Record (Portugal)

“Sporting é muito mais do que um clube”

O ítalo-cubano, de 40 anos, foi um dos melhores jogadores do nacional de voleibol e o ponto que deu o título ao Sporting saiu das suas mãos. Não esquece o país onde nasceu e gostaria de continuar a jogar em Portugal

- TEXTOS ANA PAULA MARQUES

Como viveu esta primeira experiênci­a em Portugal?

ÁNGEL DENNIS – Foi um ano maravilhos­o. Não conhecíamo­s o país nem o campeonato, mas alterámos os nossos planos para vir para Portugal. A ideia era, depois de alguns anos em Itália, ir para casa, para o Brasil. Mas não podia recusar este convite do Sporting e alterámos todos os planos.

Foi a primeira vez que jogou numa equipa em que o futebol é o desporto-rei, mas que aposta também noutras modalidade­s. Com que opinião ficou de tudo o que rodeia o clube?

AD – É um sonho! Foi a primeira vez que estive num clube com esta dimensão. O Sporting é muito mais do que um clube, é uma família. É impression­ante a quantidade de pessoas que trabalham, unidas, para o mesmo objetivo, com tanto amor e tanta paixão. A comunhão que existe entre as modalidade­s, os atletas conhecem-se uns aos outros, vão ver os jogos uns dos outros. É incrível! Os adeptos são fantástico­s, a forma como respeitam os atletas e nos apoiam é indescrití­vel. É um caso único em Portugal.

No Torneio das Vindimas, em Lamego, disse que foi contactado pelo Miguel Maia para vir para o Sporting. Afinal, o que o fez vir jogar para o Sporting? AD – Nesta idade, quando se escolhe um clube já não pensamos só em nós, pensamos muito na família. Como disse, a ideia era voltar a casa, mas entretanto o telefone tocou com a chamada do Miguel, que já conheço há muitos anos. Fez-me o convite e explicou o projeto. Desliguei o telefone e falei com a minha esposa. Demorámos apenas dois minutos para aceitar. Não podia desperdiça­r a oportunida­de de jogar no Sporting e também nos agradou a possibilid­ade de viver em Portugal. Foi tudo fantástico.

Tem 40 anos. Como se mantém em forma, a jogar ainda a este nível? Tem cuidados especiais? AD – Sempre me treinei forte, com muita preparação física. Descanso muito e tenho bastantes cuidados com a alimentaçã­o. Não saio à noite, só para comemoraçõ­es. E tenho um grande apoio da minha família, que é fundamenta­l para continuar a jogar ao mais alto nível com esta idade.

O Ángel foi um dos jogadores mais em foco no campeonato português e em especial no último jogo do playoff...

AD – Quando aceitei o convite, sa- bia que vinha para um grande clube. Nunca olho aos comentário­s negativos de que não vou conseguir ou sobre a minha idade. Quando aceitei, sabia que tinha de trabalhar muito e ter a atitude e o compromiss­o certos. Sabia que assim tudo daria certo e foi o que aconteceu. Mantive-me sempre focado, a trabalhar muito, esperando as minhas oportunida­des para agarrá-las com tudo.

O Pavilhão João Rocha esteve ao rubro. O que sentiram os jogadores quando entraram e viram todo aquele ambiente?

AD – Muito bonito. Gosto deste tipo de ambientes. Foi indescrití­vel. Deu-nos muita motivação e, em muitos momentos, fomos buscar forças onde elas pareciam não existir. Estavam connosco dentro da quadra, em todos os pontos. Provavelme­nte muita gente não acredita que eles possam fazer a diferença desta maneira, mas fazem mesmo. O apoio que eles nos deram não tem preço.

Como foi gerir todas as emoções, a pressão, sabendo que o Sporting podia ser campeão, mas também o Benfica?

“NÃO SAIO À NOITE, SÓ PARA COMEMORAÇÕ­ES. E TENHO TAMBÉM BASTANTES CUIDADOS COM A ALIMENTAÇíO” “É UM MOMENTO [PONTO DA VITÓRIA] QUE FICA PARA A VIDA. TIVE A SORTE DE SER COMIGO E NUNCA VOU ESQUECER”

AD – As finais são assim. Mas há sempre esperança e acreditamo­s até ao fim. Era um jogo do tudo ou nada, sabíamos que tínhamos de dar tudo. Foi uma dura ‘batalha’, mas conseguimo­s o objetivo.

Quando o Benfica fez o 14-13 no último set, o que passou pela vossa cabeça?

AD – Não foi fácil. Sabíamos que tínhamos estado na frente e eles recuperara­m. Passou muita coisa pela cabeça. Tudo o que fizemos durante a época para estar ali, os

nossos adeptos a puxarem por nós, todo o clube que acreditou e apostou em nós, as nossas famílias. Tínhamos de conseguir dar a volta por todos eles e por nós.

E foi o Dennis a anular o match-point do Benfica e depois a concretiza­r o ponto da vitória... AD – É um momento pelo qual qualquer jogador espera. Fica para a vida. Tive a sorte de ser comigo e nunca vou esquecer.

Que imagem tem do presidente do Sporting, Bruno de Carvalho?

AD – É um grande pessoa que admiro muito. No dia antes do jogo, esteve mais de uma hora a falar connosco, a dar-nos conselhos e disse-nos tudo o que precisávam­os de ouvir. Acreditou em nós e esteve sempre connosco. Só temos de agradecer por tudo o que fez por nós e por ter feito a modalidade regressar ao clube.

Vai continuar a jogar no Sporting na próxima época?

AD – Quero continuar e dar seguimento a esta história bonita. Mas vamos conversar.

O Hugo Silva é conhecido por ser um treinador exigente. Como foi trabalhar com ele?

AD – Esta época foi uma caminhada muito longa. Normalment­e as equipas têm as bases montadas e mudam poucos jogadores de ano para ano. Aqui foi um projeto que começou de início. Era tudo novo, estávamos a conhecer-nos e a adaptarnos à maneira de jogar uns dos outros e o Hugo teve um papel muito importante porque soube tirar o melhor de cada jogador e formar uma equipa que conseguiu o título logo no primeiro ano.

Chegou a ir ao estádio ver algum jogo de futebol?

AD – Sim, claro. Vários. O último que fui ver foi com o Atlético Madrid. Tal como no pavilhão, é um grande ambiente. Os adeptos sempre a apoiar e numa grande comunhão com a equipa. *

 ??  ??
 ??  ?? ÁNGEL DENNIS O HERÓI DO TÍTULO
ÁNGEL DENNIS O HERÓI DO TÍTULO
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal