Record (Portugal)

Exílio de Rui Patrício é ‘crime’ lesa-Sporting

- *Texto escrito coma antiga ortografia

ALGUMA COISA ESTÁ MUITO ERRADA EM ALVALADE SE RUI PATRÍCIO SAIR DO SPORTING, NA SEQUÊNCIA DO PROCESSO QUE OPÔS BRUNO DE CARVALHO AOS ‘CAPITÃES’

Sabe- se, pela imprensa, que – na sequência do conflito entre Bruno de Carvalho e os jogadores do Sporting, desencadea­do pelo presidente logo após a derrota em Madrid – Rui Patrício e William Carvalho têm ‘guia de marcha’ presidenci­al e já não são benquistos em Alvalade. Num cenário (considerad­o pouco verosímil) de permanênci­a, perderiam o estatuto de ‘capitães’.

Este é mais um exemplo de que o Sporting vive momentos contur

bados e de total descontrol­o. Rui Patrício e William Carvalho são dois dos principais activos da SAD e do futebol dos leões, pelo que – na vertente financeira – fica difícil de acreditar como é possível promover a desvaloriz­ação de jogadores que, em condições normais, poderiam valer muitos mais milhões de ‘encaixe’, para além daqueles que, neste contexto, são passíveis de proporcion­ar ao Sporting. O ‘mercado’ está particular­mente atento a estas situações – as ligações entre empresário­s não deixam nada ao acaso – e, portanto, se puderem pagar 20, por exemplo, não vão pagar 30. Parece claro.

Aquestão financeira é muito importante, para um clube que pre

cisa de manter acesa a chama de ‘formar’ jogadores para depois os poder vender, cuja dinâmica tem de ser alimentada em permanênci­a e, para isso, é preciso perceber se o futebol na Academia está organizado e preparado para esse objectivo, mas não é apenas a questão financeira que está em causa, porque os jogadores, nalguns casos, são mais do que ‘activos’, como é o caso muito particular de Rui Patrício.

O guarda-redes leonino, agora

com 30 anos, tornou-se num símbolo do Sporting e tem a simpatia da generalida­de dos sportingui­stas. Conquistou essa admiração com trabalho e dedicação. Ingressou no clube de Alvalade como sub-13 (em 1999), ainda menino, e ali fez toda a ‘formação’ até chegar à primeira equipa, com 18 anos, em 2006. São quase duas décadas de leão ao peito e, nos tempos de hoje, com a facilidade com que os jogadores se transferem no espaço europeu, este trajecto e a respectiva carreira não podem ser desconside­rados.

Em todo este tempo de ligação,

profission­al e sentimenta­l, ao Sporting, não se conhece a Rui Patrício qualquer traço de conflitua- lidade. Soube sempre gerir a sua imagem pública e, na verdade, talvez não haja, em Alvalade, mais nenhum jogador tão icónico quanto ele. É, literalmen­te, o n.º 1!

É evidente que, no futebol e na óptica das SAD, é preciso considerar todas as propostas que possam surgir. Faz parte. As cláusulas de rescisão servem exactament­e para se estabelece­rem margens de negociação, atendendo a vários factores. Correm notícias do interesse do Nápoles, mas notícias da atenção que Rui Patrício desperta no mercado já vêm de longe. O lugar de guarda-redes é muito específico e, sem nunca desvaloriz­ar hipotética­s grandes ofertas que possam aparecer sobre a mesa das negociaçõe­s, o normal seria o Sporting fazer os possíveis para manter Rui Patrício até final da carreira. Mais: um hipotético negócio, na óptica do interesse leonino, seria sempre depois do Mundial – pelas hipóteses de maior valorizaçã­o – e nunca antes. Forçá-lo a um exílio, por razões que não têm nada a ver nem com questões desportiva­s nem com questões financeira­s, é um ‘crime’ lesa-Sporting – e ainda se vai apurar como é que os sportingui­stas reagirão a esta espécie de ‘vingança’.

O presidente de um clube, seja ele qual for, não pode entrar em dinâmicas de ‘ajustes de contas’ com jogadores e/ou treinadore­s. Não pode olhar para si próprio, para o espelho e para o umbigo, como se o mais importante fosse o centro do poder e administra­ção desse poder.

Em concreto, Bruno de Carvalho ainda não percebeu uma quantidade de pressupost­os que estão subjacente­s à função presidenci­al. O presidente não é um chefe de uma claque. O presidente não pode ter ‘ciúmes’ do protagonis­mo de alguns jogadores mais referencia­is, do treinador ou mesmo de um médico. O presidente não pode projectar a ideia de que o balneário é território ‘inimigo’. O presidente pode querer estar próximo das realidades mas não ao ponto de – pelas atitudes e comportame­ntos – perder o respeito de quem o rodeia. O presidente não deve colocar-se na posição de potencial desestabil­izador, como aconteceu no Sporting no período mais decisivo da época. Acresce que não existe nenhuma tese de liderança no futebol bem-sucedida em que o presidente não valorize a estabilida­de de um plantel. Pinto da Costa pode ter cometido muitos excessos, mas – ao longo de 36 anos de presidênci­a – valorizou sempre jogadores e treinadore­s. Não é por acaso.

Rui Patrício está para o Sporting de hoje como Vítor Damas esteve para o Sporting no passado. É indiscutív­el na Selecção. Não merece o que lhe estão a fazer.

 ??  ?? N.º 1. Os sportingui­stas vão permitir que o ’N.º 1’ do Sporting seja enxotado de Alvalade?
N.º 1. Os sportingui­stas vão permitir que o ’N.º 1’ do Sporting seja enxotado de Alvalade?

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