Record (Portugal)

O pai dos dragões

SÉRGIO CONCEIÇÃO FOI DETERMINAN­TE NUMA ARMADA DE FACA NOS DENTES QUE SÓ VIA A BALIZA ADVERSÁRIA E QUE TINHA O ENGODO PELAS VITÓRIAS

- Rui Calafate Consultor de comunicaçã­o

A ATITUDE MENTAL ENQUANTO JOGADOR ALIMENTOU CRENÇA NO REGRESSO ÀS VITÓRIAS

Este título do FC Porto tem um responsáve­l máximo: Sérgio Conceição. É certo que quem olhasse para norte via todas as energias a actuar em conjunto e a remar para o mesmo lado, desde presidente, estrutura, equipa técnica, jogadores, comunicaçã­o e adeptos. Eram quatro anos à míngua, algo perfeitame­nte inaudito na história de mais de 30 anos de liderança de Pinto da Costa, que teve de imediato a honestidad­e de afirmar que o momento decisivo foi quando decidiu ligar para o treinador do Nantes, após o almoço que teve com o velho amigo de muitos anos, Luciano d’Onofrio. Não tenho dotes de vidente, mas cedo chamei a atenção, desde o primeiro artigo que aqui escrevi, para quem não contava com o FC Porto na luta, pelo campeonato por falta de reforços e pela falta de experiênci­a do técnico, estaria equivocado. A atitude mental de Sérgio Conceição enquanto jogador, que respirava a tempo inteiro a alma de campeão, capitaneou toda a sua filosofia que alimentou a crença de que o regresso às vitórias era possível.

Agora, écertinho como amanhã serumnovod­ia, que Sérgio Conceição matou, se ainda havia al- gum sinal de sobrevivên­cia, a memória do futebol pastoso de Julen Lopetegui, algum deslumbram­ento de Paulo Fonseca e a pouca ambição de Nuno Espírito Santo. Ganhou o objectivo máximo, recebe as verbas da Champions e valorizou uma série de jogadores deserdados por anteriores técnicos, Marega, Sérgio Oliveira, Ricardo Pereira, Abou- bakar e mesmo Herrera, que tão maltratado foi pela tribuna e crítica, e, não menos importante, colocou um travão em alguma arrogância que se vivia na Luz após a conquista do tetra.

Sempre que os seus comandos entravam em campo, era como se de gladiadore­s à imagem do seu timoneiro se tratas- sem. Tal como a rainha Daenerys da ‘Guerra dos Tronos’, a sussurrar ao ouvido dos seus 11 dragões: drakarys, vendo-os a voar para dizimar os adversário­s. Sérgio Conceição foi o pai dos dragões, uma armada de faca nos dentes que só via a baliza adversária e que tinha o engodo pelas vitórias. Venceu porque foi quem ganhou mais. Eu, ao contrário de outros, gosto de saudar os melhores. Parabéns Sérgio Conceição.

Termino comumanota­sobre o Mundialde snooker, do qual, a convite do Eurosport, tive o privilégio de comentar as duas sessões finais ao lado de Miguel Sancho, um dos melhores comentador­es da televisão portuguesa. Um evento espectacul­ar, que terminou com um choque de titãs entre dois dos melhores jogadores de sempre, dois quarentões, Mark Williams, o homem que esteve para abandonar o pano verde e agora é campeão, e John Higgins. Importante é o anúncio de Barry Hearn, o homem que tornou a modalidade uma poderosa indústria em cresciment­o, de que a World Snooker incluirá Portugal no ‘main tour’ durante quatro anos. As audiências e o alcance deste desporto são globais e o mercado da Grã-Bretanha e Ásia são as cerejas no topo do bolo. Turismo de Portugal e Turismo de Lisboa que estejam atentos ao retorno de notoriedad­e que o nosso país e a capital podem ganhar com a vinda dos magos do taco.

Texto escrito na antiga ortografia

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