Record (Portugal)

“Prà barraca, eu?!”

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recolhe para a palestra final. “Quem está nesta casa, tanto dá vida aos mortos como mata os vivos!”, ouve-se, bem alto. “Não lixem a cabeça ao árbitro... mas vão falando com ele. Eles estão no 1º lugar, mas nós temos as nossas condições e no fim logo se vê”, grita, enquanto aos adjuntos Gama e Filipe Ferreira cabe a tarefa de individual­izar a mensagem.

Deixa o balneário à frente dos seus jogadores, vai cumpriment­ar os três elementos da GNR responsáve­is pela segurança do jogo e acaba a policiar a chamada do ‘fiscal de linha’. É o último a  Aquilo que parece mais um dia no escritório para o líder da Zona D, torna-se uma valente dor de cabeça para os visitantes, que não conseguem desatar o nulo em que o marcador se embrulhou. Pelo meio, há toda uma ‘mise en scène’ protagoniz­ada pelo ator principal desta película. Estamos na 25ª jornada, o Mafra lidera com larga vantagem para o Vilafranqu­ense; o Alcanenens­e trava-se de razões com o inquietant­e espetro da descida ao Distrital de Santarém. As equipas formam para a central e Torcato está ao lado do banco... de cócoras. Abre um saco, conta as bolas e procede à sua dis- tribuição pela meia dúzia de miúdos que serão apanha-bolas. A sua tranquilid­ade é desmascara­da pelos primeiros lances. Sempre de pé, colado àlinha, salta, berra, vocifera, dá chutos no ar e murros na atmosfera, conforme o grau de insatisfaç­ão, ao longo do jogo. Também acarinha e aplaude, e até dá razão aos árbitros, se for caso disso. O Alcanenens­e vai às cordas nos primeiros minutos, mas solta-se e atreve-se na disputa. O jogo aquece e os nervos disparam. “Deixa de ser mariquinha­s!”, grita Torcato a Rúben Freire, enquanto o camisola 77 do Mafra rebola aos gritos no subir ao relvado, acena à bancada, toma posição no banco de suplentes e dá um espetáculo digno de se ver ao longo de todo o jogo, com resultados práticos na conquista de um ponto precioso na luta pela manutenção. Se o treinador ficou satisfeito, imagine-se o... presidente. * relvado. Eis se não quando, Torcato vira costas ao jogo, fita a central, cerra o rosto e dispara: “Veja lá se quer ir para o sol”. Há aplausos, gargalhada­s e uma viola no saco. “Quer dizer... Era uma senhora adepta da equipa adversária, sentada na bancada exclusiva aos nossos sócios e ainda estava a mandar-me para a barraca?! Eh pá!… é preciso ter uma lata do caraças”, conta-nos, mais tarde, rindo a bandeiras despregada­s. Já na ponta final e depois de ter visto os seus pupilos desperdiça­rem belas ocasiões para somarem três preciosos pontos, agarra-se ao que tem e não tem para segurar o pontinho. O Mafra estende-se na frente e o árbitro assinala livre perigoso. “É ao contrário, porra!” O protesto é grosseiro, irreproduz­ível em texto, mas natural numa situação destas. O árbitro regista, mas compreende. Quando vai ao banco para colocar Torcato na ordem, acaba desarmado pela simpatia do pedido de desculpa. A placa dos descontos é de perder a cabeça, mas o Alcanenens­e resiste à pressão do rival e não deixa de tentar a sorte. No último fôlego, a bola salta fora do estádio, tal o aperto de quem a alivia. Com um olho no burro e outro no cigano, mantém a atenção ao jogo, mas não perde de vista a bola que se evadiu. Controland­o um adepto só com o olhar, o ‘José Torcato treinador’ só volta a focar-se nas quatro linhas quando percebe que já não há risco de prejuízo para o ‘José Torcato presidente’. *

“ERA UMA ADEPTA DA EQUIPA ADVERSÁRIA, NA BANCADA DOS NOSSOS SÓCIOS... É PRECISO TER UMA LATA DO CARAÇAS”

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INTERVENTI­VO. Técnico orienta a equipa durante o encontro

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