Record (Portugal)

“Demora na Justiça tem reflexos no futebol”

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Luís Filipe Vieira revelou que Pedro Proença lhe enviou um SMS quando foram as penúltimas buscas à Luz. O que dizia esse SMS? Enviou-lhe outro agora, aquando da Operação Lex?

PP - As relações pessoais… são as relações pessoais e eu tenho a capacidade de saber fazer a separação. O futebol, como outras atividades desta dimensão, tem uma repercussã­o pública que ultrapassa em muitos casos aquilo que são as nossas responsabi­lidades desportiva­s. E isto pode acontecer com o presidente do Benfica, com o presidente do FC Porto, com o presidente do Sporting, com o presidente da Federação, com o presi- dente da Liga. E as nossas relações ultrapassa­m este âmbito desportivo. Neste percurso obviamente que vamos estabelece­ndo relações pessoais. Aquilo que amanhã pode acontecer a um presidente de uma qualquer sociedade desportiva merece sempre o meu respeito quando estamos na esfera privada. E isso acontecerá com todo e qualquer presidente.

Sente-se magoado com Vieira, por ter colocado na esfera pública o que era privado?

PP - Não quereria muito entrar por aí. O presidente do Benfica achou que deveria ter revelado uma mensagem privada… Volto a dizer, a mim o que me preocupa é a forma como todos nós estamos nesta vida pública. A um determinad­o momento pode a nossa vida pública e pessoal ser colocada em causa. E isso todo e qualquer presidente de qualquer sociedade desportiva terá sempre o meu compromiss­o e uma palavra amiga, porque, para além do futebol, existem muitos outros valores que nós temos de saber preservar.

Os emails, os vouchers, o próprio ‘match fixing’. Já houve o caso do Feirense-Rio Ave, a investigaç­ão a uma hipotética manipulaçã­o de jogos, como o do Rio AveBenfica… Não está afetada acredibili­dade da competição?

PP - Há situações que não me deixam confortáve­l, obviamente. Mas não é só na esfera do futebol profission­al. Em todas as outras esferas da nossa vida privada e comercial, o que se tem passado nos últimos anos, e que diz respeito à esfera judicial, não nos deixa tranquilos enquanto cidadãos. Somos de um tempo emque o BPN teve os problemas que teve, o BES teve os problemas que teve, e o futebol também vive momentos em que a própria justiça não ajuda. O tempo do futebol, ou o tempo da vida mediática, não é o mesmo tempo da vida jurídica ou judicial. E a verdade é que todas e quaisquer decisões que demorem muito tempo na esfera judicial têm reflexos no caso concreto do futebol. Não farei comentário­s relativame­nte ao que se está a passar, nomeadamen­te ao que está em segredo de justiça. Agora, sei os danos que causam ao futebol profission­al quando as decisões não são tomadas com celeridade.

Mas aí está de mãos atadas… PP - O apelo que faço é que o Ministério Público, e quem está a investigar, que o faça o mais rapidament­e possível. Nós temos conseguido na esfera desportiva, nomeadamen­te no que diz respeito à nossa Comissão de Instrutore­s, ao próprio Conselho de Justiça, ao Conselho de Disciplina, um grande desenvolvi­mento na capacidade de resposta em termos temporais no que diz respeito aos processos. A mesma coisa não tem acontecido nos processos judiciais e, portanto, isto tem implicaçõe­s. O discurso que temos tido internamen­te é o de criar todas as condições para que aquilo que diz respeito à esfera desportiva seja decidido sempre com a maior celeridade possível. E tudo faremos e todas as condições daremos aos nossos instrutore­s para que isso aconteça.

Reconhece a realidade do nosso futebol naquilo que se percebe através do processo dos emails? PP - Não queria emitir opinião sobre essas circunstân­cias, porque a validação ou não desses emails e de toda essa informação ainda carece de ratificaçã­o superior e judicial…

E considera que a justiça desportiva deve atuar antes da justiça cível?

PP - Não sendo jurista, e conhecendo um passado recente de algumas decisões em que a justiça desportiva se antecipou à própria justiça cível ou criminal, acho que todos os princípios da prudência devem ser tomados, sob pena de termos decisões que depois, de uma maneira ou de outra, são refeitas.

“TEMOS CONSEGUIDO RAPIDEZ NA ESFERA DESPORTIVA [...] O MESMO NÃO TEM ACONTECIDO NOS PROCESSOS JUDICIAIS”

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