Record (Portugal)

“FOI UM SONHO DESPEDIR-ME COM A VITÓRIA NO ANGLIRU”

- TEXTOS ANA PAULA MARQUES FOTOS PEDRO FERREIRA

Jálávão uns meses desde que abandonou a competição, na Vuelta de 2017. Como tem gerido a reforma do ciclismo, vendo agora as provas pela televisão? ALBERTO CONTADOR – Têm sido uns meses a viver momentos diferentes. A decisão de deixar o ciclismo impõe respeito a nós próprios e até medo. Porque tudo o que fiz na vida foi em função da bicicleta e de repente... agora o que vai acontecer? Mas tenho uma vida preenchida, tenho muitas atividades ligadas aos meus patrocinad­ores, que na maioria estão até relacionad­as com o ciclismo e o bichinho da competição surge com estas ações. No resto, continuo a andar de bicicleta, três a quatro vezes por semana, e faço também ginásio.

Veremos o Alberto Contador daqui a uns tempos... com barriga, ou aboaformaé para manter?

AC – [risos] Bem, o objetivo é que isso não venhaaacon­tecer.

A bicicleta vai fazer sempre parte da sua vida? Vai fazendo sempre uns quilómetro­s, é isso?

AC – Sim, claro. Até porque o ciclismo é o desporto mais saudável que há, é a minha paixão. Andar de bicicleta três a quatro vezes por semana permiteme também depois comer o que quero, beber um bom vinho e estar ainda numa boa forma.

“BEBER UM BOM VINHO E IR A UM RESTAURANT­E É DAS COISAS QUE MAIS APRECIO E POSSO FAZÊ-LAS SEM RESTRIÇÕES”

Falou em comer o que quer e beber um bom vinho. Agora pode fazer coisas que antes não lhe era permitido fazer...

AC – É completame­nte diferente. Quando era ciclista, para mim o que fazia vinha em primeiro, segundo e terceiro lugar. Os adeptos, os patrocinad­ores e eu mesmo, todos exigiam que ganhasse, que estivesse bem, tinha de fazer tudo o mais perfeito possível. Agora, posso fazer uma refeição totalmente diferente, beber umbomvinho, sair de vez em quando com os amigos. Coisas que antes sabia que não podia fazer. Poder fazê-las agora é talvez o que me faz desfrutar de cada momento da minha vida. Antes até podia beber um copo de vinho, mas as calorias do álcool não são boas para quem compete. E beber um bom vinho ou ir a um bom restaurant­e é das coisas que mais aprecio e que agora posso fazer sem restrições.

Abandonou o ciclismo após a Volta a Espanha. Foi o momento certo para o adeus?

AC – Sim. Era difícil ter uma despedida mais bonita que aquela que tive. É verdade que quando decidi deixar o ciclismo depois dessa prova não sabia o que iria acontecer na corrida. Se tivesse tido uma queda e abandonado, as recordaçõe­s da minha despedida já não seriam tão boas. Mas sempre pensei que despedir-me na Volta a Espanha seria um momento muito bonito.

E despediu-se com uma gloriosa vitória no Angliru e depois teve aquela receção em Madrid. Serão momentos que certamente jamais esquecerá...

AC – Sem dúvida que os recordarei para o resto da minha vida. Sintome um grande privilegia­do por ter vivido isso. Penso que o ciclista ou qualquer desportist­a recordará sempre a sua última competição. E a minha, com a vitória numa etapa mítica, e depois despedir-me na minha casa, Madrid, com as ruas cortadas ao trânsito, e entrando eu na frente do pelotão na cidade... foi um sonho tremendo. Deixei o ciclismo, mas continuo a sentir-me muito bem, a um nível alto.

Quer isso dizer que o Alberto Contador estava pronto para fa- zer o Giro, que começa já na próxima sexta-feira?

AC – [risos] Para fazer o Giro não sei, mas estoubem. Depois dadespedid­a que tive, tão boa, talvez o bichinho da competição já não exista. O melhor que fiz foi mesmo deixar o ciclismo no momento em que o fiz, ainda que fisicament­e continue a encontrarm­e bem. O melhor mesmo é ver as competiçõe­s de fora.

Quando deixou o ciclismo, muitos adeptos e até adversário­s disseram que o ciclismo já não seria o mesmo sem Contador, sem um ci- clista atacante, que dava espetáculo. Como viu estas reações?

AC – Na verdade o que posso dizer a todos é obrigado, mil obrigados. Têm sido incrível as demonstraç­ões de carinho, as pessoas agradecem-me o que fiz em todos estes anos e muitas até me dizem que podia ter continuado mais um ano. Sentirem saudades de ti é das melhor recordaçõe­s que se pode ter. Podia ter continuado mais um ou dois anos, mas o objetivo foi sempre o de me retirar em bom nível. Não há hipótese de vermos o regresso de Contadorda­quiadois ou três anos? O Lance Armstrong fez isso e há outros exemplos em outras modalidade­s, como o Michael Jordan na NBA.

AC – Aretirada é definitiva. Isso está claro na minha vida, na minha

“CONTINUO A ESTAR EM BOA FORMA, MAS SEMPRE DESEJEI RETIRAR-ME A UM BOM NÍVEL. NÃO VOU REGRESSAR ”

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