Da implosão pode nascer uma ‘tripleta’
FAVORITISMO LEONINO NA FINAL DA TAÇA DE PORTUGAL JUNTA-SE À CONQUISTA DA TAÇA CTT E AO OBJETIVO CHAMPIONS QUE ESTÁ AO ALCANCE
Sporting como os adeptos o conhecem no regime de Bruno de Carvalho parecia condenado a uma implosão com consequências imprevisíveis. Todavia, como tantas vezes sucede no futebol português, as notícias que antecipam tragédias são manifestamente exageradas. Quando as vitórias acontecem, nenhuma ‘doença’ estrutural é incurável. O leão soube resistir à atração do abismo e, neste momento, tem ao alcance uma ‘tripleta’ que pode alterar radicalmente a visão sobre o decurso da temporada e sufocar tanto a crise, como a revolta que, num estalar de dedos, parece esquecida.
O favoritismo para a final da Taça de Portugal, face à diferença de dimensão em relação ao Aves, é evidente. A conquista da Taça CTT é assunto arrumado e, mesmo no campeonato, o objetivo de apuramento para a Liga dos Campeões encontra-se em aberto. O Sporting apenas depende de si, dado que recebe o Benfica, pelo que pode assinar o formulário de candidatura aos milhões europeus que ainda terá de ser validado nas pré-eliminatórias da próxima época.
Ainda por cima, apesar de tantas vezes esse fator psicológico ser desconsiderado por quem está mais rotinado no comentário, ter direito à última festa da tempora- da faz toda a diferença tanto para amenizar eventuais insucessos acumulados como para alimentar o sentimento de esperança em relação ao futuro.
No Jamor, é essa a porta que o leão pode abrir, associando a um troféu com prestígio a tal renovação da confiança no futuro brilhante que um dia acabará por chegar. Bruno de Carvalho acredita, mas os adeptos também. Ou não seriam capazes de uma admirável mobilização para quem apenas regista quatro títulos em mais de quatro décadas. Agora, mesmo quando os sorrisos aliviam a tensão no peito, existem detalhes que sobressaem. Jorge Jesus foi absolvido por um golo de bola parada resultante de um erro individual de Marcano, mas o técnico leonino foi contido, no mínimo, demorando a capitalizar o crescimento da sua equipa à medida que os dragões perderam o controlo do meio-campo. Esperou até aos 76’ para colocar Mon- tero perto de Bas Dost quando, em Alvalade, se jogava aquela que provavelmente será vista como a verdadeira final da prova. Um canto mudou tudo e o Sporting voltou a ser feliz quando o soar do gongo se aproximava mas, com o seu talento peculiar para interpretar as situações de jogo, provavelmente Jorge Jesus até vai considerar que montou uma armadilha a Sérgio Conceição. Quem foi tão elogiado pela vontade de ganhar que desequilibrou a balança no clássico da Luz, colocando Rui Vitória em xeque, desta vez, como ele próprio prognosticou, sujeita-se a ser trespassado pela crítica. Infelizmente, não pelo motivo mais correto, que é o de ser incompreensível que o FC Porto, até ao golo de Coates, apenas tenha realizado um remate. A derrota nos penáltis, mais uma, foi fatal como o destino.