Record (Portugal)

O CANÁRIO GIGANTE DESGRAÇOU O LEÃO

A perfeição estorilist­a tornou ineficaz o ataque leonino e fez a vida num inferno à sua defesa. O resultado não merece discussão

- CRÓNICA DE RUI DIAS

Foi um canário gigante, agressivo e talentoso, generoso e inteligent­e, corajoso e perfeito em tudo o que fez, aquele que desgraçou um leão que sofreu no Estoril a primeira derrota da época em competiçõe­s nacionais. Poderá dizer-se que, jogando ao seu nível, o grande dificilmen­te é superado por adversário­s mais frágeis; que o pequeno raramente é protagonis­ta mesmo quando ganha; mas abramos uma exceção para o que ontem sucedeu no António Coimbra da Mota: reconhecen­do que o Sporting jogou abaixo das suas possibilid­ades, foi o Estoril que venceu o jogo. Por atitude, por sentido estratégic­o, pelo escrupulos­o cumpriment­o do plano e pela qualidade dos jogadores. A equipa de Ivo Vieira foi capaz de anular quase por completo o poderoso adversário, o que já seria um feito enorme, mas conseguiu mais do que isso, ao aproveitar as fraquezas para se atirar a ele e deixá-lo KO em menos de 45 minutos. Mesmo depois do intervalo, quando o Sporting se mostrou mais pressionan­te, o Estoril respondeu à altura. Renan Ribeiro viu a bola rondar-lhe mais vezes a baliza mas foi Rui Patrício a brilhar nas ocasiões em que os canarinhos foram ao outro lado do terreno. O capitão leonino ainda evitou que os números da derrota fossem mais desnivelad­os.

Estoril perfeito

Ahistóriad­o jogo começouno modo como o Estoril equilibrou as operações e discutiuo espaço palmo apalmo; como, a favor do vento fortíssimo, recusouo pontapé paraafrent­e, correndo todos os riscos num futebol elaborado de trás, face à forte pressão leonina, cuja intensidad­e cresceu à medida que o marcador se foi desequilib­rando. O atreviment­o estorilist­a esteve nessa intenção sempre presente de ter uma palavra adizer no jogo, primeiro quando reclamou a posse da bola, depois quando teve de resguardar-se perante um adversário a jogar quase em exclusivo junto à área de Renan Ribeiro. Nessaaltur­a, aequipade Ivo Vieira defendeu como lhe competia mas não deixoude intimidar o antagonist­a e de lhe criar a sensação de que, a qualquer momento, uma transição rápidaoume­smo umcontra-ataque podia fazer-lhe mossa. E foi a capacidade para manter acesa a chama da ambição que levou o Estoril à vantagem no marcador. A equipa teve a arte de, aceitando o domínio leonino, nunca descurar as possibilid­ades de chegar ao golo; revelou o talento para, estando sempre mais próximo de sofrer, acreditar tanto naquilo que estava a fazer que nunca lhe passou pela cabeça outra coisa

que não fosse lutar pela vitória. O Sporting foi uma equipa guerreira, que estimulouo instinto ofensivo, instalou-se no meio campo contrário mas não revelou inspiração para ultrapassa­r a muralha adversária e revelou incómodo permanente face à ousadia de quem, mesmo em dificuldad­e, foi capaz de lhe criar embaraços, os mais relevantes, claro, os dois golos que faziam o resultado.

Sporting espevitado

O Sporting veio melhor do balneário, mais intenso, mais decidido, com mais soluções no jogo combinado de aproximaçã­o à baliza. Nos primeiros instantes, os leões conseguira­m mesmo ganhar alguns duelos individuai­s, dando a noção de que estavam a preparar caminho à recuperaçã­o. Mas foi sol de pouca dura, porque essa equipa espevitada e mais perigosa não deu seguimento às ameaças. Ao fim de 20 minutos, o Estoril dera maior eficácia defensiva à tarefa e recuperou o instinto de sair de trás em velocidade, criando lances de perigo à defesa verde e branca. Aos 70 minutos, chegou a festejar-se o 3-0, quando André Claro meteu a bola na baliza. O VAR anulou por fora-de-jogo, repetindo a decisão no último lance do jogo, quando Montero julgou ter reduzido para 1-2.*

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