Record (Portugal)

Clube de um treinador

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A MAGNITUDE DESTA VITÓRIA É BEM CAPAZ DE SÓ PERDER NA COMPARAÇÃO PARA A CONQUISTA QUE HÁ 40 ANOS, SOB A ÉGIDE DE PEDROTO, PERMITIU PÔR TERMO À ABSTINÊNCI­A MAIS TRAUMÁTICA NA MEMÓRIA DO DRAGÃO

A‘fórmula’ de Conceição: defender bem para atacar melhor (não sendo por acaso que os dois avançados foram sempre basilares neste duplo papel). Depois, foi só acrescenta­r os laterais projetados (bem coordenado­s com as diagonais dos alas), a forte reação à perda da bola, o pressing inteligent­e e o ataque à profundida­de (tirando partido da dimensão física dos avançados) e a muita presença na área contrária

nos queiram vender o contrário. Mas até isso, claro, ajudou a que esta não tenha sido uma conquista igual a tantas outras conseguida­s no reinado de Pinto da Costa.

E, aqui chegados, importa deixar claro que o FC Porto foi esta época uma equipa de um treinador, mais do que de um presidente – ao contrário do que acontecera em muitos dos 21 títulos ganhos durante a atual presidênci­a. Porque foi quase sempre uma equipa construída e gerida à imagem e semelhança do seu criador, que sacou petróleo de um bunker aparenteme­nte árido. E o reconhecim­ento desse papel ficou bem expresso nas reações públicas da generalida­de dos adeptos ou maior parte dos cartazes exibi-

dos frente ao Feirense, em que se chegou a agradecer ao técnico por ‘trazer de volta’ os melhores valores. Mas Conceição fez mais do que isso. Convenceu os jogadores da sua ideia de jogo, contagiou-os com a sua ambição e arrebatame­nto e com isso ganhou o balneário. E, com a mesma celeridade, convenceu os adeptos e ganhou o clube. A quem desconfias­se da sua tarimba para tamanha aventura, Conceição entrou a dizer que vinha para ensinar e não para aprender e, na verdade, o FC Porto foi quase sempre uma equipa sem freno, que entra com taquicardi­a e com dinamite na frente, sem demasiadas preocupaçõ­es com a elegância plástica. E os adversário­s lá foram caindo, na maior parte das vezes, demoli-

dos ante o seu poder energético. E esse mérito teria sempre de lhe ser tributado independen­temente do desfecho na Luz, não sendo por acaso que o autor destas linhas já arriscava dizer em outubro último que o treinador do FC Porto estava a ser o grande protagonis­ta do campeonato português. Este FC Porto não é uma equipa perfeita, longe disso, notando-se, por exemplo, débito de criativida­de principalm­ente quando encontra adversário­s com o bloco baixo e compacto. Mas é uma equipa inteligent­emente esboçada para um campeonato nivelado por baixo como é o português, em que entrar nos jogos com a sofreguidã­o dos que chegam tarde a uma festança é meio caminho andado para a vitória.

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