Record (Portugal)

A dívida e a dúvida

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É, NO MÍNIMO, POLÉMICO HAVER MAIS UMA REESTRUTUR­AÇÃO EM QUE OS BANCOS FICAM A ARDER

res (deixou de se falar neles), faltava passar a mão pelo pêlo dos investidor­es, dos quais as SAD dependem cada vez mais para se financiare­m. Tarefa a que o presidente do Sporting se dedicou num artigo de opinião publicado ontem no ‘DN’.

Depois das dúvidas sobre asolidez daSAD levantadas pelo adiamento do reembolso da emissão obrigacion­ista de 30 milhões de euros, Bruno de Carvalho faz, naturalmen­te, um autoelogio à forma como gere as contas. O mais interessan­te é que ficamos a saber que, nos últimos meses, conseguiu “negociar uma melhoria das condições da reestrutur­ação fi- nanceira” acordada em 2013. Segundo o próprio presidente do Sporting, em vez de 135 milhões de euros, a SAD terá de pagar apenas 40,5 milhões para comprar ao Novo Banco e ao BCP os Valores Mobiliário­s Obrigatori­amente Convertíve­is (VMOC) detidos por estes.

Em vez de um euro por cada título, o Sporting vai pagar apenas 30 cêntimos, um desconto de 70%. Com a reestrutur­ação do que já havia sido reestrutur­a- do, o Sporting consegue um perdão de 94 milhões de euros. Bruno de Carvalho garante que no início da próxima época terá 17,5 milhões para comprar VMOC suficiente­s para que o clube não perca a maioria no capital da SAD. Consegue mais: pode reforçar a participaç­ão e diluir a de Álvaro Sobrinho.

É o sonho de qualquer presidente, o pesadelo do costume para a banca. Os contornos da operação não são conhecidos – estranha-se não ter havido um comunicado à CMVM – mas é, no mínimo, polémico haver mais uma reestrutur­ação em que os bancos ficam a arder (a anterior chegou ao Parlamento depois de uma petição). Claro que a última coisa que querem é ser acionistas de clubes, pelo que uma oportunida­de para se verem livres destas dívidas é bem-vinda. Mas a que preço?

Convém lembrar que os bancos estão impedidos de aumentar a exposição dos seus balanços às SAD e compelidos a baixá-la. É por isso que os clubes precisam cada vez mais de recorrer às emissões obrigacion­istas para substituir a dívida bancária. A dúvida é: haverá apetite para tanto? Pelo sim, pelo não, Bruno de Carvalho já está a vender a sua e a denegrir a dos outros.

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