BALNEÁRIO DEVASTADO
Bruno Fernandes despediu-se em pleno cenário de guerra: “Foi um prazer estar com vocês”
Os acontecimentos de ontem na Academia vão ter eco e repercussões difíceis de prever mas a imagemque fica é a de umbalneário devastado e sem condições anímicas para voltar ao trabalho. Um vídeo colocado a circular pouco depois dos incidentes mostrava um cenário de guerra dentro da cabina e vários jogadores com um ar de desnorte, na penumbra, rodeados de destruição, num piso manchado de sangue e coberto de equipamentos que estavam a ser preparados para o treino.
Foi nesse quadro apocalíptico que se ouviu um desabafo doloroso de Bruno Fernandes, o melhor jogador da época do Sporting. “Foi umprazer estar com vocês!”, disse o médio, de 23 anos, emjeito de despedida para os companheiros que o rodeavam. O internacional português, soube-se entretanto, deu instruções à família mais próxima para abandonar Lisboa e regressar ao Porto. A continuidade no Sporting parece, pois, quase impossível. É o principal ativo do Sporting e tinha uma cláusula de rescisão de 100 milhões de euros.
Danospatrimoniais
Não é, porém, o único com saída praticamente irreversível de Alvalade. A intenção é comum à esmagadora maioria dos jogadores, que se sentiram assustados e temem, agora, pela segurança das respetivas famílias. Aliás, nos curtos momentos de terror em que ficaram presos no balneário da Academia, receberam ameaças claras. Muitos suspeitavam que existissem outras ações combinadas e sentiram medo de voltar para casa. Entre as partidas do plantel que se desenham, além de Bruno Fernandes, estão Acuña e Battaglia, ambos pré-convocados para o Mundial e com um valor de mercado a rondar os 40 milhões de euros. A possibilidade foi noticiada na Argentina durante a tarde de ontem e confirmada por Record. Como Acuña e Battaglia, William, Patrício, Bas Dost, Coates ou Gelson Martins não devem permanecer no clube. Ativos que, juntos, poderiam representar um encaixe bem supe
ACUÑA E BATTAGLIA SÃO DOIS DOS JOGADORES QUE DEVEM DENUNCIAR O CONTRATO. A ATITUDE PODE SER QUASE GERAL
rior a 100 milhões de euros. O prejuízo moral é incalculável; o financeiro... também.
Boicote àTaça
A hipótese de uma rescisão unilateral coletiva está, de resto, sobre a mesa e pode ter fundamento. A equipa sente que não tem condições de segurança no próprio local de trabalho e alguns jogadores poderão, inclusive, rescindir de imediato, antes da final da Taça de Portugal.
O último jogo da época é, nesta altura, uma das grandes incógnitas do momento. Apesar do sucedido e de ter sido um dos agredidos, instantes após o ataque dos hooligans Jorge Jesus já pensava em como recuperar os jogadores para o Jamor. A verdade, porém, é que ontem não houve sequer treino e não há certeza de que ele possa ser realizado hoje. E com quem.
O boicote à Taça de Portugal não está posto de parte. Tudo dependerá dos desenvolvimentos das próximas horas. Emqualquer dos casos, a ausência de Bas Dost no Jamor é ga
rantida, em virtude dos ferimentos que o avançado sofreu na cabeça e nas pernas. O holandês não voltará a jogar pelo Sporting. Seguro, pelo menos até domingo, está Jorge Jesus. “Foi um dia triste e difícil para todos”, haveria de dizer Palhinha, já à noite, depois de prestar declarações no posto da GNR de Alcochete, como JJ e vários jogadores. *