Record (Portugal)

DESPEDIU-SE HÁ UMA DÉCADA

- RUI DIAS

A 11 de maio de 2008, na Luz, Rui Costa viveu o último capítulo de uma carreira extraordin­ária

Obrigado Maestro, por ontem, por hoje e por amanhã”, dizia uma das tarjas com que o Estádio da Luz recebeu um dos grandes heróis da história encarnada no momento de abandonar os relvados. Antes do pontapé de saída, para vincar a especifici­dade do jogo com o V. Setúbal de Carlos Carvalhal, a CM Lisboa, na pessoa do então presidente António Costa, entregou-lhe a Medalha de Ouro da cidade, enquanto Luís Filipe Vieira, em nome do Benfica, o presenteav­a com placa na qual o número 10 sobressaía. O jogo ainda não começara e o ambiente tresandava à nostalgia antecipada pela despedida de um dos mais extraordin­ários futebolist­as de sempre em Portugal e no Mundo. Prova da implacabil­idade do tempo, que a todos vence, mais cedo ou mais tarde, a agitação tomou conta do povo à entrada para o último quarto de hora. O Benfica, então dirigido pelo pequeno genial, Fernando Albino de Sousa Chalana, vencia por 2-0 (golos de Katsourani­s e Cardozo, antes do intervalo) e o momento solene aproximava-se. A partir de certa altura, a cerimónia podia acontecer a qualquer instante. Foi aos 86 minutos que o quarto árbitro (o portuense Rui Costa, por curiosidad­e) levantou a placa com o número 10, dando início a meia dúzia de minutos de fortíssima intensidad­e emocional. Chegava ao fim a carreira de um dos mais amados jogadores de sempre, que saía de cena na casa de partida, diante dos seus adeptos, cumprindo assim o sonho, que as circunstân­cias pareciam inviabiliz­ar, de fazê-lo com a águia ao peito. O momento da saída, a que correspond­eu o amargo adeus ao jogo de que foi um extraordin­ário intérprete, foi irreverent­e com o cariz oficial do duelo com os sadinos. Até o árbitro, Jorge Sousa, se deixou contagiar e não teve qualquer rebuço em aplaudir o 10 no momento em que se abraçou a Binya e ultrapasso­u a linha que separava o passado do futuro. Foi então a vez de se cruzar com o pai Vítor (a quem entregou a última camisola), reencontra­r os filhos Filipe e Hugo, também já atingidos pela emoção, e observar de fora ao 3-0, obtido pelo amigo Nuno Gomes, apenas 2 minutos depois. No fim, o sentir do dever cumprido e as sequelas agradáveis de uma tarde-noite de emoções à flor da pele, conduziram-no à frase com que sintetizou o momento: “Acabou. Saio exausto, cansado mas feliz por terminar junto da minha gente.” *

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