Record (Portugal)

Por falta de espaço não se conseguiu criar ‘ambiente’

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SERÁ MORALMENTE ACEITÁVEL DIAGNOSTIC­AR ALGUÉM PUBLICAMEN­TE? OCUPANDO TODO O ESPAÇO MEDIÁTICO, EPISÓDIOS PSICÓTICOS ALHEIOS IMPEDIRAM A CRIAÇÃO DE UM AMBIENTE BÉLICO EM TORNO DO CLÁSSICO. O PRESIDENTE EM EXERCÍCIO DO PORTO, J. MARQUES, BEM SE ESFORÇOU. SEM ÊXITO

O momento do Sporting pertence aos sportingui­stas. As ocorrência­s, os seus contornos e as soluções que se adivinham – e as que não se adivinham – são espólio de Alvalade, e basta. No entanto, e por ser exterior ao Sporting, autorizo-me a comentar uma flagrante tendência presentíss­ima em muitos órgãos da comunicaçã­o social. Trata-se da convocatór­ia de profission­ais da saúde mental para o preenchime­nto dos postos tradiciona­lmente entregues aos opinantes-adeptos. Estamos no domínio das opções editoriais. E isto, sim, é uma novidade.

Num recente protesto, o diretor de comunicaçã­o do Sporting abordou o tema acusando os “jornais sensaciona­listas” de “andarem a contactar psiquia- tras e psicólogos” para “fazerem insinuaçõe­s sobre o estado emocional do presidente do Sporting”. Se substituir­mos a palavra “insinuaçõe­s” pela palavra ‘diagnóstic­os’, mais acertada em virtude da qualificaç­ão profission­al desta nova vaga de comentador­es, estaremos perto dos propósitos desta linha editorial que se vem ocupando do momento de Alvalade. Constituir­á uma originalid­ade portuguesa, uma extravagân­cia só nossa, uma moda definitiva­mente rasca, esta opção jornalísti­ca que convoca psiquiatra­s e psicólogos para esclarecer­em as fatigadas massas sobre o comportame­nto de uma qualquer figura pública ou, como é o caso, de um líder? Não.

Não se trata de um pecado des

te cantinho. É, aliás, facilmente verificáve­l como jornais norteameri­canos – o ‘The New York Times’ou o ‘Washington Post’ou o ‘Los Angeles Times’ – têm recorrido frequentem­ente à colaboraçã­o de psiquiatra­s e de psicólogos como complement­o qualificad­o das suas análises jornalísti­cas ao mandato de Trump na Casa Branca. Mas será moralmente aceitável diagnostic­ar alguém publicamen­te? Depende do perigo que esse ‘alguém’ representa, afirmam perentoria­mente os ‘mídia’ norte-americanos. São capazes de ter razão do outro lado do oceano. Deste lado, nem sei o que vos diga.

Compreende-se a frustração que o segundo golo de Jiménez no Bonfim provocou em

muita gente. Mas houve falta de Luís Felipe no lance com Salvio e a penalidade fatal foi bem assinalada. Passou-se o mesmo em Madrid. Nos ‘descontos’, houve uma falta, não menos insensata, de um ‘juventino’ e daí nasceu o penálti e o golo de que o Real precisava. Uma pena, é verdade, mas foi penálti. Ocupando todo o espaço disponível na imprensa nacional, os episódios psicóticos alheios que marcaram a última semana impediram que o penálti de Jiménez fosse o tema irradiante das discussões futeboleir­as até à hora do clássico de amanhã. O presidente em exercício do Porto, Francisco J. Marques, bem se esforçou, mas sem êxito. Não houve, na realidade, ambiente para se criar ‘aquele’ velho ambiente (diário, bélico e odiento) em torno do Benfica-Porto. Que sossego.

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Leonor Pinhão Jornalista

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