Criador de estética e títulos
O Skakhtar Donetsk fala por ele, pelas suas convicções e pelo seu talento em operacionalizar uma ideia futebolística atrevida e segura; que estimula a festa mas está preparada para a guerra; que prefere a alegria mas está apta para sofrer. Paulo Fonseca tornou-se um dos treinadores mais apetecíveis da Europa, pelo que fez ao serviço de uma equipa ucraniana de topo, para a qual foi chamado na sequência de doze anos sob o comando de Mircea Lucescu. Com os princípios aperfeiçoados em Portugal, PF construiu uma verdadeira máquina trituradora, em cujas pontas brilham as luzes da vertigem e do sentido de baliza que revela em qualquer circunstância. O Shakhtar é uma equipa que pratica futebol de plasticidade deslumbrante mas não se perde em discussões estéreis; joga com notável sentido estético mas não o faz para satisfazer um conceito mas com o objetivo claro de vencer sempre e ser campeão.
Em dois anos, PF venceu duas ligas, duas Taças e uma Supertaça. Um domínio avassalador de uma equipa que se une à volta da bola e com ela procura atingir todos os fins. O seu grau de desenvolvimento é tão elevado que, em constante apelo à aventura, revela-se uma equipa equilibrada, que raramente é apanhada com falhas na organização. Tem um bem oleado processo defensivo e, para que nada falte, jogadores capazes de acrescentar qualidade individual ao jogo coletivo. A reação à perda é incrível e, por tudo isso, Pep Guardiola foi generoso nos elogios “a uma grande equipa europeia”. Para chegar a este ponto, PF confirmou ser um treinador de vistas largas, que pretende aproximar-se, pacien- temente, da perfeição. Para trás ficou a ligação ao FC Porto, selada em 2013, quando só tinha um ano ao mais alto nível. “Pensava que sabia tudo mas, afinal, não sabia nada”, reconheceu com humildade anos volvidos depois dessa experiência, que se seguiu ao feito notável de ter levado o Paços de Ferreira à Liga dos Campeões, mercê de um fabuloso 3º lugar na Liga 2012/13. Saiu do Dragão em março de 2014 e voltou onde foi feliz – uma gestão inteligente da carreira permitiu- lhe dar um passo atrás para poder dar três ou quatro em frente. No Sp. Braga ficou uma época, que terminou com a conquista da Taça de Portugal de 2015/16.
Aos 45 anos, PF está numa fase importante da carreira. Já atingiu uma grandeza indiscutível, traduzida em todos os parâmetros de avaliação de um treinador, e tem ainda muito para progredir. Mais ainda num clube especial, com condições financeiras excelentes e pressão relativa por parte dos adeptos, que se habituaram à excelência do futebol e dos resultados. Apesar de ter falhado no FC Porto, o apelo ao regresso a Portugal mantém-se. Até agora sempre recusado. *
AOS 45 ANOS, PF JÁ ATINGIU GRANDEZA INDISCUTÍVEL. E TEM AINDA MUITO PARA PROGREDIR