O homem do tudo ou nada
NÃO VALE A PENA TRAVAR TODAS AS GUERRAS AO MESMO TEMPO. AINDA ASSIM, MESMO NUM TEMPO ERRADO, BRUNO DE CARVALHO JOGA ALTO INTERNAMENTE PORQUE SABE QUE IRÁ GANHAR. A QUESTÃO É QUE AS VOZES DISCORDANTES E A PRESSÃO CONTINUARÃO A EXISTIR. SEMPRE
Passados cinco dias, (talvez) 20 programas de televisão, centenas de posts no Facebook (alguns do próprio), milhares de tweets (até um do PS), o que se pode ainda dizer sobre o Sporting e a omnipresente figura de Bruno de Carvalho?
Pela minha parte, preferia não escrever este texto.
O Sporting precisaria de tudo menos do ruído que está no ar, e qualquer pessoa com um módico de bom senso seria capaz de antecipar uma parte da gritaria em curso.
As questões que estavam – e seguem na mesa –
são relevantes e não menores, não são nada instrumentos para alguém se perpetuar no poder, mas não tinham qualquer urgência.
Umaquestão é discuti-las sem medo –
e entre o catálogo de defeitos de BdC não está o medo –, a outra é fazer a discussão no tempo errado. Este seria sempre o tempo errado, mesmo sem emails, vouchers e Operação Lex. Ora, com o Benfica debaixo do foco, o Sporting deveria estar estrategicamente a fazer o seu caminho e, taticamente, a incomodar os rivais. Como é da vida e dos livros. Não vale a pena culpar o jornalismo. As coisas são o que são.
Noutro plano, anda por aí muita gente inquieta com o estilo,
sempre o estilo, do presidente do Sporting. Não alinho nesse coro. Proponho até um exercício de memória: quando Luís Filipe Vieira se dirigiu aos sócios na última assembleia do Benfica (uma em que andaram cadeiras pelo ar), o vernáculo fazia corar as pedras da calçada. As gravações circularam nas afamadas redes socais (e chegaram aos meios tradicionais) e não houve nenhum sobressalto cívico com os termos usados. Dizem que é a linguagem do futebol e talvez seja. Nunca a acho apropriada para usar publicamente, mas sublinho a diferença de tratamento entre um caso e outro. É verdade que a sobre-exposição de Bruno de Carvalho, atacando tudo o que mexe, quando vale a pena e quando não vale, embora ele esteja convencido que vale sempre, faz do presidente do Sporting um alvo mais fácil e muito mais apetecível, em contraste com a posição de ‘estadista’ de Vieira – mesmo que agora um estadista a braços com uma série de problemas. Os conhecidos e os que estão para surgir, é ler a revista ‘Sábado’ de hoje.
Bruno de Carvalho joga tudo na assembleia geral do dia 17?
Joga e não o deveria fazer. Ter poder significa sempre ter vozes discordantes e alta pressão. Isso, mesmo que saia sufragado, não vai mudar e não vale a pena travar todas as guerras ao mesmo tempo. Mas, sem ter acesso a nenhu- ma informação privilegiada, joga porque sabe que vai ganhar.
Subsistem riscos, é certo.
Tendo superado os mais relevantes desafios internos e externos, Bruno de Carvalho procura agora no futebol a coroa de glória. Tudo está em aberto.
Citando de novo Luís Filipe Vieira –
e de memória – os presidentes não jogam, nem marcam golos. Escusam de marcar autogolos.