguei a 29 de julho e voltei a 29 de janeiro”, salienta.
Objetivo em mente
O drama que vive não lhe retira as forças para lutar. Já na companhia dos seus, estando por agora a viver em casa da avó, situada no Lavradio, onde recebe visitas diárias dos seus familiares, Daniel tem já uma motivação diária: quer regressar à Bélgica e ter mais uma conversa cara a cara com o grupo de médicos que lhe deram somente dois meses de vida.
“Sempre tenho dito que no próximo dia 29 de julho quero estar outra vez no hospital de Gent, para completar o ‘ciclo’. Quero mostrar-lhes que não foram nada dois meses e que, pelo contrário, ainda cá estou”, remata Daniel, convicto de que esta luta não o irá derrotar, de tal forma que iniciará amanhã os tratamentos. *