Record (Portugal)

UM TIRO NO PENTA

Pizzi falhou o 1-0 aos 45’. Depois do intervalo, os dragões assumiram o comando e construíra­m a vitória que os coloca às portas do título

- CRÓNICA DE RUI DIAS

Faltavam poucos segundos para os 90 minutos quando o FC Porto consumou uma vitória construída depois do intervalo e lhe devolveu todos os privilégio­s na luta pelo título. O espetacula­r remate de Herrera foi tiro certeiro no penta encarnado e um momento de relevância tremenda para o que resta da Liga, colocando os azuis e brancos no topo da tabela, com dois pontos de vantagem, a quatro jornadas do fim. A vitória da equipa de Sérgio Conceição explica-se em grande medida pelo que fez nos segundos 45 minutos, altura em que tomou, desde o início, uma decisão drástica: deixou de especular, mandou o racionalis­mo exacerbado para trás das costas e dedicou-se à aventura de ter a bola, instalar-se no meio campo benfiquist­a e jogar em busca do golo. O Benfica, superior no primeiro tempo, aceitou as novas regras impostas pelo avanço do adversário e tentou aproveitar o balanceame­nto do antagonist­a, procurando explorar o espaço aberto nas costas da defesa portista. A questão não é saber se o resultado foi justo ou injusto, se uma equipa se sobrepôs à outra; a questão é explicar como o FC Porto fez pender para si os pratos de uma balança quase sempre equilibrad­a e salientar como, a partir de certa altura, o Benfica pareceu satisfeito com o empate. Talvez porque as últimas imagens são as que ficam mais consistent­emente gravadas na memória dos adeptos, o golo de Herrera não fere a sensibilid­ade: foi uma consequênc­ia da feição que o jogo estava a tomar. E isso, sem querer dizer tudo, quer dizer alguma coisa.

A perdida de Pizzi

Qualquer das equipas abordou o jogo entendendo que havia tempo mais do que suficiente para decidilo; que o momento de correr riscos estava reservado para outra altura e que, como atitude, importante era jogar pelo seguro, sem exposições desnecessá­rias à qualidade do antagonist­a. O Benfica teve mais bola e promoveu quase sempre uma posse segura, embora sem profundida­de; o FC Porto foi obrigado a pisar terrenos mais recuados e focou a ação em pressionar o mais alto possível, mais para travar as intenções ofensivas do adversário do que para criar desequilíb­rios. A circulação benfiquist­a foi acompanhad­a por posicionam­ento defensivo correto (comandado pela superior visão de Fejsa), o que dissuadiu os portistas de iniciarem ataques em contrapé, a partir de eventuais erros do adversário. Nessa perspetiva, o duelo foi lançado nas bases de um equilíbrio claro, embora com sinal mais dos encar-

nados, que não pretendera­m depender de outrem para chegar à vantagem. Na dúvida sobre para quem o empate seria melhor resultado, os primeiros sinais apontaram para que fosse o FC Porto a encará-lo dessa forma. Aos 45 minutos, Pizzi desperdiço­u clamorosa ocasião para o 1-0 – excelente defesa de Casillas. O Benfica não voltaria a estar tão perto do golo até ao fim. O que sucedeu depois do intervalo inverteu tudo o que se passou na primeira parte. O FC Porto avançou as linhas, roubou a bola e, mesmo sem exercer pressão sufocante e criar oportunida­des flagrantes, passou a comandar as operações. Não o fez correndo riscos mas introduziu no seu futebol dados a que ainda não tinha recorrido – ambição, coragem, aventura... O Benfica reagiu como quem encarou a mudança como parte da estratégia; recuou, mas sempre de olho nas costas da defesa contrária, razão pela qual o duelo teve momentos vertiginos­os. Sucedeu que, à medida que os minutos passaram, o jogo foi claramente comandado pelos dragões, perante um Benfica a quem foi faltando fôlego, explosão, agressivid­ade e talento para equilibrar e, mais ainda, tentar o golpe de misericórd­ia.

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