“FOI UM SONHO DESPEDIR-ME COM A VITÓRIA NO ANGLIRU”
Jálávão uns meses desde que abandonou a competição, na Vuelta de 2017. Como tem gerido a reforma do ciclismo, vendo agora as provas pela televisão? ALBERTO CONTADOR – Têm sido uns meses a viver momentos diferentes. A decisão de deixar o ciclismo impõe respeito a nós próprios e até medo. Porque tudo o que fiz na vida foi em função da bicicleta e de repente... agora o que vai acontecer? Mas tenho uma vida preenchida, tenho muitas atividades ligadas aos meus patrocinadores, que na maioria estão até relacionadas com o ciclismo e o bichinho da competição surge com estas ações. No resto, continuo a andar de bicicleta, três a quatro vezes por semana, e faço também ginásio.
Veremos o Alberto Contador daqui a uns tempos... com barriga, ou aboaformaé para manter?
AC – [risos] Bem, o objetivo é que isso não venhaaacontecer.
A bicicleta vai fazer sempre parte da sua vida? Vai fazendo sempre uns quilómetros, é isso?
AC – Sim, claro. Até porque o ciclismo é o desporto mais saudável que há, é a minha paixão. Andar de bicicleta três a quatro vezes por semana permiteme também depois comer o que quero, beber um bom vinho e estar ainda numa boa forma.
“BEBER UM BOM VINHO E IR A UM RESTAURANTE É DAS COISAS QUE MAIS APRECIO E POSSO FAZÊ-LAS SEM RESTRIÇÕES”
Falou em comer o que quer e beber um bom vinho. Agora pode fazer coisas que antes não lhe era permitido fazer...
AC – É completamente diferente. Quando era ciclista, para mim o que fazia vinha em primeiro, segundo e terceiro lugar. Os adeptos, os patrocinadores e eu mesmo, todos exigiam que ganhasse, que estivesse bem, tinha de fazer tudo o mais perfeito possível. Agora, posso fazer uma refeição totalmente diferente, beber umbomvinho, sair de vez em quando com os amigos. Coisas que antes sabia que não podia fazer. Poder fazê-las agora é talvez o que me faz desfrutar de cada momento da minha vida. Antes até podia beber um copo de vinho, mas as calorias do álcool não são boas para quem compete. E beber um bom vinho ou ir a um bom restaurante é das coisas que mais aprecio e que agora posso fazer sem restrições.
Abandonou o ciclismo após a Volta a Espanha. Foi o momento certo para o adeus?
AC – Sim. Era difícil ter uma despedida mais bonita que aquela que tive. É verdade que quando decidi deixar o ciclismo depois dessa prova não sabia o que iria acontecer na corrida. Se tivesse tido uma queda e abandonado, as recordações da minha despedida já não seriam tão boas. Mas sempre pensei que despedir-me na Volta a Espanha seria um momento muito bonito.
E despediu-se com uma gloriosa vitória no Angliru e depois teve aquela receção em Madrid. Serão momentos que certamente jamais esquecerá...
AC – Sem dúvida que os recordarei para o resto da minha vida. Sintome um grande privilegiado por ter vivido isso. Penso que o ciclista ou qualquer desportista recordará sempre a sua última competição. E a minha, com a vitória numa etapa mítica, e depois despedir-me na minha casa, Madrid, com as ruas cortadas ao trânsito, e entrando eu na frente do pelotão na cidade... foi um sonho tremendo. Deixei o ciclismo, mas continuo a sentir-me muito bem, a um nível alto.
Quer isso dizer que o Alberto Contador estava pronto para fa- zer o Giro, que começa já na próxima sexta-feira?
AC – [risos] Para fazer o Giro não sei, mas estoubem. Depois dadespedida que tive, tão boa, talvez o bichinho da competição já não exista. O melhor que fiz foi mesmo deixar o ciclismo no momento em que o fiz, ainda que fisicamente continue a encontrarme bem. O melhor mesmo é ver as competições de fora.
Quando deixou o ciclismo, muitos adeptos e até adversários disseram que o ciclismo já não seria o mesmo sem Contador, sem um ci- clista atacante, que dava espetáculo. Como viu estas reações?
AC – Na verdade o que posso dizer a todos é obrigado, mil obrigados. Têm sido incrível as demonstrações de carinho, as pessoas agradecem-me o que fiz em todos estes anos e muitas até me dizem que podia ter continuado mais um ano. Sentirem saudades de ti é das melhor recordações que se pode ter. Podia ter continuado mais um ou dois anos, mas o objetivo foi sempre o de me retirar em bom nível. Não há hipótese de vermos o regresso de Contadordaquiadois ou três anos? O Lance Armstrong fez isso e há outros exemplos em outras modalidades, como o Michael Jordan na NBA.
AC – Aretirada é definitiva. Isso está claro na minha vida, na minha
“CONTINUO A ESTAR EM BOA FORMA, MAS SEMPRE DESEJEI RETIRAR-ME A UM BOM NÍVEL. NÃO VOU REGRESSAR ”