Record (Portugal)

Jorge Braz “Esta é a Seleção do Ricardinho”

O selecionad­or nacional de futsal acreditou sempre que era possível o Europeu cair para Portugal e, unindo forças com o psicólogo Jorge Silvério, assume o foco no próximo objetivo "SOMOS CANDIDATOS AO MUNDIAL"

- TEXTOS ANTÓNIO MENDES FOTOS MOVENOTÍCI­AS

Quando disse que mais tarde ou mais cedo esta equipa haveria de chegar lá, era só fé ou a absoluta convicção de que havia mesmo qualidade para conseguir o maior feito do futsal português? JORGE BRAZ – Essa convicção já vem de há algum tempo e pareceume que este momento – o momento de maturidade dos jogadores mais experiente­s junto ao dos mais jovens – era o ideal, e por isso é que foi claramente traçado o objetivo de chegar às medalhas, ocultando um pouco a cor... mas as medalhas seria o mínimo. Sabíamos, desde o início, todos muito bem a cor que queríamos, mas preferimos ocultar um pouco isso. Sempre tive grande convicção, até pela qualificaç­ão que fizemos. Todo o grupo estava a sentir que, se havia momento em que podíamos alcan- çar algo, era este e isso sempre esteve muito claro entre nós.

Sentiu em algum momento que houve desconfian­ça? JB – Nunca senti isso, porque até nos momentos menos positivos, no processo de preparação, como foram aqueles dois empates antes do Europeu, com a Tailândia e Marro- cos, os próprios jogadores fizeram questão de reforçar as coisas boas que tinham sido feitas. Todos tinham noção do percurso que tínhamos de fazer e foi muito bom.

Consegue destacar um momento decisivo nesta conquista?

JB – Honestamen­te, nem consigo distinguir. Os jogos foram correndo e já sabia, por exemplo, que com a Roménia haveria sempre alguma hesitação, por ser o primeiro jogo, mas a forma como respondemo­s quando eles fizeram o 2-1 e reagir como reagimos quando a Ucrânia empatou... Quando vi os jogadores a olharem uns para os outros e a dizerem, claramente, que queriam ganhar o jogo, ganhando o grupo categorica­mente, apesar de o empate chegar, percebi que os níveis de confiança e ambição, que já sentia no início da preparação, estavam bem lá no alto e que tudo era possível. Depois, ao vencer da forma tão categórica como vencemos o Azerbaijão, que é uma equipa muito complicada, fiquei ainda mais tranquilo e tinha a certeza de que com a Rússia, apesar da primeira parte menos conseguida, as coisas também iam correr bem e da forma mais natural. No fundo, foi o decorrer de todo o Europeu. O momento em si, não o consigo distinguir. Em todos os jogos, a tranquilid­ade foi tão grande e natural, em percebermo­s que ia cair para o nosso lado. Isso foi decisivo.

Portugal ultrapassa, finalmente, a Espanha. A partir de agora seremos mais respeitado­s?

JB – Já sentia isso, mas também com aquele sarcasmo de dizerem que, no momento da decisão, Portugal falhava sempre. Eles sabem que é sempre difícil, mas nós nunca tivemos esse sentimento neste Europeu. Desde os jogadores a todo o ‘staff’, percebi sempre que havia confiança. Havia um sentir muito positivo, em relação às tarefas de cada um, e sempre com um discurso de que, este ano, isto cai para o nosso lado. E quando encaramos isto desde o início, é normal

“TODO O GRUPO ESTAVA A SENTIR QUE, SE HAVIA UM MOMENTO EM QUE PODÍAMOS ALCANÇAR ALGO, ERA ESTE” “A FORMA TÃO CATEGÓRICA COMO FOMOS CAMPEÕES DA EUROPA FALA POR SI E DEMONSTRA A QUALIDADE DESTA EQUIPA”

que o sucesso esteja garantido. A forma como fomos campeões da Europa fala por si e é demonstrat­iva da qualidade desta equipa, que passa um grande exemplo às gerações mais jovens.

Que futuro para esta seleção?

JB – Temos pela frente um novo ciclo, com o Mundial, daqui a dois anos, mas primeiro há a qualificaç­ão para vencer seja com quem for. Temos obrigação de estar no Mundial e esse é o foco que nos move. E, no Mundial, somos fortes candidatos para ir lá para cima novamente. Temos de assumir-nos.

Portugal e esta geração já perdeu uma boa oportunida­de para ganhar um Mundial, o último na Colômbia, ganho pela Argentina. Ficou um sabor amargo?

JB – Obviamente que sim. Podíamos ter conseguido algo mais, é um facto. Ainda andamos com o chavão de que o Brasil, a Espanha e a Rússia é que contam e que Portugal está lá para chatear, mas é preciso contar com outras seleções, como foi o caso da Argentina. Cuidado com o Paraguai e, principalm­ente, com o Irão, que venceu agora a Taça de Ásia, com uma perna às costas. Na altura, reconheço que perdemos uma oportunida­de, mas ainda não estávamos na fase de maturidade competitiv­a em que estamos agora, com mais uma fase final e que, ainda por cima, ganhámos.

Háaqui umprocesso de renovação obrigatóri­o e natural. Terá já efeitos para o Mundial?

JB – Mal acabou o Mundial na Colômbia, disse que muitos dos que lá estiveram iam fazer, pelo menos, mais três ou quatro fases finais. Ou seja, o núcleo está formado, e quando se está em tantas fases finais isto coloca a Seleção mais próxima de voltar a ganhar. No futuro, vamos ter cada vez mais opções e jovens mais identifica­dos com o que é a exigência da Seleção Nacional e isso começa na base e com o que é essencial: o hábito de ganhar!

A sua renovação do contrato já estava planeada ou aconteceu em função do título europeu?

JB – Não estava dependente disso, como é natural. Esta renovação estava preparada, mas não estava minimament­e preocupado com isso. Sei qual é o meu papel nesta Seleção. Foi-me apresentad­a a proposta, ainda antes do final do Europeu, e estava já convicto de que iríamos ter um novo ciclo como campeões europeus. A Federação quer que eu faça parte dele e isso é fantástico, pois os níveis de exigência são altos e é disso que gosto. O volume de trabalho é tão grande... E se estamos a trabalhar desta forma, isto tem de levar-nos ao topo com mais regularida­de e não só de vez em quando. Com este trajeto vamos andar lá em cima muito mais vezes, e isso levou-me de imediato a dizer que sim a esta proposta, embora nunca esteja muito preocupado como meu currículo e carreira pessoais. Todos somos campeões europeus. Foi um objetivo comum e todos juntos chegámos. É com muita motivação que parto para um novo ciclo como se... fosse o primeiro. *

“PERDEMOS OPORTUNIDA­DE NA COLÔMBIA, MAS AINDA NÃO TÍNHAMOS A MATURIDADE COMPETITIV­A QUE TEMOS AGORA”

 ??  ?? JORGE BRAZ
JORGE BRAZ
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal