Record (Portugal)

A surpreende­nte liderança do Benfica

-

Não é preciso recuar muitas semanas para nos depararmos com um ceticismo generaliza­do em torno das possibilid­ades reais do Benfica liderar o campeonato e vir a sagrar-se campeão. A crer no que muitos garantiram, este ano era tudo entre Porto e Sporting. Afinal, pode bem não ser assim.

Claro está que o Benfica é hoje primeiro classifica­do por for

ça de uma longa sequência de vitórias, assente na estabiliza­ção do onze titular, numa alteração tática que resolveu problemas no sistema de jogo e na recuperaçã­o física de vários jogadores. No entanto, se hoje o Benfica lidera, a explicação, por estranho que possa parecer, está menos nas vitórias e mais na forma como os maus resultados e as más exibições de um passado não muito distante foram geridos.

Há meses, escrevi no ‘Record’

que se Porto ou Sporting estivessem a passar por aquilo que o Benfica estava a passar, já estariam definitiva­mente arredados da disputa do título. A explicação é simples: este Benfica está habituado a vencer (como, aliás, aconteceu com o Porto no passado) e estar habituado a vencer é o melhor tónico para continuar a vencer.

Em vários momentos esta épo

ca ( e até no sábado, quando se viu a perder desde praticamen­te o início da partida) percebeuse que a equipa mantinha o foco, não se desorganiz­ava e, mesmo quando quase todos estavam descrentes, acreditava nas suas possibilid­ades. Ajudou muito que, mesmo após a derrota clamorosa contra o Basileia – para recuperar o jogo mencionado por Jorge Jesus para estabelece­r o justo contraste com a derrota do Sporting em Madrid –, não se tenham visto dirigentes a colocar em causa nem as capacidade­s, nem o profission­alismo dos jogadores do Benfica.

No futebol de competição, as conquistas constroem-se a partir da forma como se lida com os dissabores e não tanto nos momentos de sucesso. Quando se vence, não há adversidad­e que mostre o lado frágil das equipas. Pelo contrário, é quando se é derrotado que se vê de que fibra são feitas as equipas.

SABER GERIR OS MAUS RESULTADOS E AS MÁS EXIBIÇÕES É UM DOS TRUNFOS ENCARNADOS O CLUBE DA LUZ ESTÁ REPLETO DE JOGADORES PARA QUEM LIDAR COM AS DIFICULDAD­ES SE TORNOU PARTE DO PERCURSO PARA A VITÓRIA. OS FAVORITISM­OS PROVAM-SE EM CAMPO

O Benfica de hoje está repleto de jogadores para quem lidar com as dificuldad­es se tornou parte do percurso para a vitória. Ninguém ganha tanto, tantos anos, como o Fejsa, o Luisão, o Jardel, o André Almeida, o Jonas ou o Pizzi (para nomear, apenas, os que conquistar­am mais títulos) sem ter ultrapassa­do momentos maus, em que vencer um título era garantidam­ente uma impossibil­idade. Aliás, foi assim há dois anos – na primeira temporada de Rui Vitória – e a história está a repetir-se esta época. É por isso que os favoritism­os não se anunciam, nem proclamam. Provam-se em campo, semana a semana. Esquecendo o que se passa na casa dos outros, desconside­rando os apelos descabelad­os à insurreiçã­o e consideran­do apenas um tipo de ação: garantir que, dentro do campo, jogamos o melhor futebol.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal