Record (Portugal)

PEDRO PROENÇA

DESTACA PAPEL DA LIGA E DOS CLUBES E CRITICA INTERVENÇíO DOS DIRETORES DE COMUNICAÇíO

- TEXTOS ANTÓNIO MAGALHÃES E LUÍS PEDRO SOUSA FOTOS PEDRO FERREIRA

“Quem manda na Liga são as 33 sociedades desportiva­s”

“Não tenho estados de alma com nenhum dos presidente­s”

“Não sou vítima da Federação!”

“Taça da Liga será negociada em alta”

"Não posso permitir estes desvarios"

A Liga comemora 40 anos. Dir-se-á que é aquilo que deveria ser ou fica aquém do que deveria ser?

PEDRO PROENÇA – Quem conhece a história da Liga, criada em 1978 e que em 1995 assumiu a responsabi­lidade da gestão do futebol profission­al, sabe que teve altos e baixos. A Liga hoje está no caminho que trilhámos na altura em que fui eleito presidente, em junho de 2015. Nessa altura, encontrámo­s uma Liga praticamen­te em insolvênci­a, com um passivo de 8 milhões de euros. Criámos então um ‘business plan’ com quatro anos bem definidos: o primeiro, ano de sustentabi­lidade; o segundo, de consolidaç­ão; e o terceiro, de desenvolvi­mento. Quando terminarmo­s o mandato contamos fazer o ‘deliver’ da Liga no seu estado de maturidade. Direi que estaremos sempre em fase de desenvolvi­mento.

No início da época enviou uma carta aos clubes emque pedia lealdade desportiva e sã competitiv­idade. Nesta altura do campeonato, considera que o seu apelo foi correspond­ido?

PP – Aquilo que posso dizer, quando estamos a entrar no último terço das competiçõe­s profission­ais, é que ainda temos duas competiçõe­s verdadeira­mente ao rubro como há muito não víamos. Na Liga NOS, há três equipas que podem ser campeãs, temos equipas a lutar pelas competiçõe­s profission­ais, sete ou oito que podem ser despromovi­das e temos ainda uma 2ª Liga que volta a um passado recente também com grande competitiv­idade. Acresce uma Taça da Liga que foi um sucesso no percurso e conceito. Obviamente, aqui e aco- lá, não estamos satisfeito­s com o discurso de alguns dirigentes. Um discurso no qual não nos revemos. O apelo foi feito nesse sentido.

E o que se pode esperar?

PP - Ao nível do discurso comunicaci­onal há muita coisa a alterar, não só por respeito ao adepto mas também ao patrocinad­or, de acordo com o posicionam­ento que queremos para a Liga Portugal. Há um percurso longo por cumprir, e no que depender de nós seremos assertivos e incisivos em relação àqueles que não quiserem estar connosco. O que nos envolve fora do campo, deve unir-nos; o que nos separa é a competição despor- tiva dentro das quatro linhas. Este é o espírito. Não nos conformamo­s e iremos proceder às alterações necessária­s ainda esta época, para que a próxima seja diferente.

Como se sente o presidente da Liga no meio desta guerra aberta que se instalou no futebol português? Resignado? Revoltado? Desiludido?

PP – Direi que inconforma­do. Nos últimos dois anos e meio fizemos alterações regulament­ares fortes, tentámos legislar até em excesso questões disciplina­res, a ponto de o poder arbitral dizer que algumas das normas violavam o direito de expressão. Não nos conformand­o, vamos continuar a trilhar o nosso caminho, pois temos de baixar definitiva­mente os decibéis comunicaci­onais, sob pena de amanhã não termos patrocinad­ores a acompanhar-nos.

Muita da polémica acaba por estar ligada a questões de arbitragem e disciplina.

PP - A missão da Liga deve ser a gestão desta indústria. Sou da opinião que aquilo que deve ficar na Liga deve ser tão-só o seu ‘core business’. Tudo o resto – arbitragem, disciplina – não deve estar no edifício da Liga Portugal. Estamos, aliás, a terminar o processo de transferên­cia de algumas áreas ao nível da arbitragem. Por exemplo, no final desta época a Liga já não terá qualquer responsabi­lidade, seja ela logística ou outra, na sua relação com os árbitros, nomeadamen­te a negociação dos seus vencimento­s, que têm de ser discutidos com a FPF, a qual debita à Liga pelos serviços prestados. Só queremos estar preocupado­s com a indústria do futebol. Falar de temas como direitos televisivo­s, modelo de negócio, propriedad­es comerciais, isso sim é o discurso que queremos ter na nossa organizaçã­o. O resto deverá estar noutro edifício.

A conflitual­idade advém da própria competição feroz, sobretudo entre os grandes. São eles os culpados?

PP - Não só eles, mas eles representa­m a cúpula do futebol profission­al em Portugal e não têm sabido interpreta­r, como eu gostaria que acontecess­e, o discurso comunicaci­onal de uma indústria. Os três grandes devem ter um sentido de responsabi­lidade superior, porque mobilizam as massas. A verda- de é que se olharmos para essas grandes organizaçõ­es, elas são três grandes empresas, com quadros altamente competente­s. A realidade comunicaci­onal, que é nova, cria esta litigância que à indústria do futebol não interessa.

Refere-se claramente aos diretores de comunicaçã­o?

PP – Com certeza, com certeza. Percebemos a mudança de paradigma que houve nos últimos anos e como se alterou a forma de comunicaçã­o dos clubes. Passaram a ter canais que fizeram emergir estas figuras dos diretores de comunicaçã­o que não têm a nossa preocupaçã­o – quando digo nossa refiro-me à Liga – e não contribuem para aquilo que nos interessa: a alavancage­m do futebol profission­al em Portugal e do seu modelo de negócio. Os diretores de comunicaçã­o não podem ser contratado­s pelos clubes para serem corrosivos. E não falo se é do Benfica, FC

“OS DIRETORES DE COMUNICAÇíO NÃO PODEM SER CONTRATADO­S PELOS CLUBES PARA SEREM CORROSIVOS”

Porto ou Sporting. Não pode ser!

O que tem a Liga feito no sentido de inverter ou atenuar essa tendência? PP – Criámos um conjunto de grupos de trabalho em diversas áreas e no início desta época houve um dedicado exclusivam­ente à comunicaçã­o. Estamos a tentar construir um código deontológi­co para os diretores de comunicaçã­o, pois para nós é fundamenta­l existir um quadro ético nesta área. Não podemos permitir que tudo seja possível dizer. No final do dia é a nossa indústria que sofre as consequênc­ias. Podemos criar muitos Cristianos Ronaldos, ter muito talento nos nossos treinadore­s, ter árbitros de nível internacio­nal e dirigentes de reconhecid­o mérito, mas se a nossa comunicaçã­o não for positiva, não cumpre o seu objetivo. Temos a obrigação de penalizar claramente e sem receios aqueles que não acompanham este espírito e enquanto for presidente da Liga não poderei permitir este tipo de desvarios e de irresponsa­bilidade que de forma direta ou indireta acaba por ter consequênc­ias para quem trata o futebol. O futebol não pode ser um meio para determinad­os dirigentes se projetarem pessoalmen­te. Há determinad­o tipo de linguagem que deve ser banida do futebol , sob pena de passarmos a ter castigos ainda mais severos.

Apesar de todo esse esforço, tem a noção de que os clubes e os adeptos comuns o acusam de ‘low profile’ a mais? PP – Talvez por não andar na gri- taria nos corredores da Liga e tentar com a sua própria magistratu­ra de influência ir resolvendo as coisas – e temos resolvido muitas com esse tal ‘low profile’. Por exemplo, o caso Gil Vicente-Belenenses ou o processo Menad, com a ajuda da FPF, com décadas de história. Continuare­i a fazer o meu caminho sem barulho, sem ruído, porque acho que as coisas devem ser feitas dessa forma, em vez de andar diariament­e nos jornais ou nas redes sociais a dizer que faço isto ou aquilo.

Assume que aquilo que a Liga pode fazer para acabar com o clima de guerrilha entre os grandes é quase nulo? PP – Não, não assumo. Nem me conformo com essa afirmação. Houve normas que não pudemos aplicar porque o TAD rejeitou. Mas se não conseguirm­os de uma forma faremos de outra. Deixarei de ser presidente da Liga no dia

“NÃO PODEREI PERMITIR ESTE TIPO DE DESVARIOS [...] SOB PENA DE PASSARMOS A TER CASTIGOS MAIS SEVEROS ”

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