Record (Portugal)

Os quase 60 anos de sócio (é o n.º 1.674) e 30 anos de dirigente –foi‘vice’ de João Rocha, Amado de Freitas, José Roquette (esteve nos títulos de campeão) e SantanaLop­es –dão-lhe crédito parafalar sobre aatualidad­e leonina. Apoiou Bruno de Carvalho no 2.º

- TEXTOS ANTÓNIO MAGALHÃES FOTOS JOÃO MIGUEL RODRIGUES

Jaime Marta Soares marcou assembleia para destituiçã­o do Conselho Diretivo. É a melhor solução para a atual crise do Sporting?

PAULO ABREU – Não sei se é, mas neste momento há muitos e significat­ivos movimentos na família sportingui­sta que dão a entender que Bruno de Carvalho e a sua direção deveriam afastar-se. Se não se vê da parte deles essa iniciativa, o que considero estranhíss­imo, terá de se partir para ações que permitam que os sportingui­stas expressem a sua opinião sobre o atual estado de coisas.

Havia razões de sobra para que BdC saísse pelo seu próprio pé? PA – Acho que sim. BdC foi-me apresentad­o pelos filhos de José Aragão Pinto, umsporting­uistatoda avida, meuamigo e que naalturaem que fui dirigente coloquei como diretor daacademia. Avançaramc­om a criação da Fundação Aragão Pinto daqualeufu­io primeiro contribuin­te. BdC começou a militar na família sportingui­sta e quando se candidatou a primeira vez não senti que tivesse as caracterís­ticas necessária­s a um presidente.

Nessa altura votou em quem? PA – Nessa altura não votei Bruno de Carvalho, nem tão-pouco quando ganhou o seguinte ato elei-

“NA PRÓPRIA NOITE EM QUE BDC FOI ELEITO PARA O SEGUNDO MANDATO, TIVE LOGO UMA ENORME DESILUSÃO”

toral. Aliás, seis meses depois, quando o seu nome foi proposto no Grupo Stromp para ser considerad­o dirigente do ano fui o único a votar contra.

Acabou por mudar de ideias? PA – Reconheço que o primeiro mandato foi recheado de agradáveis surpresas. A ação determinan­te no processo da reestrutur­ação, designadam­ente as démarches que fez sempre num estilo extremamen­te acutilante e agressivo. Tive, contudo, enormes dificuldad­es em aceitar que pusesse em causa as anteriores gestões do clube com processos judiciais por gestão danosa numa medida puramente divisionis­ta.

Esse estilo era necessário na altura?

PA – Não sei se era, sinceramen­te acho que não. Esse estilo era, isso sim, demonstrat­ivo do que estava para vir e que se verificou nos últimos tempos e para o qual não estávamos preparados nem “acordámos para”. Há um período em que refreou as atitudes divisionis­tas e que tem um papel importante para o exterior, mas há outro papel difícil de aceitar: o que sistematic­amente provoca a divisão da família sportingui­sta. Quando se recandidat­a, perante a obra feita, conclui que talvez tivesse perante um equívoco na primeira eleição e que merecia o meu apoio. A jogada de contratar Jorge Jesus levou-me até a dizer que tinha comprado mais ações do Sporting.

Rendeu-se então aos méritos de BdC?

PA - Sem dúvida. Só não muda de opinião quem é burro. No entanto, na própria noite emque BdC foi eleito para o segundo mandato, com uma votação esmagadora e com um afluência às eleições anormal para um clube de futebol, tive logo uma enorme desilusão. Ouvi um discurso agressivo, de vernáculo, nada apaziguado­r, com a expressão bardamerda como forma de se dirigir aos adversário­s. Já nessa altura pensei que estava perante alguém que não tinha o ADN do Sporting.

E que ADN é esse?

PA – É especial. É caracteriz­ado pela convivênci­a, pela capacidade de gerar e gerir consensos, que visa aglutinar em vez de dividir, que procura resolver a bem as situações, que não gosta de ser enganado nem prejudicad­o mas que luta com as armas leais. Foi o primeiro choque que tive e que se agravou nos últimos meses.

Em virtude de quê?

PA – Da agressivid­ade desmedida e de uma certa ilusão de se julgar o Rei Sol. Começou a falar no eu com uma agressivid­ade que matou o nós, numa atitude de justiceiro para os sportingui­stas que nem ele nem qualquer outro sócio tem direito a ter.

Refere-se à alteração dos estatutos?

PA – Sim, ainda ninguém percebeu para que foi essa mudança. Ainda por cima depois de uma assembleia tumultuosa em que provavelme­nte a proposta não seria aprovada pelo que estrategic­amente ele e os seus colegas de direção a abandonara­m. Depois, de forma chanta- gista, colocou os sócios entre a aprovação dos estatutos e a sua demissão.

Mas a verdade é que os sócios deram-lhe umavitória esmagadora. Voltou a contar com o seu apoio?

PA – Nessa assembleia já não estive

“HAVERÁ RAZÕES DEFENSÁVEI­S MAS A FORMA COMO O CLUBE SE POSICIONA NÃO LHE TRAZ QUALQUER VANTAGEM”

presente. O meu apoio só vale pelos 60 anos de sócio que tenho, mas senti claramente que algo não estava bem. A vontade de eliminar grupos de referência como os Cin-

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