O eterno Mestre da Tática
O relvado concebia-o como se fosse um imenso tabuleiro de xadrez. Para ele, o futebol era, acima de tudo, um jogo de estratégia, que precisava de ser estudado e refletido para tomar as decisões certas; sempre entendeu que o sucesso dependia de pormenores, base de tantas e tantas vitórias inesquecíveis das equipas que concebeu e dirigiu. Manuel Oliveira é o eterno Mestre da Tática, um dos mais ilustres pensadores que o jogo conheceu em Portugal e um espírito inquieto que dedicou toda a vida ao futebol. Foi um homem de convicções, zeloso das suas competências, que reagia mal quando não lhe atribuíam o mérito considerado justo face às suas opções, tantas vezes inovadoras do ponto de vista estratégico, algumas delas no próprio conceito europeu. Foi um perpétuo pensador do jogo, génio da conceção e perfeito detetor de fragilida-
FOI UM PENSADOR DO JOGO, GÉNIO DA CONCEÇÃO E PERFEITO DETETOR DE FRAGILIDADES ADVERSÁRIAS
des adversárias que aproveitava com mestria indiscutível. Passava horas a preparar os duelos e adorava dirigir jogadores que o ajudavam nas soluções, evoluindo para momentos nos quais as peças de xadrez que movia tinham vontade própria e acrescentavam massa cinzenta aos traços que fazia no quadro – uma das relações mais fortes e duradouras manteve-a até ao fim da vida com Jorge Jesus, que considerava seu discípulo, e para quem era o grande mestre. De resto, deixou marcas indeléveis em quase todos os jogadores que lhe e passaram pelas mãos, incluindo os mais insatisfeitos que, apesar disso, lhe reconheceram sempre os conhecimentos. Ajudou a formar gerações de técnicos, que se reviram no estilo e na elaboração estratégica do seu trabalho. Muitos herdaram a paixão pelo treino e pelo jogo. Outra das suas principais características foi o desassombro com que assumiu publicamente determinadas posições, umas contra a corrente, outras realçando a sua importância nos mais diversos contextos. Nunca se furtou à polémica, nem se calou quando sentia estarem a usurpar méritos que considerava seus – o episódio mais flagrante foi quando John Toshack chegou ao Sporting, em 1984/85, e reclamou os louros inovadores do 3x5x2, sistema que o Mestre logo reclamou ter concebido, com provas documentais, vinte anos antes na CUF. Já com idade avançada, Manuel Oliveira continuou a participar em conferências, palestras ou simples colóquios, nos quais se discutia o futebol, cuja qualidade considerava ter decrescido com o tempo. Aliás, resistiu até ao fim dos dias a reconhecer a evolução do jogo pela via de metodologias de treino inovadoras. Era a convicção de um homem obstinado na virtude da estratégia e da tática sobre todos os outros elementos da construção de uma equipa. *