A PEDRINHA FICOU NA LAMA HÁ 40 ANOS
Vítor Baptista acaba de marcar ao Sporting, perde o brinco de rubi nos festejos e o jogo pára
O caso que tem tanto de insólito como de revelador cumpre hoje 40 anos. Em plena corrida ao título de 1977/78, o Benfica recebe e vence o rival Sporting na Luz. O jogo é decidido com um único golo, o de Vítor Baptista. Os festejos diluem-se com algo mais: a procura do brinco daquele que se autointitulava como ‘o maior’. “O brinco cai quando a malta se abraça a ele. Naquele momento toda a gente começa à procura do brinco. Tinha chovido, o terreno estava um bocadinho enlameado, pesado, era difícil encontrar um brinco. Sem lama já era difícil… Sei que ele pôs inclusivamente o árbitro à procura e não queria recomeçar o jogo”, conta a Record António Bastos Lopes, o jogador que assiste Vítor Baptista para o ‘golaço’ a 12 de fevereiro de 1978. A busca incessante por uma “pedrinha vermelha”, como refere o antigo defesa, durou cerca de 10 minutos. “Alguns adversários também procuram e até o árbitro [Rosa Santos]. Alguém disse que arranjava o brinco e ele dizia que era um rubi. Dissemos-lhe que depois o comprávamos: ‘Vamos embora, vamos começar o jogo.’ Lá recomeçou e acabámos por ir depois todos à procura do brinco quando o jogo acabou. Mas está bem, depois de passarmos lá por cima a jogar…”, recorda Bastos Lopes, sobre o objetivo perdido para sempre. Por seu turno, Fernando Tomé, alguém que Vítor Baptista considerava como “irmão” e com
“O JOGO LÁ RECOMEÇOU E FOMOS À PROCURA DO BRINCO QUANDO O JOGO ACABOU”, LEMBRA ANTÓNIO BASTOS LOPES
quem tinha jogado no V. Setúbal, lembra quem “se calhar nasceu à frente do seu tempo”. “Nós dizíamos que o Vítor era um menino grande. A forma de ser dele não tinha maldade. Dizia-me já perto do fim da vida que queria ser observador de miúdos quando isso nem se falava”, vinca sobre o antigo futebolista, que faleceu em 1999, com apenas 50 anos, e que deixou “históricas fantásticas para contar”. Tomé revela uma sobre o célebre dérbi. “Virou-se para mim depois do jogo: ‘Já viste, irmão? Eu fui o único gajo que perdeu dinheiro a jogar futebol. O brinco custoume 12 contos e o prémio foi 10! Estava a trabalhar e perdi dinheiro”, revela, entre risos. *