Jorge Braz “Esta é a Seleção do Ricardinho”
O selecionador nacional de futsal acreditou sempre que era possível o Europeu cair para Portugal e, unindo forças com o psicólogo Jorge Silvério, assume o foco no próximo objetivo "SOMOS CANDIDATOS AO MUNDIAL"
Quando disse que mais tarde ou mais cedo esta equipa haveria de chegar lá, era só fé ou a absoluta convicção de que havia mesmo qualidade para conseguir o maior feito do futsal português? JORGE BRAZ – Essa convicção já vem de há algum tempo e pareceume que este momento – o momento de maturidade dos jogadores mais experientes junto ao dos mais jovens – era o ideal, e por isso é que foi claramente traçado o objetivo de chegar às medalhas, ocultando um pouco a cor... mas as medalhas seria o mínimo. Sabíamos, desde o início, todos muito bem a cor que queríamos, mas preferimos ocultar um pouco isso. Sempre tive grande convicção, até pela qualificação que fizemos. Todo o grupo estava a sentir que, se havia momento em que podíamos alcan- çar algo, era este e isso sempre esteve muito claro entre nós.
Sentiu em algum momento que houve desconfiança? JB – Nunca senti isso, porque até nos momentos menos positivos, no processo de preparação, como foram aqueles dois empates antes do Europeu, com a Tailândia e Marro- cos, os próprios jogadores fizeram questão de reforçar as coisas boas que tinham sido feitas. Todos tinham noção do percurso que tínhamos de fazer e foi muito bom.
Consegue destacar um momento decisivo nesta conquista?
JB – Honestamente, nem consigo distinguir. Os jogos foram correndo e já sabia, por exemplo, que com a Roménia haveria sempre alguma hesitação, por ser o primeiro jogo, mas a forma como respondemos quando eles fizeram o 2-1 e reagir como reagimos quando a Ucrânia empatou... Quando vi os jogadores a olharem uns para os outros e a dizerem, claramente, que queriam ganhar o jogo, ganhando o grupo categoricamente, apesar de o empate chegar, percebi que os níveis de confiança e ambição, que já sentia no início da preparação, estavam bem lá no alto e que tudo era possível. Depois, ao vencer da forma tão categórica como vencemos o Azerbaijão, que é uma equipa muito complicada, fiquei ainda mais tranquilo e tinha a certeza de que com a Rússia, apesar da primeira parte menos conseguida, as coisas também iam correr bem e da forma mais natural. No fundo, foi o decorrer de todo o Europeu. O momento em si, não o consigo distinguir. Em todos os jogos, a tranquilidade foi tão grande e natural, em percebermos que ia cair para o nosso lado. Isso foi decisivo.
Portugal ultrapassa, finalmente, a Espanha. A partir de agora seremos mais respeitados?
JB – Já sentia isso, mas também com aquele sarcasmo de dizerem que, no momento da decisão, Portugal falhava sempre. Eles sabem que é sempre difícil, mas nós nunca tivemos esse sentimento neste Europeu. Desde os jogadores a todo o ‘staff’, percebi sempre que havia confiança. Havia um sentir muito positivo, em relação às tarefas de cada um, e sempre com um discurso de que, este ano, isto cai para o nosso lado. E quando encaramos isto desde o início, é normal
“TODO O GRUPO ESTAVA A SENTIR QUE, SE HAVIA UM MOMENTO EM QUE PODÍAMOS ALCANÇAR ALGO, ERA ESTE” “A FORMA TÃO CATEGÓRICA COMO FOMOS CAMPEÕES DA EUROPA FALA POR SI E DEMONSTRA A QUALIDADE DESTA EQUIPA”
que o sucesso esteja garantido. A forma como fomos campeões da Europa fala por si e é demonstrativa da qualidade desta equipa, que passa um grande exemplo às gerações mais jovens.
Que futuro para esta seleção?
JB – Temos pela frente um novo ciclo, com o Mundial, daqui a dois anos, mas primeiro há a qualificação para vencer seja com quem for. Temos obrigação de estar no Mundial e esse é o foco que nos move. E, no Mundial, somos fortes candidatos para ir lá para cima novamente. Temos de assumir-nos.
Portugal e esta geração já perdeu uma boa oportunidade para ganhar um Mundial, o último na Colômbia, ganho pela Argentina. Ficou um sabor amargo?
JB – Obviamente que sim. Podíamos ter conseguido algo mais, é um facto. Ainda andamos com o chavão de que o Brasil, a Espanha e a Rússia é que contam e que Portugal está lá para chatear, mas é preciso contar com outras seleções, como foi o caso da Argentina. Cuidado com o Paraguai e, principalmente, com o Irão, que venceu agora a Taça de Ásia, com uma perna às costas. Na altura, reconheço que perdemos uma oportunidade, mas ainda não estávamos na fase de maturidade competitiva em que estamos agora, com mais uma fase final e que, ainda por cima, ganhámos.
Háaqui umprocesso de renovação obrigatório e natural. Terá já efeitos para o Mundial?
JB – Mal acabou o Mundial na Colômbia, disse que muitos dos que lá estiveram iam fazer, pelo menos, mais três ou quatro fases finais. Ou seja, o núcleo está formado, e quando se está em tantas fases finais isto coloca a Seleção mais próxima de voltar a ganhar. No futuro, vamos ter cada vez mais opções e jovens mais identificados com o que é a exigência da Seleção Nacional e isso começa na base e com o que é essencial: o hábito de ganhar!
A sua renovação do contrato já estava planeada ou aconteceu em função do título europeu?
JB – Não estava dependente disso, como é natural. Esta renovação estava preparada, mas não estava minimamente preocupado com isso. Sei qual é o meu papel nesta Seleção. Foi-me apresentada a proposta, ainda antes do final do Europeu, e estava já convicto de que iríamos ter um novo ciclo como campeões europeus. A Federação quer que eu faça parte dele e isso é fantástico, pois os níveis de exigência são altos e é disso que gosto. O volume de trabalho é tão grande... E se estamos a trabalhar desta forma, isto tem de levar-nos ao topo com mais regularidade e não só de vez em quando. Com este trajeto vamos andar lá em cima muito mais vezes, e isso levou-me de imediato a dizer que sim a esta proposta, embora nunca esteja muito preocupado como meu currículo e carreira pessoais. Todos somos campeões europeus. Foi um objetivo comum e todos juntos chegámos. É com muita motivação que parto para um novo ciclo como se... fosse o primeiro. *
“PERDEMOS OPORTUNIDADE NA COLÔMBIA, MAS AINDA NÃO TÍNHAMOS A MATURIDADE COMPETITIVA QUE TEMOS AGORA”