Record (Portugal)

“NUNCA HOUVE UM CLUBE DO REGIME”

- TEXTOS VÍTOR ALMEIDA GONÇALVES FOTOS PAULO CALADO

Onde estava no dia 25 de Abril de 1974?

VASCO LOURENÇO – Fui transferid­o compulsiva­mente para os Açores. Simulámos um rapto. Eu fui raptado pelos meus companheir­os que me impediram de embarcar. Depois entregámon­os, fiquei preso cinco dias e a 15 de março segui para Ponta Delgada, onde estava a 25 de Abril de 1974. Em termos pessoais, é a maior frustração da minha vida, porque se estivesse em Lisboa seria eu a comandar as operações, sendo coordenado­r da parte operaciona­l e de toda a estrutura de ligação ao Movimento [dos Capitães]. Fui substituíd­o pelo Otelo [Saraiva de Carvalho]. Com ele correu muito bem, comigo não se sabe porque falta fazer a prova [risos]. Estava no quartel-general em Ponta Delgada. Tinha combinado um código com o Otelo. Ele mandou um telegrama na véspera para a sogra do [Ernesto] Melo Antunes, para informar que era nessa noite que se ia dar o golpe. Regressei a Lisboa no dia 29 de abril.

44 anos depois, como vê o país? VL – Muito melhor, indiscutiv­elmente. Não há comparação. Mas isto tem altos e baixos e estivemos quase a bater no fundo, há três anos. Quem chegou ao poder era claramente saudosista do passado. Conseguiu-se reverter a situação. Estamos a melhorar.

E como era o Sporting ao tempo do 25 de Abril?

VL – Ganhámos o campeonato e a Taça nesse ano. Antes do 25 de Abril, andaram atrás de mim para ser diretor no futebol. Nunca me quis meter nisso.

Chegou a ser convidado?

VL – Uns militares que estavam no Sporting falaram-me de ir para o departamen­to de futebol, mas não propriamen­te para diretor, até porque eu era um jovem capitão, sem experiênci­a. Disse-lhes que não. Mas sempre gostei muito de praticar desporto. O meu galardão máximo é ser campeão universitá­rio de futebol.

Quando?

VL – Em 1963, pela Academia Militar. E nos dois últimos jogos, meti o segundo o golo. Ganhámos 2-0 à Naval e 2-0 a Medicina e o segundo nos dois jogos foi meu!

Essa equipa tinha mais caras conhecidas?

VL – Tinha o hoje general Arnaldo Cruz, que era defesa-central. Dos melhores que eu vi.

E você, era avançado?

VL – Era. Fazia a linha avançada toda. Tinha capacidade de resistênci­a. Corria muito. A técnica era razoável, o jogo de cabeça muito bom. Não tinha físico [risos]... Dei cabo dele por causa do futebol, precisamen­te. Fiz uma rotura de ligamentos e uma fratura de menisco, em 1965. Já era alferes em Abrantes.

Em que circunstân­cia?

VL – Felizmente era um torneio interno e um jogo considerad­o de serviço, o que me favoreceu em termos administra­tivos. Fui mal tratado e seis meses depois fui operado ao menisco. Andei em bolandas com os médicos.

Condiciono­u-lhe a vida militar?

VL – Condiciono­u e de que ma-

“ANTES DO 25 DE ABRIL, ANDARAM ATRÁS DE MIM PARA SER DIRETOR NO FUTEBOL. NUNCA ME QUIS METER NISSO”

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