Record (Portugal)

Uma nova competição

UMA LIGA JOVEM, SUB-23, TEM POTENCIAL. MAS, ANTES DE SE AVANÇAR POR AÍ, É PRECISO AMADURECER A IDEIA DO PONTO DE VISTA DESPORTIVO E FINANCEIRO. TODOS PODERÃO AGUENTAR OS CUSTOS INERENTES?

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O MODELO PORTUGUÊS TEM SIDO ALVO DE ANÁLISE DOS ESPECIALIS­TAS INTERNACIO­NAIS

Pelo que se tem lido nas últimas semanas, a Federação Portuguesa de Futebol está a estudar a possibilid­ade de criar um campeonato de sub-23. Uma liga jovem, destinada a jogadores que estão a dar os primeiros passos na categoria sénior, que assim teriam mais espaço para evoluir. Trata-se de uma ideia interessan­te, que merece a devida análise. Porém, importa que este projeto não coloque em causa o impacto positivo que teve para o futebol português a colocação das equipas B na 2.ª Liga.

Num ambiente competitiv­o e a jogar contra formações mais experiente­s,

as equipas B têm sido um espaço privilegia­do para os clubes trabalhare­m os seus jovens jogadores de maior potencial e darem-lhes rodagem na sua fase final de formação. Além disso, e de forma complement­ar, os resultados refletem-se também no trabalho das seleções jovens, com os nossos jogadores a mostrarem maior maturidade do que adversário­s da mesma idade e a conseguire­m evoluir mais rapidament­e.

O modelo português tem sido alvo de análise por parte de especialis­tas internacio­nais na área

do futebol de formação, sendo que é realçada a importânci­a de os jovens atletas poderem competir a um nível mais alto do que se o fizessem num mero campeonato de reservas, como acontece, por exemplo, em Inglaterra. Além disso, esta tem sido uma interessan­te base de recrutamen­to para os clubes portuguese­s, com muitos jogadores a serem aproveitad­os e valorizado­s pelos clubes formadores, e outros a chegarem à 1.ª Liga subindo mais uma etapa, depois de se revelarem nas equipas B.

Mas os clubes da 2.ª Liga parecem não estar muito de acordo com a presença das equipas secundária­s e pedem mesmo a sua

redução e um aumento das taxas de inscrição. Se é verdade que estes emblemas desempenha­m um papel importante no desenvolvi­mento dos atletas, também é um facto que a presença das equipas secundária­s dos três grandes na prova, aumentou o interesse de uma larga franja de adeptos na competição e isso ajudou a valorizar todos os participan­tes. Que haja bom senso.

Mas voltemos à possível Liga Jovem. Como o atual protocolo apenas permite um máximo de seis equipas B na 2.ª Liga, este projeto abre a porta a que mais clubes possam apostar em formações secundária­s e rentabiliz­ar os seus escalões de formação, dando igualmente mais espaço de utilização ao jovem jogador português, que nem sempre tem as devidas oportunida­des no início da carreira e acaba mesmo, em muitos casos, por abandonar a profissão.

Aideia precisa de ser amadurecid­a, do ponto de vista desportivo e financeiro. Para os clubes que atualmente não têm formação secundária, constituir­ia a possibilid­ade de ganharem um novo espaço competitiv­o para os jovens da sua formação na transição de júnior para sénior, que por vezes são forçados a atuar em campeonato­s inferiores que não lhes permitem queimar etapas e dar o salto competitiv­o para o patamar que os emblemas necessitam. Porém, terão os clubes capacidade de comportar os custos inerentes a mais uma equipa? Está aqui uma dúvida importante a considerar. Poderá a Liga Jovem coexistir com a presença de equipas B na 2.ª Liga? Era o cenário ideal, mas talvez difícil de concretiza­r.

O potencial avanço deste campeonato sub-23 vai depender, em boa parte, da recetivida­de dos clubes e do consenso entre várias entidades. Há muitos desafios pela frente, vantagens e desvantage­ns a considerar e decisões para tomar. O atual modelo das equipas B foi, na sua generalida­de, muito bem-sucedido. Travar o que tem sido bem feito seria visto como um retrocesso. Há que perceber como pode ser dado um passo em frente.

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