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Aquelas 9 cadeiras colocadas na sala de imprensa de Alvalade, na sequência do anúncio de que o Conselho Directivo iria tomar uma posição relativamente a todas as notícias que estavam a gerar uma ideia de isolamento de Bruno de Carvalho em relação aos seus pares, com a demissão de muitos elementos dos órgãos sociais, eram um indício de que o presidente do Sporting estaria empenhado em evitar a sua queda. Quando Bruno de Carvalho entra na sala de imprensa com os sobreviventes do Conselho Directivo, do Conselho Fiscal e da SAD e esboça um sorriso num quadro de uma situação nunca vista em Alvalade e no futebol português, não restavam muitas dúvidas de que o presidente dos leões não iria demitir-se. Poucos minutos depois, a declaração inequívoca: “Não nos demitimos!”
Aformaescolhidaparaos ‘sobreviventes’ demonstrarem que se sentiam em condições de continuar em funções foi teatral e, convenhamos, ridícula. A teatralidade subjacente à verbalização das declarações escritas de Bruno de Carvalho, Fernando Carvalho, Carlos Vieira e Rui Caeiro correspondia a uma tentativa não encapuzada de não reconhecimento das agressões de que foi vítima o Sporting e os seus milhões de adeptos por quem teria, em tese, a obrigação de os honrar e dignificar. Foi horroroso o que se passou naquela Academia.
Jáo Presidente daRepública, Marcelo Rebelo de Sousa, havia falado em “vexame”. Já o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, tinha resumido a sua visão dos acontecimentos a um quadro de “miséria”. Já o presidente da AG do Sporting, Marta Soares, numa trajectória errática, voltava à posição entretanto corrigida de que “Bruno de Carvalho não tem condições para continuar a ser presidente”. Já o presidente da Holdimo, Álvaro Sobrinho, com 30% do capital social da SAD, havia comunicado a “perda de confiança na direcção”. Já José Maria Ricciardi, ex-membro do Conselho Leonino e personalidade com peso em diversos momentos da história do Sporting, confessara-se “envergonhado”. Já ‘o mundo do futebol’ manifestara-se contra a “vergonha” do que acontecera em Alcochete. Já inúmeras figuras do universo leonino haviam referido a sua indignação pela situação em que o presidente dos leões colocara o clube de Alva- ÚLTIMAPEÇA. São demasiados os indícios de que o desporto e o futebol em Portugal estão podres. Os indícios são de que vale tudo para se chegar à vitória. Esta alegada cultura de começar a preparar fora das quatro linhas aquilo que acontece dentro delas parece demasiado enraizada na bola indígena. Pelo que tem vindo a público parece indesmentível que há muitas movimentações nesse sentido e as investigações dir-nos-ão qual o impacto que essas e outras movimentações têm na adulteração da verdade desportiva.
Este é o momento de o país e o poder político fazerem de conta que está tudo bem. Este é o momento dos patrocinadores fazerem valer a sua força.
Este é o momento de o futebol impor uma limpeza. Banir quem tem por tarefa a tentativa de adulterar as regras. Este é o momento do Estado agir sobre as claques. A criação de uma autoridade nacional contra a violência só faz sentido se houver predisposição para actuar. Para fechar, sem ses nem mas, os espaços de promoção da violência. De obrigar os prevaricadores – em situações não comparáveis aos crimes perpetrados na Academia de Alcochete, estes demasiado graves – a apresentarem-se nas esquadras de polícia à hora dos espectáculos desportivos.
O futebol está podre. A simpatia clubística não pode continuar a fazer a defesa do indefensável. Este momento é decisivo para todos perceberem o que está aqui em jogo.
É demasiadamente grave o que se apresenta perante a nossa vista no quadro da violência associada ao fenómeno desportivo e os indícios que se apresentam em matéria de (alegada) corrupção desportiva são mesmo muito preocupantes.