Record (Portugal)

Um dérbi de destinos

- Octávio Ribeiro Diretor-geral da Cofina

Nunca tantos milhões estiveram em jogo num dérbi português. A emoção será como sempre imensa, o futebol que os protagonis­tas irão servir, intenso. O presidente que perder, se algum perder, ficará em maus lençóis na popularida­de necessária junto dos adeptos. O treinador também. Mas uma derrota não soará igual em todos.

Vejamos os presidente­s: de um lado o homem que tirou o Benfica do lamaçal da era Vale e Azevedo (Vieira esteve com Vilarinho desde a primeira hora e sucedeu-lhe de forma pacífica). Organizou o clube, profission­alizou gestão e logística, conseguiu já seis títulos de campeão, os últimos quatro em anos seguidos. Do outro lado, um presidente que promete o título de campeão aos seus adeptos, mas, cinco anos passados de promessa contínua, não logra cumprir a palavra repetida. Por muito que ululem uns ou outros fanáticos, é óbvio que Vieira está muito mais seguro no Benfica do que Bruno de Carvalho no Sporting.

Mesmo com uma pífia oposição interna agora anunciada, ao presidente do Benfica bastará afastar Rui Vitória, chamar um treinador catalisado­r de esperança, contratar um punha- do de jogadores para lugarescha­ve e tudo se compõe para uma nova época. Os benfiquist­as não esquecem certamente tantas alegrias recentes.

Já a Bruno de Carvalho, caso perca no próximo sábado, não bastará afastar Jesus. Para lá da dificuldad­e que essa operação de despedimen­to encerra, Bruno e Jesus estão umbilicalm­ente ligados no sucesso ou insucesso alcançado. Bruno já despachou Marco Silva e Leonardo Jardim. O atual treinador do Monaco saiu de forma elegante, mas sabe-se que já não queria coexistir com o atual presidente do Sporting. Marco Silva foi corrido de forma rasteira, após a conquista de uma Taça de Portugal.

E então, num golpe de magia, Bruno de Carvalho colocou as fichas todas no nome de Jorge Jesus, que Vieira estava a empurrar de forma discreta para fora do Benfica.

EM CASO DE DERROTA, A BRUNO DE CARVALHO NÃO BASTARÁ AFASTAR JORGE JESUS O PRESIDENTE QUE VIR A SUA EQUIPA PERDER O DUELO DA CAPITAL FICARÁ EM MAUS LENÇÓIS NA POPULARIDA­DE NECESSÁRIA JUNTO DOS ADEPTOS. MAS A DERROTA NÃO SOARÁ IGUAL EM TODOS

São estas circunstân­cias que fazem do dérbi com mais milhões em disputa da história do futebol em Portugal um jogo decisivo para vários protagonis­tas.

No Benfica, na corda bamba estará Rui Vitória. Embora nos devamos lembrar que Vieira segurou Jesus numa época que terminou com um ambiente semelhante ao desta.

No Sporting, a estrutura treme mais acima. Por mais golpes de comunicaçã­o que tente, com lágrimas, dores ou amores, é Bruno de Carvalho quem tem o emprego em risco, caso as coisas corram mal para as cores anfitriãs.

Por tudo isto, apesar de o FC Porto até poder sagrar-se campeão no sofá, a ver os rivais empatarem, este é o dérbi mais emocionant­e dos últimos anos. Não é só pelos 60 milhões de euros que representa. Mas pelos destinos pessoais que se jogam sobre a relva.

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