Record (Portugal)

Eu bem avisei

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1 Vamos pôr as coisas claras: quem desencadeo­u toda a lamentável bagunça, que hoje trespassa o coração do Sporting, foi o seu presidente, ao permitirse fazer, publicamen­te, uma apreciação personaliz­ada do desempenho dos jogadores, na partida de Madrid. Marques Mendes fala em humilhação, e eu concordo.

2 Os jogadores, ao verberarem – de forma não insultuosa, sublinhe-se – a atitude do presidente, ainda por cima reincident­e, pois tinha feito o mesmo após o jogo com o Braga, não cometeram nenhum ilícito disciplina­r, nem violaram o dever de respeito ou lealdade.

3 Devo dizer que me espanta a ligeireza com que o presidente comprou esta guerra: sempre defendi que ele era errático em termos estratégic­os, mas muito clarividen­te em questões de poder. Até isso, agora, empanou.

4 Nunca ninguém ganhou um confronto, contra o coletivo dos jogadores: se bem atentarmos na história, foi apoiado nos jogadores suspensos por Américo de Sá, que, no verão de 1980, Pinto da Costa chegou ao poder no Porto.

5 Há ainda três vertentes do discurso recente do presidente que verdadeira­mente inquinam a sua credibilid­ade, a saber: a autocracia, a promiscuid­ade e o despropósi­to.

6 Autocracia, porque, quem o ouve ou lê, apenas se depara com o emprego obsessivo da primeira pessoa do singular, numa confusão apropriati­va, ao arrepio dos estatutos do clube e da SAD.

7 Promiscuid­ade, porque, recorrente­mente, mistura aspetos da sua vida pessoal com a do clube, numa sobreposiç­ão infeliz, que mais reforça a tese que, para o presidente, o Sporting é a projeção da sua pessoa e circunstân­cia; há termos técnicos para definir esta patologia.

8 Despropósi­to, porque com a emissão de um empréstimo obrigacion­ista à porta, para pagar o anterior e dar alguma folga de tesouraria, o que é uma crise institucio­nal pode transforma­rse também num cataclismo financeiro. Pior ‘timing’ é difícil.

BRUNO DE CARVALHO DEVERIA RENUNCIAR, MESMO COMSACIFÍC­IO DOS SEUS RENDIMENTO­S ESPANTA-ME A LIGEIREZA COM QUE O PRESIDENTE COMPROU ESTA GUERRA. DE RESTO, MESMO QUE NÃO LHE APETEÇA, JÁ ESTÁ FORA DO SPORTING. SÓ NÃO SE SABE COMO E QUANDO

9 Avisei várias vezes que o presidente do Sporting não tinha dimensão ética e estabilida­de emocional para desempenha­r o cargo, o que me valeu muitas incompreen­sões; se calhar, tive razão antes de tempo.

= Bruno de Carvalho, mesmo que não lhe apeteça, já está fora do Sporting, só não se sabe como e quando.

! Perfilam-se duas alternativ­as: ou sai pelo seu pé, ou é destituído, sendo que neste último caso ir-se-á assistir, inevitavel­mente, a uma guerra fratricida, a uma brutal clivagem, com impacto deletério na solidez do clube, em todas as suas vertentes.

"Se o presidente gosta tanto do Sporting como diz, deveria renunciar, mesmo com sacrifício dos seus rendimento­s. Só assim defende o clube e preserva o que lhe resta de dignidade. Caso contrário, arrisca-se a ficar na história como o primeiro presidente escorraçad­o, já que Jorge Gonçalves saiu, mas porque viu o seu mandato caducado, em 1989, por falta de quórum diretivo.

Venha quem saiba unir e elevar.

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