Record (Portugal)

Sporting livre

- Carlos Barbosa da Cruz Advogado

Fui incluído na lista dos ‘sportingad­os’, epíteto que já me tinha sido atribuído num ‘post’ recente do Facebook do presidente do Sporting, dirigido integralme­nte à minha pessoa. Já passei a idade de me preocupar com aquilo que as pessoas possam pensar ou dizer de mim e, portanto, estou-me nas tintas de me chamarem ‘sportingad­o’.

Contudo, se com isto se quer

dar a ideia, como parece, que há uns sportingui­stas de primeira, que ordeiramen­te calam e consentem, e outros de segunda, que alegadamen­te são inimigos, conspiram na sombra e organizam emboscadas, então já me incomoda.

Isto porque sou tão sportin

guista quanto o presidente. Já disse e repito: não tenho cartilha, não frequento tertúlias e cenáculos, não animo blogues, não conheço nenhum dirigente do Benfica ou do FC Porto, não faço lóbi, nem fretes, nem dou recados, não me refugio atrás do anonimato; também não insulto, nem invento.

Limito-me, como sócio do

Sporting, a exprimir a minha opinião, como aliás sempre fiz. Se há pessoas que se sentem incomodada­s, lamento, mas essas mesmas pessoas, curiosamen­te, nunca se coíbem, nem coibi- ram no passado, de dizerem o que pensam. Então temos este paradoxo: um presidente que diz tudo o que lhe apetece, sobre toda a gente, ‘myselfincl­u- ded’, mas quando falam dele, melindra-se.

Aanálise que faço de todo este

psicodrama da assembleia ge- ral tem justamente como pano de fundo esta dificuldad­e em conviver com o contraditó­rio. Admito que o presidente está mortinho por me punir e até instigar a minha expulsão de sócio, assim que tenha os instrument­os adequados para o efeito, com base na prática reiterada de delito de opinião.

Não vale a pena perder tempo a fazer-me um processo: confesso-me desde já culpado de ter opinião e não manifesto qualquer arrependim­ento. O saudoso Prof. Miguel Galvão Teles, durante uma intermináv­el reunião de assembleia geral do Sporting, das muitas que superiorme­nte dirigia, confidenci­ou-me um dia que o Sporting dava muito mais trabalho que os outros clubes. É verdade, porque no Sporting há esta cultura de as pessoas terem opinião e de se acharem no direito de a manifestar. Sempre foi assim e acho que sempre será; e não serão votações qualificad­as e alegadamen­te plebiscitá­rias que irão mudar, porque o que faz parte de nós não se aliena.

POR UM SPORTINGUI­STA QUE CALE AS VOZES DE MUITOS OUTROS SE ELEVARÃO NÃO VALE A PENA PERDER TEMPO A FAZER-ME UM PROCESSO: CONFESSO-ME DESDE JÁ CULPADO DE TER OPINIÃO E NÃO MANIFESTO QUALQUER ARREPENDIM­ENTO

Se o presidente, por interposto Conselho Fiscal, quiser expulsar-me de sócio porque opino, só me restará reagir nas instâncias competente­s. Mas duvido que ganhe alguma coisa com isso, porque por um sportingui­sta que cale as vozes de muitos outros se elevarão. A história ensina que quem reprime a liberdade, cedo ou tarde sai derrotado. Pode levar tempo, mas é assim, e ainda bem.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal