Império de títulos e emoções
QUE FIZERAM O FUTEBOL PORTUGUÊS
Entregava- se a peregrinações menores e já era um grande treinador; vivia longe dos holofotes mas quem o conhecia atribuía-lhe o saber inovador capaz, um dia, se lhe fosse concedida a possibilidade, de interferir na história do futebol português; tinha o currículo vazio mas a alma já estava cheia de quem o reverenciava pelo trabalho em clubes menores. Melhorava as equipas nas quais punha a mão e isso concedialhe a convicção de que era um treinador ganhador antes do primeiro título, prova de que andou sempre à frente do tempo e do reconhecimento. Jorge Jesus evoluiu sob a influência dos grandes mestres da estratégia (Manuel Oliveira acima de todos), inspirado pela fascinante escola holandesa do Ajax, refletida na Laranja Mecânica dos nossos amores, e segundo elementos metodológicos que ele próprio adaptou, criou e foi testando por onde passou. Julgado por elementos exte-
JORGE JESUS JÁ GARANTIU, COMODAMENTE, UM LUGAR ENTRE OS MELHORES TREINADORES DA HISTÓRIA
riores, insignificantes para o treinador em que se tornou, JJ foi construindo um império de títulos, estética e glória a partir do momento em que passou a porta principal do Estádio da Luz. À frente dos destinos da águia despejou todo o saber acumulado naorientação de jogadores como nunca tivera e construiu um exército deslumbrante, vertiginoso, empolgante, quase invencível. Esse primeiro impacto, em2009/10, foi a origem do melhor Benfica das últimas décadas, ao mesmo tempo que constituía o primeiro passo para o novo ciclo hegemónico no futebol português. Talvez não o tenha feito com consciênciaplena, porque o objetivo era só o de ganhar com “nota artística” elevada; mas a opção defendeu ideia correspondente à grandeza histórica da águia que trazia ao peito, fiel a um glorioso passado que pertence ao património emocional do país.
Nas épocas seguintes, seladas com três derrotas para o FC Porto mas com presença nas grandes decisões, incluindo as internacionais (duas finais da Liga Europa), acentuou a imagem do caprichoso que se achava acima do bem e do mal; do indomável, provocador, arrogante, às vezes inconsciente nas exigências. Mas foi ainda a tempo de recuperar a imagem de uma equipa vencedora, que conjugava ordem e entusiasmo; disciplina e liberdade; esforço e talento; responsabilidade e aventura; títulos e espetáculo.
Ao cabo de seis anos (10 títulos) na Luz, tornou-se um dos mais excecionais treinadores da história benfiquista, um dos mais ganhadores do futebol português e uma referência a nível internacional. Aceitou então o apelo do Sporting, seu clube do coração, para abraçar projeto que visava recuperar os leões como potência nacional. Encurtou distâncias, já celebrou duas vitórias importantes (Supertaça e Taça da Liga) mas está ainda longe do que se propôs. Mesmo que não o consiga, o que já fez permiti-lhe garantir, comodamente, um lugar entre os melhores treinadores de sempre do futebol português.