Record (Portugal)

‘Reclamar’ lugar no onze... de táxi

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Não era só na hora da palestra que o sr. Vieirinha tremia perante a pressão de treinar a lenda. “Um dia fomos jogar ao União de Coimbra, mas o Eusébio não apareceu na concentraç­ão em Tomar. Bom, lá fomos...”, recorda Caetano. “Já estávamos a aquecer, quando o nosso massagista entrou no campo para chamar o Bravo. ‘Dá cá a camisola que chegou o Rei’, gritou ele. Eusébio chegara, entretanto, de... táxi, ‘reclamando’ a titularida­de que se impunha, assim como os direitos sobre a camisola 10. “Lá tiveram de ir emendar a ficha do árbitro e quem pagou as favas foi o Bravo pois teve de ir para o banco”, lembra Caetano. trou com o Simões, foi-nos apresentad­o, foi equipar-se e ainda treinou nesse dia”, acrescenta. “Só treinava à quinta-feira”, recorda Caetano, “embora tivesse quarto à disposição no Hotel dos Templários”, outro símbolo da cidade. Se o acordo selado com o presidente garantia autonomia ao Rei, o estatuto deixava o seu treinador em pânico. João Bravo, antigo avançado do União, garantiu um dia ter apanhado “Eusébio a dormir numa palestra”. Barrinha não vai tão longe, mas confirma a aflição do treinador: “Ele ficava nervoso porque não sabia o que devia dizer ao Eusébio. ‘O que é que eu lhe posso ensinar?! Nada! É o Rei!’, dizia o sr. Vieirinha.” Os registos são díspares, quase inconclusi­vos, mas as contas de Record são simples: 12 jogos com 3 golos. O último, em Portalegre, derrotado pelo Estrela, sem honra nem glória, contrarian­do a monstruosi­dade dos seus números pessoais e confirmand­o a tendência decadente da carreira. Se o flagelo que impôs aos joelhos lhe toldava os movimentos, compensava com o pé-canhão. “Fez dois golos aqui ao Cartaxo e o primeiro tem piada: quem batia os livres eram o Florival e eu. Só que eu dei logo a bola ao Eusébio... Sabem por onde é que ela entrou? Bem... acho que o guarda-redes ficou de tal maneira ‘acagaçado’ que nem se mexeu! Ele até deve ter feito pontaria à cabeça dele porque a bola passoulhe rente e entrou ao meio da baliza”, para gáudio da multidão que esgotava o estádio tomarense “e enchia todos os campos onde o União jogava nessa altura”. Record desafiou Barrinha e Caetano nesta viagem ao baú das recordaçõe­s. “Não é fácil, já lá vão 40 anos”, lembram, concordand­o que Eusébio é inolvidáve­l. “Já não se mexia tanto, mas com a bola no pé, ui, ui! Tinha de ser mesmo no pé. Se fosse mais ao lado, já ralhava. Que havíamos de fazer? ‘Oh Eusébio, a gente bem tenta’, mas...”, revive Barrinha. “Ainda se mexia um bocadinho, ao contrário do Vítor Baptista! Com esse figurão é que tinha de ser mesmo no pezinho”, conta Caetano, bem-disposto, evocando a passagem de outra lenda pelo União. Nos tiros de

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