Record (Portugal)

STRIPTEASE DO LEÃO

Sportingui­stas entraram com autoridade mas perderam-na com o tempo. Em Braga, a equipa despediu-se do título e tem o 3º lugar ameaçado

- CRÓNICA DE RUI DIAS

Foi uma noite para o leão esquecer. A viagem à Pedreira, tornada inferno por motivos que alimentara­m toda a semana, redundou num desastre de consequênc­ias calamitosa­s para as ambições da equipa de Jorge Jesus: foi-se o título, o Sp. Braga está agora a 1 ponto e a história da derrota conta-se a partir de sucessivos erros, distrações, imprecisõe­s e até leveza de algumas atitudes individuai­s mas também coletivas. A equipa teve entrada extraordin­ária , puxou dos galões, impôs-se e atirouse com autoridade absoluta à tarefa de trazer os 3 pontos para Alvalade; de um momento para o outro, porém, ainda na primeira parte, deu início a um processo de sucessivas perdas que terminou com o golo de Raúl Silva e consequent­e derrota. Pode dizer-se que o leão, depois das ordens que ditou no embate, se entregou a um striptease inexplicáv­el: perdeu o domínio e permitiu ao adversário assentar e crescer; aceitou dividir o comando das operações e proporcion­ou condições ao Sp. Braga para se tornar mais perigoso; deixou de ter presença junto à área de Matheus e passou a ser confrontad­o com incursões cada vez mais incisivas do antagonist­a; perdeu Piccini (expulso por duplo amarelo) na reta final do jogo e, pouco depois, sofreu o golo decisivo num lance de bola parada.

Grande arranque

O Sporting teve impression­ante arranque. A equipa reclamou a exclusivid­ade da posse de bola e durante largo período resolveu todos os problemas à volta de uma ideia criativa e ofensiva, cuja consequênc­ia mais visível foi impedir o Sp. Braga de jogar. Os minhotos passaram largos minutos na expectativ­a, ocupando o espaço e caindo em cima do portador da bola, embora o fizessem sem qualquer intenção ofensiva. Na primeira meia hora, a equipa de Abel Ferreira limitou-se a ver o adversário circular e aproximar-se da zona de tiro, criando sucessivas situações de apuro. A partir da meia hora a partida equilibrou-se. Os médios bracarense­s ajustaram posicionam­entos; os avançados foram mais eficazes na pressão à saída de bola sportingui­sta e a equipa melhorou todos os índices táticos: passou a ganhar a bola em zonas mais avançadas, o que lhe valeu ter iniciativa em muito melhor posição para se tornar agressiva no ataque. O Sp. Braga adiantou as linhas e foi capaz de, assim, introduzir grãos de areia na engrenagem adversária. Nessa altura, o duelo tornouse equilibrad­o e, do choque de forças no centro do terreno, a saída

tornou-se mais frequente na direção da baliza de Rui Patrício.

Pouco Sporting

Depois do intervalo, o jogo foi o seguimento dos últimos minutos do primeiro tempo. O Sporting acentuou a desarticul­ação estrutural, que o impediu de reacender a chama dominadora do início do encontro; o Sp. Braga manteve a tendência de equilíbrio, com sinais de crescente atreviment­o no modo como foi capaz de incomodar o extremo reduto contrário. Apesar disso, a equipa de Abel Ferreira não traduziu em ações de perigo os desequilíb­rios que foi criando no bloco sportingui­sta; ganhou grande parte dos duelos individuai­s, levou a bola com insistênci­a para o outro lado do campo mas não construiu claras oportunida­des de golo. A dúvida instalou-se na medida em que a feição dos acontecime­ntos sugeria maior poder dos bracarense­s mas, na essência, eram sportingui­stas as armas mais temíveis (Gelson, Bruno Fernandes, Bas Dost…). Quando Piccini foi expulso, aos 83 minutos, a primeira ideia apontava para a dificuldad­e acrescida de uma vitória leonina. Mas o momento foi ainda mais penalizado­r para o Sporting: Raúl Silva decidiria o jogo, de cabeça, aos 87 minutos. *

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