“NUNCA HOUVE UM CLUBE DO REGIME”
Onde estava no dia 25 de Abril de 1974?
VASCO LOURENÇO – Fui transferido compulsivamente para os Açores. Simulámos um rapto. Eu fui raptado pelos meus companheiros que me impediram de embarcar. Depois entregámonos, fiquei preso cinco dias e a 15 de março segui para Ponta Delgada, onde estava a 25 de Abril de 1974. Em termos pessoais, é a maior frustração da minha vida, porque se estivesse em Lisboa seria eu a comandar as operações, sendo coordenador da parte operacional e de toda a estrutura de ligação ao Movimento [dos Capitães]. Fui substituído pelo Otelo [Saraiva de Carvalho]. Com ele correu muito bem, comigo não se sabe porque falta fazer a prova [risos]. Estava no quartel-general em Ponta Delgada. Tinha combinado um código com o Otelo. Ele mandou um telegrama na véspera para a sogra do [Ernesto] Melo Antunes, para informar que era nessa noite que se ia dar o golpe. Regressei a Lisboa no dia 29 de abril.
44 anos depois, como vê o país? VL – Muito melhor, indiscutivelmente. Não há comparação. Mas isto tem altos e baixos e estivemos quase a bater no fundo, há três anos. Quem chegou ao poder era claramente saudosista do passado. Conseguiu-se reverter a situação. Estamos a melhorar.
E como era o Sporting ao tempo do 25 de Abril?
VL – Ganhámos o campeonato e a Taça nesse ano. Antes do 25 de Abril, andaram atrás de mim para ser diretor no futebol. Nunca me quis meter nisso.
Chegou a ser convidado?
VL – Uns militares que estavam no Sporting falaram-me de ir para o departamento de futebol, mas não propriamente para diretor, até porque eu era um jovem capitão, sem experiência. Disse-lhes que não. Mas sempre gostei muito de praticar desporto. O meu galardão máximo é ser campeão universitário de futebol.
Quando?
VL – Em 1963, pela Academia Militar. E nos dois últimos jogos, meti o segundo o golo. Ganhámos 2-0 à Naval e 2-0 a Medicina e o segundo nos dois jogos foi meu!
Essa equipa tinha mais caras conhecidas?
VL – Tinha o hoje general Arnaldo Cruz, que era defesa-central. Dos melhores que eu vi.
E você, era avançado?
VL – Era. Fazia a linha avançada toda. Tinha capacidade de resistência. Corria muito. A técnica era razoável, o jogo de cabeça muito bom. Não tinha físico [risos]... Dei cabo dele por causa do futebol, precisamente. Fiz uma rotura de ligamentos e uma fratura de menisco, em 1965. Já era alferes em Abrantes.
Em que circunstância?
VL – Felizmente era um torneio interno e um jogo considerado de serviço, o que me favoreceu em termos administrativos. Fui mal tratado e seis meses depois fui operado ao menisco. Andei em bolandas com os médicos.
Condicionou-lhe a vida militar?
VL – Condicionou e de que ma-
“ANTES DO 25 DE ABRIL, ANDARAM ATRÁS DE MIM PARA SER DIRETOR NO FUTEBOL. NUNCA ME QUIS METER NISSO”