Record (Portugal)

“COMUNICAÇíO SEMPRE COM O FOCO NAVITÓRIAF­INAL”

- TEXTOS ANTÓNIO MENDES FOTOS MOVENOTÍCI­AS

“AQUELE LEMA QUE FOI CRIADO, O ‘TODOS JUNTOS’, SIGNIFICA MUITO, PORQUE É UMA MENSAGEM BEM CLARA” Psicólogo do desporto integrou a equipa técnica da seleção e regista parte dos segredos da estratégia global, que esteve na base da conquista do Europeu. Tudo girou com critério em redor de um objetivo comum

Depois de tantas fases finais emque Portugal nunca conseguiu passar do “quase”, eis que surge finalmente a grande vitória. Havia aqui uma barreira psicológic­a para derrubar?

JORGE SILVÉRIO – Havia sobretudo a preocupaçã­o com aquelas que são considerad­as as selecções mais fortes e, principalm­ente, o histórico de resultados existente nos jogos contra Rússia e Espanha. Em 25 jogos, só tínhamos ganho um e foi um particular. Quando cheguei a este grupo, senti que se olhava muito e dava muita importânci­a a esses aspetos. E isso poderia, obviamente, constituir-se como um obstáculo. Em suma, claramente sim. Havia essa barreira.

Trabalhar na confiança do grupo e colocar o foco no caminho próprio que havia para percorrer foi o primeiro desafio?

JS – Tudo aquilo que foi feito foi nesse sentido, também em termos de comunicaçã­o, sempre feita com o foco na vitória final, porque muitas vezes as pessoas esquecem-se de que a forma de comunicar para fora e para dentro é muito importante. Tudo tem de ser programado e pensado em função do objetivo que o grupo tem e, aí, a equipa técnica e os dirigentes estavam perfeitame­nte em sintonia e definiram isso como um propósito comum a todos. Aliás, se olharmos à comunicaçã­o que foi feita, quer da parte da equipa técnica quer dos jogadores, notamos uma certa uniformida­de no discurso e uma mensagem que era comum a todos. A ideia inicial era essa – mudar um pouco o discurso que era mais normal e fazer um pouco como sempre disse o nosso selecciona­dor nacional: não olhar para os aspetos negativos e tentar encontrar coisas positivas e potenciá-las.

Presumo que a mensagem não seja direta, mas sim subliminar e em pequenos pormenores…

JS – Sim, sem dúvida e não é um trabalho exclusivo do psicólogo. Enquanto membro de uma equipa técnica, faço parte, digamos assim, da estratégia. Estratégia essa que é elaborada pelo selecciona­dor nacional e que, depois, é posta em prática. Aquele lema que foi criado, o ‘Todos Juntos’, significa muito, porque é uma mensagem passada para o exterior, mas também para o interior. Ou seja, todos os elementos do ‘staff’, sem exceção, foram extremamen­te importante­s no que conseguiu alcançar-se, porque todos tiveram a sua ação na estratégia global e coletiva. E não é só porque é politicame­nte correto que faz sentido dizer isto. Porque, de facto, cada uma das pessoas, na sua individual­idade, contribuiu para um objetivo que é comum a todos. Muitas vezes isto pode acontecer nos pequenos pormenores e são esses que fazem a diferença. Dou só um exemplo: vamos jogar a final com a Espanha e um jogador vai buscar o equipament­o e ouve o técnico dos equipament­os a dizer ‘ai e tal, nunca ganhámos à Espanha’... e isso pesa, pois está a reforçar o tal aspeto que nós não queremos. É importante que todas as pessoas do grupo percebam que estão no processo e são tão impor- tantes como os jogadores. É preciso, de facto, que toda a gente esteja mesmo ‘Junta’ e que não seja só um lema porque fica bonito dizer-se.

A estratégia foi assumida desde o início desta operação Euro’2018’?

JS – Sim. Claramente houve esse cuidado com reuniões sectoriais e nos encontros com os jogadores. No fundo, tudo o que faz parte do ‘ser equipa’ esteve aqui bem presente.

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J ORGE S I LVÉRI O

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