O CANÁRIO GIGANTE DESGRAÇOU O LEÃO
A perfeição estorilista tornou ineficaz o ataque leonino e fez a vida num inferno à sua defesa. O resultado não merece discussão
Foi um canário gigante, agressivo e talentoso, generoso e inteligente, corajoso e perfeito em tudo o que fez, aquele que desgraçou um leão que sofreu no Estoril a primeira derrota da época em competições nacionais. Poderá dizer-se que, jogando ao seu nível, o grande dificilmente é superado por adversários mais frágeis; que o pequeno raramente é protagonista mesmo quando ganha; mas abramos uma exceção para o que ontem sucedeu no António Coimbra da Mota: reconhecendo que o Sporting jogou abaixo das suas possibilidades, foi o Estoril que venceu o jogo. Por atitude, por sentido estratégico, pelo escrupuloso cumprimento do plano e pela qualidade dos jogadores. A equipa de Ivo Vieira foi capaz de anular quase por completo o poderoso adversário, o que já seria um feito enorme, mas conseguiu mais do que isso, ao aproveitar as fraquezas para se atirar a ele e deixá-lo KO em menos de 45 minutos. Mesmo depois do intervalo, quando o Sporting se mostrou mais pressionante, o Estoril respondeu à altura. Renan Ribeiro viu a bola rondar-lhe mais vezes a baliza mas foi Rui Patrício a brilhar nas ocasiões em que os canarinhos foram ao outro lado do terreno. O capitão leonino ainda evitou que os números da derrota fossem mais desnivelados.
Estoril perfeito
Ahistóriado jogo começouno modo como o Estoril equilibrou as operações e discutiuo espaço palmo apalmo; como, a favor do vento fortíssimo, recusouo pontapé paraafrente, correndo todos os riscos num futebol elaborado de trás, face à forte pressão leonina, cuja intensidade cresceu à medida que o marcador se foi desequilibrando. O atrevimento estorilista esteve nessa intenção sempre presente de ter uma palavra adizer no jogo, primeiro quando reclamou a posse da bola, depois quando teve de resguardar-se perante um adversário a jogar quase em exclusivo junto à área de Renan Ribeiro. Nessaaltura, aequipade Ivo Vieira defendeu como lhe competia mas não deixoude intimidar o antagonista e de lhe criar a sensação de que, a qualquer momento, uma transição rápidaoumesmo umcontra-ataque podia fazer-lhe mossa. E foi a capacidade para manter acesa a chama da ambição que levou o Estoril à vantagem no marcador. A equipa teve a arte de, aceitando o domínio leonino, nunca descurar as possibilidades de chegar ao golo; revelou o talento para, estando sempre mais próximo de sofrer, acreditar tanto naquilo que estava a fazer que nunca lhe passou pela cabeça outra coisa
que não fosse lutar pela vitória. O Sporting foi uma equipa guerreira, que estimulouo instinto ofensivo, instalou-se no meio campo contrário mas não revelou inspiração para ultrapassar a muralha adversária e revelou incómodo permanente face à ousadia de quem, mesmo em dificuldade, foi capaz de lhe criar embaraços, os mais relevantes, claro, os dois golos que faziam o resultado.
Sporting espevitado
O Sporting veio melhor do balneário, mais intenso, mais decidido, com mais soluções no jogo combinado de aproximação à baliza. Nos primeiros instantes, os leões conseguiram mesmo ganhar alguns duelos individuais, dando a noção de que estavam a preparar caminho à recuperação. Mas foi sol de pouca dura, porque essa equipa espevitada e mais perigosa não deu seguimento às ameaças. Ao fim de 20 minutos, o Estoril dera maior eficácia defensiva à tarefa e recuperou o instinto de sair de trás em velocidade, criando lances de perigo à defesa verde e branca. Aos 70 minutos, chegou a festejar-se o 3-0, quando André Claro meteu a bola na baliza. O VAR anulou por fora-de-jogo, repetindo a decisão no último lance do jogo, quando Montero julgou ter reduzido para 1-2.*