O galho central
ROLANDO E RÚBEN DIAS FAZEM SENTIDO NA LISTA FINAL PARA A RÚSSIA FALTA O PARCEIRO IDEAL PARA PEPE, UM TORMENTO PARA UM SELECIONADOR QUE GOSTA QUE OS CENTRAIS FUNCIONEM COMO UM RELÓGIO COM BOTAS. AINDA HAVERÁ TEMPO PARA TESTAR DANILO PEREIRA?
Seleção portuguesa tem hoje, incontestavelmente, mais e melhores soluções do que tinha quando Fernando Santos foi apresentado como sucessor de Paulo Bento, a 24 de setembro de 2014. Mas não foi uma evolução uniforme: estamos claramente pior no centro da defesa, o que deve ser um tormento para um selecionador que gosta que os centrais funcionem como um relógio com botas. A carência de soluções verdadeiramente fiáveis e com a qualidade extra que se exige a um campeão europeu resulta, primeiro que tudo, da incapacidade de renovação neste sector nevrálgico (ao contrário do que sucede em todas as outras posições), problema que foi naturalmente inflacionado pela jubilação de Ricardo Carvalho e pela impossibilidade terrena de Bruno Alves (36 anos) e José Fonte (34 anos) disfarçarem hoje completamente as costuras do tempo, o que se infere até pela mudança de ambos para ligas e equipas pouco competitivas. A verdade é que, em condições normais, nenhum deles conseguiria continuar a fazer parte deste filme. E não se veja neste diagnóstico qualquer tipo de afronta ou desconsideração pessoal, até porque só alguém muito malvado não reconhecerá que ambos prestaram serviços inestimáveis ao futebol português e que Bruno Alves ficará para sempre como um dos centrais portugue- ses mais habilitados de sempre. E, já agora, Pepe tem 35 anos, mas não foi incluído neste enunciado porque a anosidade não pesa da mesma forma em todos os jogadores e, mais do que isso, porque o central do Besiktas insiste em provar, semana após semana, na Turquia, que ainda poderia continuar a ser muito útil até ao Real Madrid. Nada de muito surpreendente em quem é um dos três melhores centrais da história do futebol português, se não mesmo o melhor.
E por muito que o selecionador tenha sido sensato e hábil na for
ma como desvalorizou publicamente esta complexidade, não terá sido por acaso que fez regressar à Seleção, para os particulares com o Egito e a Holanda, um Rolando (32 anos) que já não era chamado há quatro anos e que tem sido a trave-mestra defensiva do Marselha de Rudi Garcia. Foi uma convocatória inteiramente justa, como acertada foi também a chamada de Rúben Dias. O central do Benfica lesionou-se entretanto e acabou por ser substituído por Neto (29 anos), que após ter saído da Rússia vem jogando com assiduidade na Turquia. O central benfiquista ficou impedido de se tornar, desde já, no 32.º jogador estreado na seleção principal na regência de Fernando Santos. Foi assim prejudicada a integração de um jovem que tem tido um enorme processo de crescimento e de afirmação no Benfica. Não é um sobredotado, mas, com apenas 20 anos, tem uma margem de evolução muito interessante e
faz todo o sentido que continue na lista prioritária para a Rússia. Uma lista de onde foram caindo Rúben Semedo, pelas tristes razões que são conhecidas, e Ricardo Ferreira (Sp. Braga), que teve uma má estreia e, entretanto, se lesionou. Como a Jardel parece não ir valer de muito o passaporte português, restam praticamente como alternativas Edgar Ié (23 anos), que já se estreou e é titularíssimo no Lille, Domingos Duarte (23 anos), que cresceu enormidades desde que encontrou Luís Castro no Chaves, e Nélson Monte (22 anos/Rio Ave), porque Roderick joga pouco no Wolverhampton e a mesma coisa acontece a Tobias Figueiredo (24 anos) no Nottingham Forest. A verdade é que nenhum deles é (ainda) a solução ideal.
Mesmo sendo verdade que um bomchefe faz muitas vezes com que homens comuns façam coisas incomuns, a Pepe parece continuar a faltar um parceiro que cumpra todos os requisitos necessários que se exigem à defesa de uma Seleção condecorada. Mas há algo que ainda não foi explorado: colocar ao seu lado Danilo Pereira, que no FC Porto já foi utilizado como central em situações de recurso. É uma pena que o portista se tenha lesionado e não possa participar nestes dois jogos de teste, porque seriam oportunidades ótimas para avaliar a solução, até porque a vaga que passaria a existir no meiocampo seria facilmente resolvida com a chamada de Rúben Neves – o brilhantismo das suas exibições no Wolves tem feito com que alguns analistas britânicos já digam que os 18 milhões de euros pagos ao FC Porto, na maior transferência de sempre para o Championship, foi negócio barato. Adúvida, portanto, é se Fernando Santos ainda terá tempo (e vontade…) de provar que a necessidade é a mãe da invenção e que Danilo pode ser o central que tem vindo a faltar. Experimentar não custa, até porque os milagres acontecem às vezes, mas é preciso trabalhar tremendamente para que aconteçam…